sábado, 25 de agosto de 2012

Eleições no Rio: o que é isso, companheiro?

Questionado se cortaria o ponto de grevistas, uma vez eleito, Marcelo Freixo (PSOL) responde: 'depende'


Reprodução
Freixo durante entrevista à Globo
A entrevista de Marcelo Freixo (candidato do PSOL à prefeitura do Rio) no RJTV da Rede Globo, no último dia 22, causou grande estranheza e preocupação nos movimentos sociais cariocas, principalmente entre aqueles lutadores e lutadoras que estão em greve neste momento e apoiam a sua candidatura.

O entrevistador Márcio Gomes não poupou esforços em jogar a candidatura de Freixo à esquerda, em uma clara tentativa de lhe colar um perfil de radicalidade e inviabilidade diante do eleitorado. Esforços em vãos de Márcio Gomes. O corajoso deputado não vacilou em responder categoricamente que terá pulso firme diante de possíveis greves em seu mandato como prefeito, como mostra o seguinte diálogo:

Márcio Gomes:
- Você como prefeito enfrentando uma greve em um serviço essencial, como é que vai se posicionar? Vai ter pulso firme?
Marcelo Freixo:
- Sim, claro!
Márcio Gomes:
- Vai cortar o ponto?
Marcelo Freixo:
- Depende, depende da situação. Depende do setor, depende da negociação, depende do que tiver acontecendo.

O candidato ignorou que foi justamente o golpe baixo e covarde do corte de ponto que a presidenta Dilma utilizou para tentar desmontar a forte greve do funcionalismo federal. Somente no setor da educação a adesão alcançou mais de 70 instituições. A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal também estão em greve e ampliaram seus movimentos para enfrentar essa medida autoritária do governo. IBGE, Receita, Anvisa, CNEN, Ancine, Anatel, ANTT, Incra, Arquivo Nacional engrossam a maior greve já enfrentada pelos governos do PT.

Sinceramente, não esperávamos esta postura de Freixo. A expectativa era justamente o contrário, ou seja, que Freixo utilizasse o espaço em horário nobre da rede Globo para fortalecer o justo e necessário movimento grevista. Quando o candidato do PSOL responde que “depende”, quer dizer que pode cortar o ponto ou não. “Depende” da situação. Então, nos responda deputado: em que situação é justo cortar o ponto dos trabalhadores que lutam por melhores salários?

Não esperamos que o candidato do PSOL, que tem atualmente 12% das intenções de voto, tenha posições revolucionárias ou fale de socialismo na TV. Mas esperávamos ao menos que ele defendesse um direito elementar assegurado pela limitada Constituição Federal.

Em seguida, Marcelo completa: “A possibilidade de greve com a gente é muito menor do que com qualquer outro” . Essa declaração é no mínimo pretensiosa. Vale lembrar que Lula em 2003, praticamente recém-empossado, com todo seu carisma e gozando de amplas expectativas dos trabalhadores, enfrentou uma poderosa greve contra a reforma da Pprevidência. Podemos buscar exemplos mais distantes, como as greves operárias e os cordões industriais no Chile de Allende na década de 70. Enfim, a popularidade de Freixo, apesar de alta, não pode ser comparada nem mesmo com a de Brizola na década de 80 e 90, quando os educadores foram à greve inúmeras vezes e questionaram os prestigiados CIEP’s. Marcelo Freixo não tem bola de cristal e não pode prever que em sua suposta prefeitura não terá greves. Tampouco é Freixo quem decide isso, mas sim os trabalhadores.

Na verdade, o que está por trás do “depende”, é uma tentativa insistente de conquistar a confiança da burguesia carioca.

“A gente não faz alianças espúrias para chegar ao poder”, disparou o candidato do PSOL. Não foi bem isso que a própria militância aguerrida do PSOL assistiu nos meses que antecederam a inscrição das candidaturas. Marcelo Freixo buscou apoio do PV de Gabeira e Zequinha Sarney. O mesmo PV que de verde não tem nada e recebe financiamento de empresas que são inimigas do meio ambiente como a Natura, Aracruz Papel e Celulose, a madeireira Madelongo e a mineradora Anglo Gold.

Em seguida, foi a vez de conversar com Romário do PSB, partido da oligarquia latifundiária pernambucana, que usa indevidamente o “socialista” no nome. Mas foi apenas na sua última tentativa, que Marcelo obteve êxito em sua busca insaciável de ampliar o arco de alianças (à direita): já se vê pela cidade placas de Andréa Gouvêa Vieira (PSDB) em apoio à Freixo. Seguramente, a militância do PSOL e os movimentos sociais estariam muito mais à vontade se Freixo tivesse aceitado a proposta do PSTU em conforma uma Frente de Esquerda.

Outro momento marcante da entrevista foi quando Freixo reprovou a atuação da deputada estadual Janira Rocha (PSOL) na greve dos bombeiros em fevereiro deste ano: “Não acho que esse deve ser o papel de um parlamentar” – em referência ao apoio e a articulação da deputada com o cabo Benevenuto Daciolo, expulso da corporação por lutar por dignidade e melhores salários. Mais uma vez Freixo decepcionou. Poderia utilizar o espaço da Globo para denunciar que Cabral demitiu covardemente 13 pais de família e pedir a reincorporação dos bombeiros. Esta sim seria, em nossa opinião, a postura de um deputado de luta. Janira Rocha acertou em cheio naquele momento em se postar junto à greve da segurança pública. De que lado estava Marcelo na greve dos bombeiros em 2012?

Os militantes socialistas podem e devem ficar muito preocupados com as declarações de Marcelo Freixo. Mas talvez, o mais preocupante seja o silêncio absoluto das correntes internas do PSOL. Sabemos que há uma enorme diversidade no interior deste partido, correntes de diferentes matizes e tradições. Inclusive, há correntes que se reivindicam trotskistas e herdeiras da IV Internacional. Não pode ser que continuem caladas diante do ocorrido e ajam como torcedores, que se contorcem de nervosismo a cada momento em que Freixo marca um gol contra.

O caminho da institucionalidade, das amplas alianças com os “setores honestos da burguesia” e da “ética na política” são um atalho para o desastre. É um idealismo platônico acreditar que a República pode ser governada por homens e mulheres competentes e honestos, que guiarão o povo e todas as suas classes pacificamente à dias melhores.

O PT destruiu uma geração de quadros forjados no calor da luta de classes na década de 80, que passaram a vida tentando eleger Lula, e o fizeram. Hoje estão muito bem acomodados nos palácios dos podres poderes e a realidade do país fala por si.

A esquerda socialista não tem o direito de repetir essa história, e Marcelo Freixo tem uma grande responsabilidade em mãos.


Retirado do Site do PSTU

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