quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tropa de Elite 2: o inimigo é o capitalismo

O filme “Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro”, dirigido por José Padilha e muito bem protagonizado por Wagner Moura, é o mais novo sucesso de bilheteria do cinema brasileiro. Até agora, já foi visto por quase 6,6 milhões de espectadores. O filme foi ajudado pelo sucesso de seu antecessor e pela sede dos espectadores de assistir novamente aos incorruptíveis “caveiras” em sua cruzada contra o tráfico de drogas.

Mas aqueles que foram ao cinema para assistir a um filme de ação hollywoodiano acabaram surpreendidos. Não que faltem tiroteios e outras cenas de ação, o filme está repleto delas. No entanto, seu desfecho leva o espectador a refletir sobre a fonte de toda a miséria e violência: como diz o próprio ex-capitão (agora, coronel) Nascimento, o tal “sistema”.


Coronel Nascimento e “o sistema”

A trama mostra como parte da cúpula corrupta da Polícia Militar (velha conhecida do primeiro filme) vai deixando de receber propina do crime organizado para se tornar parte dele. O Bope, que na ficção é incorruptível, vai deixando de ser o herói da história e passa a ser apenas uma arma dos políticos para multiplicar as milícias.

O filme se aproxima ainda mais da realidade. Os políticos são corruptos e só se preocupam com duas coisas: dinheiro e votos. A milícia controla as comunidades, ou seja, os currais eleitorais que favorecem os políticos. A polícia divide-se entre integrar as milícias ou viver de propina. A segurança pública deixa de ser uma luta entre policiais e bandidos e passa a ser um negócio extremamente rentável.

O desenrolar do filme mostra o desenvolvimento das milícias e suas ligações umbilicais com o Estado. Enquanto as relações promíscuas entre o crime e o governo vão se tornando mais claras, as mais profundas convicções do coronel Nascimento vão ficando abaladas. Ele enxerga como anos de dedicação à luta contra o tráfico nada adiantaram, e que cada grupo criminoso que ele eliminou foi sempre substituído por outro mais adequado ao sistema. A cada experiência, o coronel vai amadurecendo a ideia de que sua luta é contra o “sistema”, e não contra tal ou qual grupo criminoso.

Coronel Nascimento oferece um surpreendente depoimento, onde pede o fim da polícia militar, acusa o parlamento de “ficha suja” e brada contra o “sistema”. O policial conclui que “entra governo e sai governo, o sistema continua invencível, articulando-se em novas frentes e submetendo-se a novos interesses”, enquanto uma visão panorâmica do Congresso Nacional é exibida na telona.


Ética na polícia e ética na política resolvem?

O filme nos leva a refletir inevitavelmente sobre quais seriam as soluções para a violência nos centros urbanos. Uma delas, com a qual muitos irão concordar, seria pôr fim à corrupção no seio da polícia.

Mas será possível eliminar a corrupção na polícia? Ou ainda, será que a existência de uma polícia realmente incorruptível poderia nos trazer um mundo sem crime organizado? O próprio filme indica que não. Os “caveiras”, mesmo com a capacidade fictícia de não se deixarem corromper, fracassam de forma retumbante.

O personagem Diogo Fraga (alter-ego do deputado estadual Marcelo Freixo – PSOL/RJ) amplia as dimensões dessa indagação. Trata-se de um deputado ético, com boas intenções, que trava uma luta contra a corrupção na Assembleia Legislativa. Mas será possível, mediante a luta parlamentar, afastar da política os “fichas-sujas”? Novamente o filme indica que não, ao mostrar o isolamento de Fraga diante dos corruptos.

A impotência dos dois heróis do filme não se dá à toa. O sistema contra o qual os dois se batem é o capitalista, que divide o mundo entre ricos e pobres e condena bilhões à miséria absoluta para sustentar os lucros de alguns poucos. Por trás do político e do policial corrupto existem interesses maiores, que vão da indústria de armas até os especuladores imobiliários.


O voto não pode mudar o sistema

Assim, da mesma forma que uma “tropa de elite” ética não pode resolver o problema da violência, a existência de um punhado de parlamentares éticos não pode resolver os problemas do sistema capitalista. O projeto de reformar o capitalismo por dentro só pode levar ao fracasso, seja pela cooptação, seja pela derrota pura e simples, ou porque, ao fortalecer a ilusão eleitoral, fortalece-se o sistema de conjunto.

Desviar as energias da vanguarda dos movimentos sociais para reformar o sistema poderia até produzir novos e trágicos heróis de filmes, mas não resolveria os problemas das pessoas reais. Ainda mais quando setores da esquerda, pautados por cálculos eleitorais, “esquecem” reivindicações históricas do movimento em troca de outras mais palatáveis para o eleitorado, como os circos das CPIs ou a capitulação frente às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) – principal programa de segurança do governador Sérgio Cabral (PMDB), que consiste em ocupar e manter a polícia instalada dentro das favelas.

As medidas que enfrentam o problema da violência são acúmulos do movimento socialista. O fim de todas as polícias, formando uma polícia civil única, com direito a sindicalização e comando eleito em assembleias populares nos bairros, controlada pelas comunidades; a legalização das drogas; a estatização de toda a indústria de armas e outras medidas sociais, principalmente o aumento de salários e a criação de empregos para todos, já seriam suficientes para desmantelar o crime organizado. Pensar em medidas que combatam a corrupção no parlamento também é possível: fim do sigilo bancário, financiamento público de campanha, mandatos revogáveis, fim de todos os privilégios, etc.

Mas é preciso entender que mesmo as menores medidas só serão conquistadas com a luta dos trabalhadores e dos movimentos sociais, e não pelas mãos de um ou outro herói. Derrotar o sistema capitalista é a única solução, que só pode ser obtida de forma coletiva, com a luta do povo e da classe trabalhadora, como já dizia um verso de um antigo funk dos morros cariocas: “o povo tem a força, só precisa descobrir, se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.”


Retirado do Site do PSTU

Ataques a gays mostram urgência da criminalização à homofobia

Jovens de classe média alta espancam homossexuais e ficam soltos


Uma das avenidas mais conhecidas do país foi palco para cenas de barbárie na manhã desse domingo, dia 14 de novembro. Em plena Avenida Paulista, um grupo de cinco jovens espancou brutalmente quatro pessoas que caminhavam pela calçada.

O grupo atacou primeiro dois jovens que caminhavam, por volta das 6h30, próximo à Estação Brigadeiro do metrô. Um deles conseguiu fugir, mas o outro foi espancado com chutes, socos e pontapés. Testemunhas asseguraram que, durante o espancamento, os agressores desferiam insultos homofóbicos. A vítima foi socorrida e hospitalizada.

Após essa primeira agressão, o grupo atacou ainda um outro rapaz na mesma Avenida Paulista, desta vez com bastões de lâmpada fluorescente. Um dos jovens arrebentou o bastão na cabeça da vítima, que também teve de ser hospitalizada. O espancamento só parou com a chegada de seguranças de lojas das redondezas. As testemunhas chamaram a polícia, que deteve os agressores.

Já na delegacia, uma outra vítima apareceu para prestar queixa contra uma agressão ocorrida na mesma região. Ela reconheceu dois dos cinco agressores, fazendo subir para quatro o número de vítimas do grupo de jovens espancadores.


Homofobia e impunidade

Os agressores são jovens de classe média alta, estudantes de escolas particulares e moradores de uma região nobre da cidade. Um deles, Jonathan Lauton Domingues, com 19 anos, é o único maior de idade. O restante tem entre 16 e 17 anos.

Se a agressão em si, de caráter nitidamente homofóbico, já é um escândalo, a liberação dos delinqüentes apenas poucas horas após serem detidos, chega a ser revoltante. Os menores haviam sidos encaminhados à Fundação Casa (antiga FEBEM), mas foram liberados no mesmo dia. O maior de idade havia sido encaminhado à Casa de Detenção, mas liberado no dia seguinte.

A condescendência aos criminosos parece não ter limites. A mãe de um dos adolescentes presos chegou a classificar os espancamentos como uma mera “infantilidade”. O advogado de um deles tentou ainda amenizar os ataques à imprensa: “Eles podem não ser vítimas, mas não são algozes assim”, teve a coragem de declarar o advogado Orlando Machado Júnior.

A linha de defesa adotada pelo advogado é outro exemplo dantesco de homofobia. Segundo o defensor, os jovens teriam sido “flertados” pelas vítimas na rua, o que teria motivado o início de uma “briga”. O argumento, além de inverídico, já que diversas testemunhas confirmam que o que houve foi um ato de agressão gratuito, parte do princípio de que, diante de um “flerte” de um homossexual, a violência é justificada ou minimizada.

Como se não bastasse esse caso, no mesmo dia no Rio de Janeiro um jovem homossexual foi baleado na barriga após a Parada Gay. Segundo o jovem, ele e um amigo foram parados por militares uniformizados, que os insultaram e, por fim, alvejaram o rapaz.


Um país homofóbico

Esses dois casos estarrecedores confirmam a pecha do Brasil de um dos países mais violentos e intolerantes contra os homossexuais. Ocorrem ainda poucas semanas após as eleições presidenciais, que contaram com um avanço da propaganda conservadora, machista e homofóbica, que fez tanto Dilma quanto Serra declararem-se contrários ao aborto e ao casamento gay. Propaganda que contou com cenas bizarras, como os outdoors do pastor Silas Malafaia espalhados pelo Rio com os dizeres “Deus fez o homem e a mulher”.

Os espancamentos refletem ainda o caráter de classe da homofobia. Embora ela atinja homossexuais de todas as classes, os mais pobres são os que mais sofrem. E os ricos, como ficou claro com a impunidade aos delinqüentes de classe média alta, ficam livres para atacarem novamente.

As agressões mostraram a urgência da luta pela imediata criminalização da homofobia, que deve ser travada juntamente à batalha por todos os direitos aos LGBT’s, numa perspectiva de classe e socialista, pois não há capitalismo sem homofobia.


Retirado do Site do PSTU

Sindicalista é agredida em posto de saúde do RN

A dirigente sindical Simone Dutra, que disputou este ano pelo PSTU as eleições ao governo do RN, foi intimidada e chamada de “vagabunda” pelo gerente de uma Unidade de Saúde no município de São Gonçalo do Amarante; a agressão ocorreu quando a sindicalista realizava uma reunião com trabalhadores do local.


No último dia 11, a enfermeira e sindicalista Simone Dutra foi intimidada e chamada de “vagabunda” pelo gerente da Unidade de Saúde do bairro de Jardim Lola, Jean Queiroz, em São Gonçalo do Amarante/RN. A diretora do Sindsaúde/RN no município, que disputou este ano as eleições ao governo do Estado pelo PSTU, sofreu a agressão enquanto tentava realizar uma reunião com trabalhadores da unidade. O objetivo do abuso cometido pelo gerente era impedir a reunião do sindicato com os servidores. Logo após a intimidação, Simone Dutra foi até a delegacia de polícia de São Gonçalo, onde registrou um boletim de ocorrência por ameaça e difamação.

A sindicalista tinha ido à Unidade de Saúde de Jardim Lola, na qual trabalhou durante cinco anos, para dar informações sobre ações judiciais dos trabalhadores. Assim que entrou no prédio, Simone Dutra passou a ser seguida pelo gerente Jean Queiroz. Enquanto a diretora do Sindsaúde percorria o posto convocando os servidores para uma reunião, Jean Queiroz não parou de segui-la em nenhum momento. Na tentativa de vigiar os trabalhadores e impedir o trabalho do sindicato, o gerente da unidade ainda resolveu entrar na reunião. Revoltada com a intimidação, Simone Dutra decidiu registrar a ameaça e fotografou o gerente vigiando a reunião. Foi então que Jean Queiroz reagiu de forma violenta. “Ele veio pra cima de mim gritando para que eu não o fotografasse. Eu disse que não tinha medo dele e que continuaria meu trabalho sindical. Ele continuou a gritar e a me intimidar, com o nariz quase encostado no meu”, contou a diretora do sindicato e militante do PSTU.

Sem se deixar intimidar, Simone Dutra continuou a reunião com os servidores, mesmo com a presença do gerente da Unidade de Saúde na sala. Entretanto, ele voltou a agredir a sindicalista. Em meio a pacientes e servidores, Jean Queiroz gritou palavras de baixo calão: “Você é uma vagabunda! Sua vagabunda! É isso que você é”. Logo após a agressão, a diretora do sindicato se retirou do local e registrou um boletim de ocorrência na delegacia de polícia de São Gonçalo. Uma audiência foi marcada para o dia 15 de dezembro, às 14 horas.


Histórico de intimidação

Esta não foi a primeira vez que a diretora do Sindsaúde de São Gonçalo do Amarante sofreu algum tipo de intimidação enquanto realizava suas atividades sindicais. Em outra reunião com os servidores na unidade de Jardim Lola, Simone Dutra foi chamada de “imbecil”. Há mais de seis meses, o gerente Jean Queiroz vem adotando a postura de tentar intimidar a direção do sindicato e de vigiar as reuniões dos trabalhadores. Quando questionado sobre as razões de seguir os sindicalistas dentro da Unidade de Saúde, Jean Queiroz chegou a dar a seguinte resposta: “Eu estou trabalhando para o prefeito”.

Muitas denúncias de assédio moral também recaem sobre o gerente da unidade de Jardim Lola. “As funcionárias já relataram vários casos. As técnicas de enfermagem, por exemplo, são obrigadas a ficar na farmácia da unidade, acumulando responsabilidades que não são delas. Elas também reclamam da agressividade do gerente, que constantemente evita falar com as funcionárias. O sindicato já fez várias denúncias ao Ministério Público Estadual e ao Ministério Público Federal, mas até agora nada foi feito”, disse Simone Dutra.

Para a diretora do Sindsaúde no município, as ações dos gerentes das unidades de saúde refletem a postura da Prefeitura. “A situação em São Gonçalo é muito séria. O governo do prefeito Jaime Calado é muito duro, não dialoga com o sindicato e ainda respalda todas as posturas truculentas dos seus cargos comissionados, como no caso das atitudes dos gerentes que refletem os modos da Prefeitura.”, destacou a sindicalista. “A atitude do gerente da unidade de saúde não é só um ataque a um dirigente sindical, é também uma violência contra uma mulher”, concluiu.

Um ato público está sendo organizado em protesto contra a violência sofrida por Simone Dutra. O sindicato também irá tomar todas as medidas para que o agressor seja punido.


Retirado do Site do PSTU