sábado, 9 de outubro de 2010

No vale-tudo eleitoral, PT abandona as mulheres

Para garantir a vitória no segundo turno, partido renega posições históricas, como a defesa do aborto e do casamento gay


Há algum tempo que o Partido dos Trabalhadores abandonou a luta contra a opressão de mulheres, negros e homossexuais. A defesa já soava como uma mera saudação à bandeira, já que o governo não teve políticas efetivas para estes setores. Mas agora, para vencer as eleições, o partido abandona oficialmente a luta contra a opressão.

Dilma Rousseff vai fazer uma ofensiva religiosa, e o PT discute a retirada da legalização do aborto do programa. O partido avalia que não venceu a eleição no primeiro turno devido ao voto evangélico e conservador, que teria migrado para a candidatura Marina (PV).

O secretário de Comunicação do PT disse que “foi um erro ser pautado internamente por algumas feministas”. Com isso, a decisão do PT poderá ser um marco da ruptura definitiva com o feminismo, que cumpriu um papel importantíssimo na história deste partido. E deixa órfãs as organizações feministas governistas, como a Marcha Mundial de Mulheres.


Rasgando o programa

Dias antes das eleições, o PT já havia percebido a influência que poderiam ter as posições religiosas. No dia 29 de setembro, a campanha reuniu, em Brasília, padres e pastores com o objetivo de ganhar o apoio cristão. Agora, o PT busca conter o que chama de “boataria” contra sua candidatura.

Dilma colocou-se contra até mesmo a um plebiscito sobre a descriminalização do aborto. “Plebiscito divide o país e vai todo mundo perder, seja qual for o resultado”, afirmou. Ela garantiu aos católicos e evangélicos que não irá ampliar a cobertura do Estado em casos de aborto.

Muda muita coisa? Não, apenas oficializa uma posição que já era aplicada. O governo não fez absolutamente nada para descriminalizar e legalizar o aborto. Tampouco garantiu atendimento às vítimas de procedimentos mal sucedidos. Ao contrário, desviou recursos da saúde para pagar juros das dívidas.

Em 2008, o PT foi parte da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e Contra o Aborto, que instituiu a CPI do aborto. Esta comissão, até hoje, só serviu para incriminar as mulheres. Continuando a série de ataques, em 2009, o governo brasileiro assinou um acordo com o Vaticano em que sinalizou a intenção de investir em ações contrárias à legalização do aborto. Em 2010, o governo enterrou a possibilidade de debate sobre o tema: retirou do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) o apoio à descriminação do aborto e as cláusulas que permitiam ampliar os casos de aborto legal.


Matando mulheres

A proibição por si só já constitui um ataque à liberdade que a mulher deveria ter sobre seu próprio corpo. As consequências desta arbitrariedade levam a uma situação desoladora. No Brasil, são realizados, em média, 1,4 milhão de abortos por ano. A morte por aborto é a terceira causa de mortalidade materna no Brasil, e as complicações são a quinta causa de internação de mulheres nos serviços públicos. Os dados são da Sempre Viva Organização Feminista.

Evidentemente, as mulheres mais atingidas são as trabalhadoras e pobres, que não podem pagar para fazer cirurgias em clínicas de qualidade, com a segurança necessária. É justamente nas regiões mais pobres do país, Norte e Nordeste, onde é registrado o maior número de mortes. Para as mulheres da burguesia, na prática, o aborto já é permitido.

Segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Medicina Social (IMS), de 2007, “a criminalização do aborto não reduziu a sua incidência, mas sim tem contribuído para aumentar a sua prática em condição de risco com impactos graves para a saúde e a vida das mulheres”. O aborto é um problema de democracia, de saúde e social.

Para padres e pastores, Dilma disse ser a favor da vida. Na prática, ela entrega à morte centenas de milhares de mulheres trabalhadoras e pobres. Respeitamos imensamente as crenças individuais, mas não hesitamos em dizer: neste tema, as instituições religiosas são contra a vida. Sob o argumento de defesa da vida, deixam milhões de mulheres pobres e trabalhadoras morrerem em função de abortos mal feitos.


Um Estado laico?

O que pode parecer apenas uma disputa eleitoral representa um retrocesso que terá implicações gravíssimas sobre a consciência dos brasileiros. Subordinar o Estado a preceitos religiosos é voltar à Idade Média. Só falta queimar as mulheres que abortam numa fogueira.

A principal recomendação conclusiva do estudo do IMS foi justamente “a busca de soluções eficazes no âmbito da saúde pública, sem interferência de dogmas religiosos”. O governo Lula é responsável direto por este retrocesso. O “respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade do Estado” foi uma das cláusulas excluídas do PNDH 3.

Quanto a Serra, este nunca teve compromisso com as trabalhadoras. Antes mesmo de a campanha começar, em maio de 2010, afirmou: “Eu não sou a favor do aborto. Não sou a favor de mexer na legislação”.

Já Marina cresceu nas eleições, em parte por ser contra a legalização do aborto. E é difícil acreditar até mesmo em sua proposta de plebiscito sobre o tema. Marina historicamente condena o aborto e esta proposta serve como forma de escapar do debate.


Mulheres e mulheres

Não basta ser mulher. Aliás, quem não lembra de Marta Suplicy retirando de seu programa a união civil homossexual para tentar se eleger prefeita de São Paulo? Ou sua campanha, num gesto de desespero, questionar a opção sexual do adversário, Kassab? A campanha foi um divisor de águas e marcou um giro do PT, que veio se completar com a dobradinha para o Senado com Netinho, agressor de mulheres, e agora, com o triste abandono da defesa do aborto e do casamento gay.

A luta feminista é necessariamente de classe. Às mulheres burguesas, tudo é permitido, tudo se compra. Nós, mulheres do PSTU, acreditamos na força das mulheres trabalhadoras unidas, independente de governo e patrões. Apoiamos e construímos o Movimento Mulheres em Luta.

Nós nos orgulhamos de ter em nosso programa a defesa da legalização e descriminalização do aborto, defendida por nosso candidato à Presidência, Zé Maria, e por todos os outros candidatos no primeiro turno.

Não mudamos de lado. Vamos continuar defendendo o mesmo programa depois das eleições. Para a defesa dos direitos das mulheres, negros e homossexuais, nem Serra, nem Dilma. O voto contra o conservadorismo, no segundo turno, é o voto nulo.


Retirado do Site do PSTU

Togas e TV contra a democracia

Uma breve análise da atuação do TSE nas eleições de 2010


Estas breves linhas são escritas na penumbra entre a última sessão de julgamento do TSE, depois de passar dois meses em Brasília e, antes do dia da eleição.

Mesmo enquanto advogado nunca tive ilusões na Justiça Eleitoral, que é parte da superestrutura da Justiça Burguesa. Tal “justiça” não reflete a correlação de forças da sociedade. Ainda que em algumas ocasiões reflita sobre ela, o seu centro é, sem dúvidas, a defesa dos interesses da burguesia.

O que nos impressiona é o fato de que, mesmo sob esse prisma, esperávamos ao menos as garantias mínimas das conquistas democráticas, indispensáveis à democracia burguesa num processo eleitoral. Ainda mais nessas eleições particularmente.

Está eleição foi propagandeada pela mídia como sendo marcada pela “Ficha Limpa”. Mas na verdade é marcada por uma profunda perseguição aos pequenos partidos e manutenção do “status quo” dos grandes partidos que sustentam o regime.

Sob a lógica aristotélica de que “na democracia temos que tratar com desigualdade os desiguais”, crimes contra a democracia foram cometidos.

O filósofo grego, pelo menos nesta diretriz, pensava que os que tinham menos teriam que receber mais, em uma verdadeira democracia, para se equipararem àqueles que têm mais. Ou seja, os despossuídos teriam que ser agraciados com uma fatia maior de prerrogativas para acabar com a desigualdade que os afastava dos possuidores e poderem competir de igual para igual.

Os Tribunais Superiores brasileiros inverteram esta lógica ao dar “mais a quem já tem muito e menos a quem tem pouco”. Para eles os grandes partidos e os candidatos majoritários “são notícia” interessam mais e, portanto, têm que aparecer mais nos meios de comunicação, do que os pequenos, afinal “ninguém se interessa por eles”.

Esta dicotomia do regime ficou clara quando o STF terminou sua sessão em impasse e indecisão, com a votação empatada, com relação ao julgamento do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, não o impugnando.

Um exemplo emblemático foi o menos comentado. O então deputado Roriz que foi condenado por abuso de poder econômico nas eleições de 2006, mas não perdeu o mandato de deputado. Sua “condenação” era a três anos de inelegibilidade, mas ocorre que as eleições são a cada quatro anos. Pela “Ficha Limpa” ele não poderia se candidatar por 8 anos, mas o TSE entendeu que ele teria já cumprido sua “pena”. Ora, ele não sofreu pena nenhuma, ele abusou do poder econômico, mas não perdeu o mandato, e agora concorre à reeleição.

Outros casos em que chegou haver até mesmo a condenação pelo TSE em processos anteriores, como Ronaldo Lessa (AL), Roseana Sarney (MA) e Jackson Lagos (MA)foram liberados da “ficha limpa”. A Lei da Ficha Limpa não limpa tão limpo quanto diz a TV.

Por outro lado, dezenas de candidaturas foram impugnadas pelos motivos mínimos e os mais burocráticos possíveis.

Por exemplo: por não se ter pago a multa de R$3,50 pelo não comparecimento às urnas na eleição anterior. Ainda que essa multa fosse paga depois.

Ou por que a justiça eleitoral diz que o candidato não é filiado ao partido, quando isso é assunto interno do partido, “interna corporis”.

Com isso foi banalizada a impugnação de candidaturas dos pequenos partidos fundamentalmente com uma política mais socializante, enquanto conhecidos magnatas corruptos e corruptores impunemente puderam concorrer às eleições.


Garantindo a injustiça

Se houve impasse e indecisão com relação às candidaturas “fichas sujas”, indecisão não bastou ao Tribunal para impedir que os partidos sem representação parlamentar não participassem dos debates televisivos. Sendo que nunca a lei proibiu, ao contrário, sempre facultou tal presença.

Decisão e casuísmo não faltaram quando, contra a resolução formada por eles, votaram que estes candidatos não poderiam, sequer, discutir as regras dos referidos debates.

Na Justiça Eleitoral, a divisão de Poderes foi suprimida. Na prática, o TSE edita resoluções que valem como se fossem Leis. Pior ainda, quando convém respondem a Consultas, e simplesmente mudam o entendimento que tinham tido antes. Ou seja, as típicas funções de legislar, interpretar a lei e julgar, todas se concentram nesta Corte. Os símbolos falam muito, usando suas tradicionais togas, e com todas as simbologias de Poder, o Judiciário fica cada vez mais distante da população.

O Ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, deixou isso muito latente no julgamento da Ficha Limpa, quando falou que não atenderia a nenhum clamor popular.


Desigualdade na TV

Dentro de uma estrutura que só favorece a quem já está no poder, a burguesia força cada vez mais um bipartidarismo. O Judiciário torna-se totalmente omisso quanto aos abusos da imprensa. A Lei distribui o tempo no horário eleitoral já de forma injusta.

Torna-se impressionante a distribuição do tempo de cobertura por parte das emissoras de TV. Nesta cobertura, Marina teve o percentual de exposição simplesmente triplicado, e Serra ganhou quase 10% a mais no tempo. E o PSTU simplesmente foi censurado. Isto configurou um abuso do poder econômico, e o TSE mesmo provocado não respondeu.

O caso mais absurdo foi o julgamento de direito de resposta do último programa do PSTU. O TSE impugnou vários candidatos deste partido por perda de prazo em entrega de documentos ou em prestação de contas. Atrasos de dois minutos não foram tolerados. Mas o Ministro que julgou o direito de resposta do PSDB contra o PSTU, e tinha 72 horas para responder, atrasou por semanas sua decisão, e nas vésperas da eleição, deu este direito ao PSDB. De modo que não houve mais tempo hábil para que a decisão fosse ao plenário.

O PSTU foi censurado por dizer que PSDB de Serra apoiou o corrupto Arruda. Como se não fosse público que os tucanos pretendiam tê-lo como candidato a vice-presidente.

Não há neutralidade na justiça burguesa e na justiça eleitoral, servem à sua classe. Por isso os órgãos do judiciário têm que ter controle popular.
Para que haja uma democracia, as minorias e oposições têm que ter a liberdade de manifestação, isto é indispensável no debate político e eleitoral, e inclusive na cobertura jornalística. Só teremos democracia nas eleições quando houver liberdade das informações e o controle dos trabalhadores sobre a Justiça. Sem isto a democracia é uma formalidade hipócrita.


Retirado do Site do PSTU

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma campanha operária que remou contra a maré

Sem concessões e enfrentando a censura da grande imprensa, candidatura de Zé Maria foi a única a bater de frente com Lula


Mais do que nunca, pode-se dizer que o PSTU remou contra a maré. Contra a ideia dominante de que o Brasil está melhorando cada vez mais, a campanha Zé Maria mostrou um país diferente, mais próximo à realidade de milhões de trabalhadores, que convivem cotidianamente com o aumento do ritmo de trabalho e da exploração, com os baixos salários e os serviços públicos precarizados.

O perfil da campanha reforçou inclusive o veto da grande mídia ao PSTU. Se normalmente o partido, assim como os movimentos sociais e populares, já é escondido e estigmatizado na grande imprensa, nessas eleições a candidatura de Zé Maria sofreu uma verdadeira censura velada dos grandes veículos de comunicação.

Da mesma forma, a candidatura do PSTU foi a única a bater de frente com o governo Lula, denunciando seu caráter neoliberal, num momento em que até mesmo os candidatos de esquerda se mostravam intimidados com a alta popularidade do presidente.

No Brasil real mostrado nos parcos 55 segundos do horário eleitoral, estavam também as lutas dos trabalhadores. O PSTU utilizou parte de seu tempo para divulgar as mobilizações dos bancários, metalúrgicos, petroleiros, professores e a dos funcionários dos Correios. A luta dos movimentos sociais e populares também esteve representada, com a divulgação do plebiscito da Terra e da jornada de luta que teve a participação do MTST.


Contra a homofobia e as opressões

Enquanto Dilma, Serra e Marina disputavam, na reta final, o voto conservador, atacando medidas como a descriminalização do aborto, Zé Maria defendeu a campanha inteira o apoio incondicional às mulheres e ao direito ao aborto. Da mesma maneira, foi o único candidato que defendeu explicitamente o casamento gay, enquanto os demais presidenciáveis, inclusive da esquerda, esquivavam-se da questão.

O programa do PSTU sobre o combate às opressões, denunciando o racismo, o assassinato de mulheres e defendendo o casamento gay, causou polêmica ao levar o beijo gay ao horário nobre da TV. “Bem que Glória Perez tentou, mas a primazia de fazer a Globo carioca exbir um beijo gay no horário nobre será parar sempre do PSTU”, chegou a escrever o colunista de O Globo, Xexéo.


Uma campanha operária

A maior diferença entre a campanha de Zé Maria, porém, pôde ser vista em seu caráter operário. Uma campanha que ocorreu, sobretudo, nas bases das categorias, como entre os operários metalúrgicos e da construção civil, professores, funcionalismo público e os estudantes.

Foi o contraponto do PSTU à barreira erguida pela grande imprensa. Além da campanha na base, Zé Maria, junto às candidaturas de Ivan Pinheiro (PCB) e Rui Pimenta (PCO), participou do debate dos candidatos da esquerda socialista mediado pelo jornal Brasil de Fato. Mais que um debate, foi um importante ato contra o veto da grande mídia às candidaturas da esquerda.


Um balanço positivo

Os 84.500 votos em Zé Maria não foram muitos, expressão de uma conjuntura desfavorável e uma esquerda fragmentada, além do boicote midiático. Mas o PSTU ateve importância fundamental nessas eleições, contribuindo para a elevação do nível de consciência dos trabalhadores. E, com certeza, o partido sai delas maior e mais consolidado do que entrou.

  • Veja os resultados do PSTU


  • Retirado do Site do PSTU

    quarta-feira, 6 de outubro de 2010

    Nota de agradecimento



    Durante as eleições enfrentamos duras batalhas para levar aos trabalhadores um programa socialista, de ruptura com o capitalismo e suas instituições antidemocráticas, que pudesse inverter a lógica atual da sociedade e garantir que as riquezas produzidas sejam controladas pelos trabalhadores.

    Enfrentamos as candidaturas do PSDB, DEM, PSB, PV, PT, PCdoB, etc., todas financiadas por grandes empresários e, por isso, comprometidas com a manutenção de tudo que aí está. Sofremos um forte boicote da imprensa (inclusive a “pública”, como é o caso da TVU), que escondeu nossas candidaturas e nos excluiu de todos os debates na TV. Lutamos ainda contra a Justiça Eleitoral, que revelou sem nenhum pudor o seu caráter em defesa da classe dominante, ao tentar impugnar as candidaturas do PSTU por questões burocráticas ao mesmo tempo em que deixava candidatos da burguesia corruptos concorrerem livremente.

    Diante desse cenário, em que as candidaturas dos trabalhadores não têm nenhum espaço e no qual temos clareza de que quem vence as eleições é o poder econômico, o PSTU se orgulha de ter feito uma campanha que é muito mais modesta, mas que se volta para os interesses da classe trabalhadora, da juventude e da população pobre do RN. Ao contrário dos outros, não temos milhões para gastar em uma eleição e nem pretendemos isso, pois nossas campanhas são financiadas pelos militantes e trabalhadores que concordam com nossas idéias. É isso que garante a nossa independência política, diferentemente das candidaturas, inclusive as ditas de esquerda, que são financiadas por empresários, latifundiários, banqueiros, e, depois de eleitos governam para quem bancou suas campanhas.

    É nesse sentido que gostaria de agradecer a tod@s os 1.144 votos recebidos, uma votação expressiva diante das condições dadas e de todo o caráter das eleições neste falso regime democrático. Agradeço também, em nome do PSTU a todos os votos dados e a confiança depositada nos nossos demais candidatos (Zé Maria, Simone Dutra, Dário Barbosa, Alexandre Guedes, Bira Queiroz, Luciana Lima e Rosália Fernandes) nessas eleições.

    Infelizmente os votos que recebemos não foram suficientes para eleger nenhum candidato. Esta seria uma vitória importante, pois a classe trabalhadora poderia contar com representantes que denunciariam a podridão desse regime, que apresentariam proposições que se enfrentam com a ordem capitalista, e, principalmente, que apoiariam incondicionalmente todas as lutas dos trabalhadores. Mas também temos clareza de que através das eleições, a vida dos trabalhadores não vai mudar. A sociedade ainda continuará a mesma, com os grandes empresários lucrando, os trabalhadores sendo explorados e a burguesia controlando o Estado.

    Você, que depositou o seu voto no PSTU, votou “Contra Burguês”, votou nesse projeto, nesse programa, nas lutas, nos trabalhadores, na batalha cotidiana por uma sociedade sem exploradores nem explorados, você votou no socialismo.

    Mas, diferentemente da maioria dos outros partidos, não queremos somente o seu voto. Queremos você na luta. Terminadas as eleições, o PSTU seguirá construindo as greves, as manifestações, as ocupações, enfim, todas as lutas em defesa de melhores condições de vida (salário, direitos, moradia, saúde, educação, trabalho, terra, etc.) para os trabalhadores e de uma sociedade socialista, pois é só a luta que pode mudar a vida.

    Por isso, agradeço a todos que votaram no nosso partido e também aos que não votaram por inúmeros motivos – inclusive por enxergar que era quase impossível nos eleger – mas que simpatizam com a nossa coerência e respeitam a nossa luta por uma sociedade diferente. Agradeço e convido-os a conhecer nossas idéias e a construir junto conosco uma sociedade justa, igualitária e socialista.

    Um forte abraço socialista,

    Juary Chagas


    Veja o resultado de nossa votação aqui

    Como lutar contra a direita nas eleições? Votando nulo!

    No governo FHC, os bancos lucraram R$ 35 bilhões, uma soma fantástica. Mas no governo Lula, os lucros dos bancos cresceram ainda mais, chegando a R$ 170 bilhões.


    O governo Lula teve uma vitória parcial no primeiro turno das eleições de 2010. Como nas eleições de Lula em 2002 e 2006, derrotou a oposição de direita, mas teve de amargar um inesperado segundo turno entre Dilma e Serra.

    Lula ampliou a maioria que já tinha na Câmara dos Deputados, passando de 380 para 402 deputados, deixando o bloco PSDB-DEM com 118 deputados. Ganhou pela primeira vez a maioria também no Senado, passando de 39 para 59 senadores. Por último, mas não menos importante, ainda ampliou o número de governos de Estado no primeiro turno, passando a governar mais estados de peso como o Rio Grande do Sul.

    Mesmo assim, não houve grandes comemorações no campo governista. A inesperada passagem para o segundo turno mostrou que sua candidata perdeu 7% dos votos em dez dias. Marina Silva, que capitalizou a maior parte do desgaste de Dilma, sai fortalecida e com peso importante nesse segundo turno.

    A oposição de direita se fortaleceu nessa reta final. Tem o apoio majoritário e maciço das empresas de TV e jornais. Mesmo tendo sofrido uma derrota eleitoral, ganhou um alento com a passagem para o segundo turno e a vitória em São Paulo e Paraná.

    O resultado do segundo turno está completamente aberto. Vai depender de um grande número de fatores como a posição de Marina Silva, a descoberta de novos fatos dos escândalos de corrupção, o comportamento nos debates etc. Mesmo assim, a popularidade – cerca de 80% – do governo Lula torna a hipótese de vitória de Dilma o mais provável resultado do segundo turno.


    Crescimento de Marina

    A candidatura de Marina foi concebida inicialmente como um instrumento auxiliar da campanha de Serra, cujo objetivo era dividir o voto feminino e petista de Dilma. Marina esteve apagada em boa parte da campanha, não se diferenciando em nada das campanhas majoritárias e espremida num patamar de 8 a 9%. Só cresceu a partir do desgaste de Dilma com as denúncias de tráfico de influência. Capitalizou a queda parcial da petista num eleitorado que resistia a seguir o PSDB, com componentes de esquerda e direita.

    Marina ocupou uma parte do espaço que foi de Heloísa Helena em 2006 com o discurso de ética na política. Mas uma candidata do PV, um partido que tem em sua direção Zequinha Sarney, falando em ética, é ridículo. O PV está presente em todo tipo de governo estadual, completamente apegado às verbas do Estado.

    Marina cresceu também a partir de uma manobra de direita: a campanha realizada por setores evangélicos mostrando que Dilma seria favorável ao aborto.

    Isso teve grande impacto em setores populares que não tinham sido afetados pelas denúncias de corrupção e tráfico de influência do PT. Marina Silva saiu em defesa clara de uma posição reacionária contra o aborto e questionando Dilma. A petista ficou na defensiva e disse que também era contra o aborto.

    Agora Marina terá de decidir o apoio a Serra ou a Dilma. Pode também se manter numa semineutralidade, liberando o voto. De uma forma ou de outra, surge como uma força ascendente das eleições, mais uma arma nas mãos da burguesia.

    A falsa polarização entre dois projetos semelhantes (Dilma e Serra) foi rompida nas eleições, com os quase 20% dos votos em Marina. No entanto, trata-se de outra falsa opção porque, em todas as questões fundamentais, como no plano econômico e na relação com o imperialismo, Marina expressou total acordo com o PT e PSDB.


    Quem é a direita?

    Governo, PT, PCdoB e CUT farão uma enorme campanha pelo voto em Dilma, argumentando que é necessário evitar a volta da direita. Nós também somos contra a volta do PSDB-DEM ao governo.

    Durante a campanha eleitoral, o PSTU foi duramente atacado pelo PSDB. Por duas vezes tentaram tirar nosso programa de TV do ar. Na primeira vez, porque mostramos como FHC tratava os aposentados e os chamou de vagabundos. Conseguimos manter nosso programa nessa vez, mas não na segunda.

    Quando Serra atacava Dilma ligando a petista à corrupção, mostramos em nosso programa que Serra também esteve ligado ao governo Arruda, do Distrito Federal. O PSDB conseguiu tirar nosso programa final do ar.

    Não queremos que a oposição de direita retorne. O governo FHC é lembrado pelos trabalhadores pelas privatizações e ataques aos trabalhadores. Serra seria uma continuação piorada de FHC por conta da crise internacional que se avizinha.

    É necessário lutar contra a direita, mas isso não significa votar em Dilma. Muitas vezes os termos “esquerda” e “direita” são bastante imprecisos. Hoje essa indefinição é tão ampla que inclui na “esquerda” a socialdemocracia europeia que administra o capitalismo há décadas na Europa. Ou ainda o PSB no Brasil que apresentou como candidato ao governo de São Paulo o presidente da Fiesp.

    Os marxistas definem a localização das posições políticas a partir da classe social representada. Aí a confusão desaparece. Para nós, os representantes da “direita” são os defensores da grande burguesia e do imperialismo. E como estão a grande burguesia e o imperialismo nessas eleições?

    Os banqueiros estão financiando as duas campanhas, e é provável que estejam dando mais dinheiro para Dilma que para Serra. Eles têm todas as razões para confiar em ambos. Durante os dois governos FHC, os bancos lucraram R$ 35 bilhões, uma soma fantástica. No entanto, nos dois governos Lula, os lucros dos bancos cresceram ainda mais, chegando a R$ 170 bilhões. Não por acaso, num dos jantares de apoio a Dilma estava presente o banqueiro Safra, uma das maiores fortunas do país.

    As grandes empresas, como um todo, quadruplicaram seus lucros no governo Lula. Este é o motivo pelo qual, no início de setembro, as empresas já tinham doado R$ 39,5 milhões para a campanha de Dilma e R$ 26 milhões para a de Serra.

    É verdade que a maioria das grandes empresas de comunicação, incluindo TVs e jornais, apoiam Serra. Isso possibilita ao governo uma imagem de vítima perante a burguesia. No entanto, Lula e Dilma têm a seu lado pesos pesados como a Vale, Eike Batista e inúmeros outros empresários.

    O apoio dos governos imperialistas também é uma referência importante para identificar quem representa a grande burguesia nas eleições. É indiscutível que todos eles estão muito tranquilos com as eleições no país, porque sabem que seus interesses estarão garantidos com PT ou PSDB. E também é inegável que Lula conta com uma enorme simpatia entre esses governos. Não é por acaso que conseguiu a realização da Copa e da Olimpíada no país, o que está sendo muito usado na campanha eleitoral.

    Por último, podemos ter como referência a posição dos políticos da direita tradicional, que sempre representaram a burguesia no país. Obviamente o PSDB e o DEM são partes importantes dessa representação política. Mas se pode dizer a mesma coisa de Sarney, Collor, Maluf, Jader Barbalho que apóiam Dilma.


    Voto nulo no segundo turno

    Na verdade, temos dois representantes da grande burguesia e da direita nesse segundo turno. Dilma é apoiada pelo PT, pela CUT e por uma parte da esquerda do país, por expressar a colaboração de classes entre a grande burguesia (que mandou no governo Lula assim como no de FHC) e os trabalhadores. Essa é a grande confusão política existente hoje entre os trabalhadores. Não ajudaremos a ampliar essa confusão.

    Cada voto dado em Dilma ou em Serra ampliará a força do novo governo eleito para atacar os trabalhadores. Não se pode esquecer a crise econômica internacional que se avizinha. Não é por acaso que tanto Dilma quanto Serra já manifestaram que vão implementar uma nova reforma da Previdência assim que eleitos.

    Cada voto nulo nesse segundo turno significará menos força para o governo eleito. Foi impossível para a luta dos trabalhadores nessa conjuntura romper a falsa polarização eleitoral entre as duas candidaturas. Mas é necessário expressar nossa rejeição às duas alternativas patronais em disputa. Não serão eleitos em nosso nome.


    Retirado do Site do PSTU