sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nova Greve geral pára a Grécia contra cortes nos salários e previdência

Trabalhadores saíram novamente às ruas nesse dia 20 de maio contra o pacote de cortes imposto pelo governo, UE e FMI


Manifestantes enfrentam política durante protestos
Os números são desencontrados. Alguns afirmam ser esta a quinta greve geral vivida pela Grécia só neste ano. Outros, dizem ser a quarta, ou a sexta. O fato é que o país parou novamente nesse dia 20 de maio, em mais um dia de greve e mobilizações contra o pacote de cortes e arrocho imposto pelo governo. A última greve geral ocorrera em 5 de maio e levou centenas de milhares às ruas.

Os principais serviços públicos, como transportes, hospitais e escolas permaneceram todo o dia fechados. Pontos turísticos como a Acrópole ficaram fechados. Apenas o transporte público funcionou no início do dia, mas para levar os manifestantes aos locais das mobilizações. E de novo, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o conjunto de ataques do governo, como a reforma da previdência que eleva a idade de aposentadoria e o corte e congelamento nos salários do funcionalismo público e aposentados.

Os gregos se mobilizaram aos gritos de “tirem as mãos de nossas pensões”, “eles nos roubaram, assim que não pagaremos” ou “fora os abutres do FMI”. Assim como fizeram no dia 5, os manifestantes cercaram o prédio do parlamento. “Desobedeça, desobedeça, fora do parlamento todo o dia”, diziam, ao mesmo tempo em que xingavam os políticos de “ladrões”.




Escalada

A repressão desencadeada na jornada de mobilizações do dia 5 não foi o suficiente para impedir o novo dia de greve geral. Na ocasião, a polícia e o governo do “socialista” George Papandreou tentaram utilizar três mortes ocorridas durante as manifestações para criminalizar os protestos. As mobilizações, porém, só aumentam a cada dia, assim como a indignação do povo grego contra o pacote de cortes

Para se ter uma ideia da disposição de luta do povo grego, basta afirmar que as duas principais centrais sindicais que convocam as paralisações, a Adedy e a GSEE, que reúnem respectivamente os trabalhadores públicos e privados, são dirigidas por setores próximos ao Pasouk, partido do governo. Mas estão sendo empurrados para as mobilizações pela pressão dos trabalhadores. Grande parte das mobilizações são espontâneas, impulsionadas pelo rechaço do povo grego à política aos cortes impostos pelo governo, sob a pressão do FMI e da União Europeia.

O presidente Papandreou, que visitava o Líbano no dia, declarou cinicamente à imprensa que simpatizava com muitos dos manifestantes. “O povo grego está compreensivelmente expressando seu ponto de vista sobre a crise econômica”, disse. O presidente é uma das principais vozes a favor dos cortes, cumprindo a risca todas as determinações do FMI. “Mas também sabemos que precisamos seguir com nossas mudanças para fazer do país uma economia viável e competitiva”.

O que ele chama de “mudanças” é um ataque brutal aos salários, previdência e direitos socais, e “competitivo”, por sua vez, nada mais é que o sinônimo para um mercado de trabalho com salários baixíssimos, que seja atraente aos investidores internacionais.


Os olhos do mundo sobre a Grécia

A Grécia vem se tornando um exemplo aos trabalhadores de todo o mundo. A resistência contra a política de cortes já dura há meses e vem se intensificando com a aprovação do pacote de “austeridade”, contrapartida do país à “ajuda” equivalente a 140 bilhões de dólares da UE e FMI.

A luta na Grécia também se espalha pelo resto da Europa em crise. No próximo dia 2 de junho é a vez de a Espanha parar em uma greve geral contra o seu pacote de cortes. Se a política dos governos da Europa é praticamente a mesma para enfrentar a crise, os trabalhadores também respondem a esses ataques com uma mesma voz: a luta.


Retirado do Site do PSTU

terça-feira, 18 de maio de 2010

Declaração da LIT-QI: Solidariedade com a classe operária e o povo grego!

Leia a declaração da LIT-QI sobre a crise na Grécia e as mobilizações contra os ataques à classe trabalhadora



Manifestante participa de mobiizações contra pacote do governo
No dia 5 de maio a classe trabalhadora e o povo grego voltaram a paralisar completamente o país contra o brutal plano de ajuste da União Européia e do FMI, aplicado pelo governo “socialista” do Pasok. Era a quarta greve geral desde que, em dezembro passado, se desencadeou a crise da dívida grega. Marchas multitudinárias tomaram conta de Atenas e todas as cidades gregas. Dezenas de milhares de manifestantes cercaram e atacaram o parlamento grego, a grande instituição da democracia burguesa, convertido em câmara de preservação dos ditames das grandes potências da União Européia. Os choques com a polícia foram generalizados. Uma nova convocatória da greve geral está em marcha para o dia 20 de maio.


“Querem que voltemos a ser pobres”

O plano de ajuste é draconiano: cortes do emprego público; redução de 25% do salário dos funcionários públicos; redução das pensões em 20%; aumento da idade de aposentadoria; grandes cortes nos serviços públicos; graves retrocessos nos direitos trabalhistas, como a abolição dos convênios coletivos e a liberalização e barateamento das demissões; fortíssima alta de impostos (o IVA sobe de 19 para 23% e a gasolina, o álcool e o tabaco 10%, enquanto se reduzem os impostos aos empresários); privatizações de tudo o que se possa privatizar.

Os trabalhadores gregos têm definido com precisão o objetivo do plano: “querem nos converter em pobres”, “devolver-nos aos anos 50”. É um plano para sangrar selvagemente o povo grego para que os banqueiros alemães, franceses e gregos e outros abutres financeiros sigam enriquecendo com o grande negócio da dívida pública. Para isso, converteram a Grécia em um protetorado econômico sem soberania nacional.


A UE à beira do abismo

A crise grega e seu efeito de “contágio” tem sido o detonador de uma crise geral que tem colocado a Zona do Euro e a UE à beira do abismo e ameaça com uma nova crise financeira mundial, porém mais devastadora que a que se desencadeou após a quebra do Leman Brothers em 2008. Em uma tentativa desesperada de salvamento, a UE aprovou um megaplano europeu de “resgate”, dotado de 750 bilhões de euros, destinado a empréstimos de emergência aos países do Euro em risco de moratória. O FMI (onde os EUA tem voz predominante) vai pagar um terço desses empréstimos. Foi acordado também que o Banco Central Europeu compre dívida pública e privada dos países em perigo e mantenha todas as facilidades de crédito aos bancos. Ao mesmo tempo, os governos da Alemanha e França impuseram um estrito sistema de controle que, ao estilo da Grécia, transforma os países “periféricos” em verdadeiros protetorados econômicos.

A chave do plano de salvamento da UE não é outra que impor um retrocesso histórico à classe trabalhadora europeia. Por isso foram estabelecidos condições drásticas para pertencer à Eurozona e à EU e medidas draconianas para receber os fundos de “resgate”, segundo o modelo grego. Indigna escutar que são empréstimos para “ajudar a Grécia”, quando o povo trabalhador grego não vai ver um só euro dessa “ajuda” mas, pelo contrário, apenas sanções e sofrimentos.

Grécia prenuncia os planos de ajuste para toda a Europa, começando pelos países mais débeis como Portugal, o estado espanhol, Irlanda ou Itália. Os governos espanhol e português já anunciaram um drástico pacote de endurecimento de seus planos de choque. Esses planos estão fadados, além disso, a aprofundar o retrocesso econômico e acabará gerando mais déficit público e mais dívida... até que o país, sangrado e exausto, não possa pagar e se veja obrigado a declarar a suspensão dos pagamentos.

Fora UE! Por uma Europa dos trabalhadores e dos povos”
Grécia deixou em evidência que não há saída dentro da UE nem no marco do respeito às bases do capitalismo. A UE se mostrou como expressão escancarada de toda a Europa do Capital e como um aborto anti-democrática irreformável. A profundidade da crise grega, a catástrofe que representa ao povo grego, só pode ser enfrentada ao se declarar o não reconhecimento da dívida pública, rompendo com o Euro e com a UE e tomando medidas drásticas e urgentes para reorganizar a economia a serviço da grande maioria: expropriando os bancos, nacionalizando as empresas estratégicas, repartindo o trabalho, estabelecendo o monopólio do comércio exterior e buscando a solidariedade de classe dos trabalhadores europeus, na luta comum por uma Europa dos trabalhadores e dos povos, por um Estados Unidos da Europa.


“Somos todos trabalhadores gregos”

O conflito grego é a primeira grande prova da força entre o capital financeiro e a classe trabalhadora europeia, que tem tido a sorte de que esta primeira grande prova se desenvolve na Grécia, o país com a classe trabalhadora mais combativa do continente e onde a burocracia sindical se encontra com mais dificuldades para controlar um movimento operário cuja base tem um importante peso da esquerda classista e combativa.

Os trabalhadores gregos são um exemplo magnífico de combatividade e coragem para toda a classe operária europeia. Eles apontam o caminho a seguir e merecem, como parte mais avançada que são, a mais ampla solidariedade de classe. Todos temos que responder ao chamado dos trabalhadores gregos: “Povos da Europa, levantem-se”. A luta da Grécia é nossa, de todos. Apoiar Grécia e unir forças contra os planos de ajuste é a grande tarefa dos trabalhadores.


Organizar a resistência unificada na Europa

Diferentes organizações sindicais europeias firmaram um manifesto intitulado “Somos todos trabalhadores gregos”, em que afirmam: “Para salvar seu sistema capitalista, os empresários e os acionistas se organizaram internacionalmente: o movimento sindical deve atuar atravessando fronteiras para impor outro sistema diferente (...) Esperamos avançar na instauração de uma rede sindical alternativa na Europa, aberta a todas as forças que queiram lutar contra o capitalismo e o liberalismo. Desenvolvamos e coordenemos as lutas sociais e construamos a resistência comum em toda a Europa! Frente a crise a greve geral é necessária! Nós a queremos construir!”

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional
Maio de 2010