sábado, 14 de maio de 2011

Os dados do Censo e a luta pela construção de uma consciência racial

Reconhecimento da negritude é um passo fundamental no combate ao racismo e suas conseqüências


Assim que os primeiros dados do Censo 2010 foram divulgados, a mídia foi tomada por manchetes destacando que, pela primeira vez desde que se iniciaram os censos demográficos no Brasil, em 1872, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que a população autodeclarada branca corresponde a menos de 50% da população brasileira.

Segundo o levantamento, enquanto 47,7% da população se declararam “branca”; 43,1% se definiram como “parda” e 7,3% como “preta”. Ou seja, apenas a soma de “pretos” e “pardos” (50,4%) já compõe uma maioria “não-branca”, índice que fica um pouco mais elevado ao lembrarmos que os que se declararam “amarelos” e “indígena” foram, respectivamente, 1,1% e 0,4% da população.

Em números absolutos, entre os pouco mais de 190 milhões de brasileiros, temos hoje cerca de 82,2 milhões que se definem como “pardos”; 14,5 milhões como negros; 2 milhões como amarelos e pouco mais de 800 mil como indígenas. Os que se declaram brancos são 91 milhões, ou seja, cerca de 5,7 milhões a menos que a soma da população afrodescendente.

O aspecto mais alardeado pela grande imprensa foi o fato de que, comparado ao resultado do Censo anterior (veja tabela), os dados indicam que, nos últimos dez anos, a queda no número daqueles que se declaram brancos foi acompanhada por um aumento dos que se definem como “pardos”.

Essa tendência já vinha sendo apontada desde o início dos anos 2000, tanto pelo movimento negro quanto pelas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, PNAD. Além disso, há décadas o movimento negro critica a utilização do termo “pardo” nas pesquisas e considera como “negro” a soma dos que aparecem sob as equivocadas categorias utilizadas pelo IBGE, “preto” e “pardo”.


É evidente que estes números indicam que há em curso um processo de mudança na identidade e consciência raciais dos brasileiros. O que uma simples leitura das tabelas não permite, contudo, é analisar a profundidade destas mudanças, seus significados e, principalmente suas conseqüências sociais e políticas.

Muitos foram os analistas e setores do movimento negro que se apressaram em concluir que os números são resultados das ações do governo Lula e, principalmente, da existência de programas que incentivam a “afirmação racial”, como o ProUni e os sistemas cotas de várias universidades públicas.

Mas o que estes números indicam é que ainda é preciso muita luta pela construção de uma consciência de racial neste país. E isto, como ensinaram líderes negros como Steve Biko e Malcolm X, é um passo fundamental no combate ao racismo e suas nefastas conseqüências.


A negação da negritude

A principal contradição dos números é a que se encontra num dado que, geralmente, é minimizado nas análises burguesas e governamentais: a porcentagem dos que se declaram negros é de ridículos 7,3%.

Como pode ser visto no quadro, isto significou um aumento pífio em relação ao Censo de 2000, quando apenas 6,21% da população não se esquivaram de se identificar plenamente como afrodescendente, o que, dentro das equivocadas categorias usadas pelo IBGE, significaria dizer “preto”.

Exatamente por isto podemos afirmar que tanto a constatação de que apenas 14,5 milhões de brasileiros se identificam como negros, quanto o aumento de apenas 1,1% deste setor nos últimos dez anos revelam, acima de tudo, uma enorme distorção da realidade e, principalmente, da consciência. Algo que fica escancarado, por exemplo, no caso da Bahia, um estado que se orgulha, com razão, de ser guardião da tradição afro-brasileira: em 2009, pouco mais de 13% dos baianos se identificaram como “preto”; no ano passado, este índice subiu para 17,1% da população (algo em torno de 2,3 milhões).

É correto que, para todos nós do movimento negro, este número tem que ser somado aos 82,2 milhões que se declararam “pardos”. Contudo, é evidente que o fato do movimento considerar os “pardos” como negros não significa que os e homens e mulheres que definiram desta forma têm a mesma consciência.

E, por isso mesmo, antes de encararmos esta contradição, o mais correto seria se perguntar o porquê de, num país com o nosso histórico, há tão poucas pessoas que se identificam como “negras”, enquanto um número crescente se refugia numa categoria tão “problemática” quanto “pardo”.

Até mesmo os aspectos mais lamentáveis da nossa história servem como prova inconteste de que aqui sempre houve uma predominância de negros e negras e seus descendentes. Algo que sequer precisaria ser “legitimado” por um censo. Afinal, não poderia ser outro o malfadado resultado do fato do Brasil ter servido como destino para o maior número de pessoas seqüestradas da África e, ainda, ter sido o último do mundo a estancar o tráfico negreiro e abolir a escravidão.

O único saldo “positivo” que poderíamos tirar desta tragédia histórica seria exatamente o fato de termos orgulhos de sermos herdeiros de um povo que sobreviveu, apesar de tanto sofrimento. De termos orgulho de sermos “negros”. Algo que seria fundamental para que pudéssemos fazer justiça aos nossos antepassados, destruindo o racismo que tem marcado seus descendentes.


Pardo: a cor da contradição

A maioria dos analistas preferiu se deter na hipótese mais “positiva”, celebrando o fato de que, em dez anos, houve um aumento de 16,9 milhões de brasileiros que já assumem a mestiçagem como parte de sua herança racial, já que, em 2000, os “pardos” correspondiam a 38,45% da população (cerca de 65 milhões) e, em 2010, este grupo subiu para 43,1% (pouco mais de 82 milhões).

Contudo, por mais simpática que esta hipótese seja, ela não nos ajuda a encarar o debate necessário para um verdadeiro combate ao racismo. O termo “pardo” em si é bastante problemático e o simples fato de que ele ainda seja usado por pesquisas realizadas por governos pretensamente identificados ao combate ao racismo, como se dizem Lula e Dilma, é um escândalo.

O fato de o movimento negro há décadas não considerar “pardo” como uma categoria racial tem a ver principalmente com a compreensão, corretíssima (e facilmente comprovada pelas ações policiais) de que, parodiando um famoso ditado, no Brasil, no fim das contas (e, na porta do banco, na fila do desemprego e para efeito de pagamento dos piores salários, etc, etc), todos pardos são negros.

Mas não é só isto. O próprio termo está contaminado de significados que reforçam a ideologia racista. Basta lembrar que a origem da palavra está associada aos leopardos, os “leões manchados”, como os povos antigos identificavam os animais. E já nesta época a palavra referia-se às idéias de “mácula” e “mancha”. Característica que foi reforçada no Brasil Colonial, quando o termo passou a ser utilizado para se referir a algo “sujo”, “manchado”.

E, daí, foi um pulo até que a palavra fosse utilizada para aqueles que resultaram de relações nas quais brancos deixaram-se “macular” e “sujar” pelas peles negras.

Por estas e outras é necessário muito esforço para enxergar algo de totalmente positivo na autodefinição, principalmente porque sabemos que, devido à ação da própria burguesia, a grande maioria dos descendentes de negros que se identificaram desta forma tem visão completamente distorcida de sua identidade racial.


Todos os pardos são negros. E negra é a cor da liberdade

Por fim, também vale dizer que não é correto tentar interpretar os resultados do Censo como fruto uma questão de simples “auto-estima”. Para nós, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU e militantes do Movimento Quilombo Raça e Classe, a verdadeira “auto-estima” só será demonstrada quando conseguirmos conquistar todos para a idéia de que “todos os pardos são negros”. Algo que consideramos como parte fundamental do combate de “raça e classe” que tem que ser travado contra o sistema que criou esta mesma categoria.

Primeiro, porque definir-se como negro, numa sociedade como a nossa, já é uma forma de rebeldia contra a ideologia dominante. Segundo, e ainda mais importante, assumir a “negritude” é um elemento fundamental para se compreender a íntima relação que a opressão racial tem com a exploração capitalista.

Há décadas as elites dominantes, e agora seus aliados do PT e do PCdoB, têm se utilizado da categoria “pardo” para mascarar que os mais miseráveis entre os miseráveis são “negros”. E são “negros” não só por sua herança étnica ou por terem um tom de pele um pouco mais escuro que a média.

São “negros”, primeiro, diante dos olhos das elites, das forças policiais, dos skinheads e fascistas de todas as tonalidades (de Bolsonaro aos fundamentalistas cristãos), pelos empregadores na hora da seleção e, também, pela mídia que nos exclui de suas páginas e telas. Ou seja, por mais que os que se definem como “pardos” procurem, consciente ou inconscientemente, negar sua própria identidade racial, é exatamente por serem vistos como “negros” que eles têm sua vida marcada pela opressão e pela exploração.

Afinal, não pode ser uma coincidência que seja exatamente nas regiões onde se concentram a enorme maioria de negros e “pardos” que se verifiquem os piores índices sociais. Apenas como exemplo, vale citar alguns dados revelados por uma pesquisa do próprio IBGE, em base ao PNAD, em 2009.

O Maranhão que, ao lado da Bahia, é um dos estados com maior concentração de afrodescedentes apresenta alguns dos índices mais lamentáveis em relação às condições de vida. A taxa de mortalidade infantil (número de crianças mortas no primeiro ano de vida, em mil nascidas vivas), por exemplo, ficou em 36,5 em 2009, a segunda mais alta do país, ficando logo atrás de outro estado “pardo”, Alagoas, onde, para cada mil crianças nascidas vivas, 46,4 morrem antes do primeiro ano. O terceiro colocado também é um estado de forte presença negra, Pernambuco, com taxa de 35,7.

Já em relação ao analfabetismo, naquela pesquisa, os quatro estados com piores índices também são conhecidos por sua concentração de “pardos”. Em primeiro lugar está Alagoas, onde 24,6% da população com mais de 15 anos não sabem ler ou escrever. Depois vêm o Piauí (23,4%), a Paraíba (21,6%) e o Maranhão (19,1%). Todos eles muitíssimo acima da média nacional (cerca de 10%).

Perceber esta relação é fundamental, mas não é tudo. Para nós, a necessidade de convencer cada um dos “pardos” sobre sua negritude tem uma importância ainda maior. É parte fundamental da luta pela consciência para engajá-los no combate contra esta exploração que também se alimenta do racismo.

O fato de que uma maioria do país, hoje, já se identifique como “não-branco” apesar de todos os esforços da elite racista não pode, em hipótese alguma, ser menosprezado. Mas, também, não é para ser supervalorizado e sim tomado como uma contradição que só pode ser superada na luta contra a ideologia e o sistema que, ainda hoje, distorcem a realidade racial deste país.

O que precisamos e queremos, pois, são “negros” que se orgulhem do verdadeiro significado deste termo em nossa história: ter o orgulho de ser herdeiro de milhões tiveram suas vidas ceifadas ou lutaram até a morte para conquistarem a liberdade e os direitos que lhes foram negados exatamente por serem negros. Ter orgulho de fazer parte da história de gente “negra”, como Zumbi, João Cândido, Malcolm X e Steve Biko; Dandara, Luiza Mahin ou Ângela Davis.


Retirado do Site do PSTU

Dia 18 de maio: exigir a criminalização da homofobia

No próximo dia 18 de maio ocorrerá em Brasília a segunda Marcha Nacional Contra a Homofobia. O tema central da marcha é a exigência de aprovação da lei que criminaliza a homofobia (PLC-122). Após o recente reconhecimento das uniões homoafetivas pelo poder judiciário o movimento está muito mais fortalecido para exigir de Dilma e da base governista a aprovação da lei. A CSP-Conlutas, através de seu Setorial GLBT, vai marcar presença nesta marcha com uma coluna classista e de esquerda, que irá cobrar da presidente Dilma uma posição e denunciar o fato de que em 8 anos de governo petista nenhuma lei saiu do papel.


O que é a marcha?

A Marcha foi convocada no ano passado como resultado do descontentamento de diversos setores do movimento gay com o rumo que as paradas do orgulho homossexual tomaram nos últimos anos, de carnavais despolitizados. Além disso, a marcha exigia do governo Lula de que os projetos tão amplamente alardeados (Brasil Sem Homofobia dentre outros) saíssem do papel e deixassem de servir para demagogia. A semana escolhida para a marcha foi decidida em função do dia 17 de maio, data em que a homossexualidade deixou de ser considerada uma patologia pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Dilma Roussef, antes mesmo de assumir seu mandato, selou um compromisso com setores religiosos fundamentalistas de que não aprovaria políticas favoráveis aos homossexuais ou às mulheres como o casamento civil e a discriminalização do aborto (Carta ao Povo de Deus, lançada no segundo turno das eleições presidenciais do ano passado).


Violência homofóbica

O Brasil é recordista em violência contra homossexuais. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), os assassinatos de LGBTs aumentaram 31,3% em 2010, em relação ao ano anterior, com 260 casos, ante 198 em 2009. Além disso, a violência de gangues neofascistas pelas grandes capitais tem crescido exponencialmente, à exemplo dos ataques em São Paulo. Recentemente, um companheiro do PSTU e do Setorial GLBT, Guilherme, foi agredido por uma dessas gangues. Porém, amparado pelo movimento, o companheiro levou o caso adiante e transformou a agressão que sofrera em mobilização. O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) também tem sofrido ameaças de morte por suas posições favoráveis aos direitos civis dos LGBTs.

É muito importante lembrar que nestes casos a polícia e a justiça não podem punir os agressores exatamente pela inexistência de uma legislação que criminaliza as agressões motivadas pelo preconceito, tal como foi o caso do companheiro Guilherme. Ou seja, a omissão do Estado burguês serve para deixar impunes esses criminosos que humilham, espancam e matam gays, lésbicas, bissexuais e travestis pelas ruças das grandes cidades.


O que queremos nesta marcha?

O movimento LGBT que vai à Brasília neste dia 18 precisa ter alguns objetivos claros. O primeiro é que estamos exigindo a aprovação do PLC-122. Porém, não estamos exigindo isso somente dos parlamentares, mas estamos exigindo da presidente Dilma. O PT possui maioria no Congresso Nacional e um forte poder de centralização de sua base aliada. A maior prova disso foi o rolo compressor do governo para aprovar o vergonhoso reajuste do salário mínimo. Estamos exigindo de Dilma que faça o mesmo movimento para aprovar o PLC-122.

O segundo objetivo deve ser apresentar para os políticos de Brasília um movimento independente de governos e de empresários. Nosso movimento só terá força para arrancar mais conquistas se não estiver atrelados aos políticos e governos. Para isso, precisamos nos apoiar nos setores mais combativos do movimento sindical e estudantil, pois estes sim são aliados nas lutas que exigem dos governos maiores direitos e que se enfrentam com o grande capital.

O terceiro objetivo é dizer que já arrancamos o reconhecimento das uniões homoafetivas, queremos a criminalização da homofobia, mas queremos ainda muito mais. Queremos o casamento civil com direito de adoção, queremos uma educação pública voltada para o respeito à diversidade sexual, queremos um Estado laico e, por fim, queremos uma sociedade sem preconceitos. Para nós do PSTU, a luta pelo fim definitivo do preconceito é a luta por outra sociedade, verdadeiramente igualitária, uma sociedade socialista. Somente acabando com a exploração e reconstruindo a sociedade sobre outras bases é que iremos enterrar de vez todo o ódio e a discriminação.


Retirado do Site do PSTU

Casamento real: show midiático e “contos de fadas” para aliviar a monarquia

Casamento tenta recriar conto de fadas
No dia 29 de abril, o casamento do príncipe herdeiro do trono britânico, William, e a suposta plebéia Kate Middleton, levou quase um milhão de pessoas às ruas de Londres, literalmente paralisou a Inglaterra e deixou cerca de dois bilhões de pessoas com os olhos grudados nas telas de TV.

Para se ter uma idéia do impacto e da repercussão da festa vale citar um levantamento feito pela Webtrends, que acompanha a movimentação no Twitter: nos 30 dias que antecederam o casório foram escritos 911 mil “tweets”, ou seja, mais de 30 mil por dia, um número muitíssimo superior ao registrado em eventos como o terremoto no Japão e a queda de Mubarak, no Egito. Já o site da ABCNews, que acompanha o Twitter em tempo real, divulgou que, durante a cerimônia, foram feitos nada menos do que 13 mil tweets por minuto.

O interessante é que toda esta tecnologia e “modernidade” fizeram parte de um espetáculo midiático montado para celebrar o que há de mais tradicional, antigo e conservador na sociedade britânica: sua anacrônica e opressora monarquia e seus valores aristocráticos. Uma mistura aparentemente contraditória, mas que se demonstrou ideal para um momento em que a “coroa britânica” é abrigada a enfrentar uma onda de manifestações que, há um mês, por exemplo, reuniu quase meio milhão de pessoas em protestos contra a política anti-social e os cortes orçamentários que vêm sido promovidos pelo Estado.

Tratado, literalmente, como “assunto de Estado” e concebido como um espetáculo destinado a dar ares modernos e simpáticos à monarquia e, ao mesmo tempo, reafirmar seus valores e poder, o casamento do jovem e belo príncipe com uma mulher tida como “plebéia” ganhou ares de um daqueles “conto de fadas” produzidos pela Disney. Uma fantasia enorme e descaradamente incentivada pela mídia mundial.

E já que estamos tratando quase de algo que se assemelhou tanto a uma megaprodução teatral ou cinematográfica, talvez a melhor forma para comentar o evento seja exatamente tratando-o como tal, como um espetáculo para o qual não faltaram enredo, personagens, figurino, roteiro e platéia.


Enredo: um conto de fadas moderno

Quem quer que seja que tenha pensado no “roteiro” do casamento real, certamente tinha como idéia criar uma história cujo tom mesclasse um grande evento para a mídia e um conto de fadas moderno; tudo isto embalado numa “história simples”, capaz de dar um toque de “frescor” à (já há muito) mofada monarquia britânica.

Construir o roteiro não deve ter sido difícil, até mesmo porque os personagens centrais eram ideais para os papéis: um “príncipe encantado” e uma “cinderela moderna”. Para compor o show, bastou rechear a cerimônia de celebridades, contar com a vastíssima cobertura da mídia mundial, decretar feriado nacional e rechear a cerimônia de símbolos.

Evidentemente, como em toda megaprodução, os custos não foram baixos. Calcula-se que a festa consumiu cerca de 40 milhões de dólares, oito milhões deles somente com o monstruoso aparato de segurança que transformou Londres em uma cidade sitiada, tomada por 5 mil policiais e um sem-número de agentes das forças armadas e “serviços especiais”.

Tudo isto foi colocado a serviço de uma “fantasia” construída em base a alguns dos mais importantes valores da elite britânica: respeito à hierarquia, à ordem e à disciplina; exaltação das diferenças sociais como sendo o “jeito natural” das coisas e, acima de tudo, reafirmação da legitimidade e poder da família real.




Roteiro: um futuro para a coroa britânica

Os propósitos políticos e ideológicos da cerimônia eram tão óbvios que ninguém fez muito esforço para dissimulá-los, a começar pela imprensa britânica. O ultra conservador e monarquista “The Times”, por exemplo, foi direto ao ponto: "Em um momento tão difícil para a Grã-Bretanha, quando a moral nacional está baixa, o sol brilhou e todo o mundo pôde compartilhar os risos e a felicidade (...) O casamento demonstrou de forma poderosa o valor da monarquia".

Essa demonstração de “força” da monarquia foi milimetricamente construída no decorrer do evento, principalmente através de “símbolos” destinados a reviver ou relembrar as “glórias do Império”. Todos os homens da família real estavam ostensivamente fardados; no decorrer do espetáculo não faltaram saudações e beija-mãos reais; o percurso feito pelos noivos privilegiou os principais símbolos de poder de Londres (das casas do Parlamento ao Palácio real) e, também, continências e paradas militares, sobrevôos de jatos e uma infinidade de outros rituais não deixavam ninguém se esquecer do poder da realeza britânica.

Evidentemente, ninguém acredita que isto seja o suficiente para fazer com que a população britânica “se esqueça” da crise. Contudo, se é verdade que a cerimônia cumpriu um papel decisivo para “aliviar” o governo na conjuntura atual, o que se pretende com o novo casal – que foram presenteados com os títulos de Duque e Duquesa de Cambridge – não é algo para o presente imediato e, sim, para o futuro próximo, como destacou o tablóide “The Sun”, o jornal mais vendido da Inglaterra.

Depois de lembrar que o país está enfrentando níveis recordes de desemprego e os mais severos cortes públicos em décadas, o jornal ressaltou o que se espera para a “sequência” do espetáculo iniciado na sexta: "Nossos novos e jovens duque e duquesa têm um papel importante a desempenhar em nossa recuperação".

Essa pretensão também ganhou uma simbologia curiosa no decorrer do evento. Depois de desfilarem em carruagens que mais pareciam ter saído de um desenho Disney, no final do dia, para o “delírio” da platéia e telespectadores, o casal saiu do palácio no melhor estilo das comédias românticas de Hollywood: em um conversível, cheio de balõezinhos e com direito a uma placa onde se lia “recém-casados”. Uma demonstração de vitalidade e “sangue-novo” extremamente adequados para um momento em que o que se vê no cenário econômico e social é a estagnação e a decadência.

Evidentemente, como estamos falando de símbolos, é totalmente incerto se o “plano” da monarquia irá vingar. Até mesmo porque a realidade tende a manter uma distância quilométrica dos contos de fada, algo que foi destacado pelos jornais que têm uma linha editorial mais crítica, como o antimonárquico “The Guardian”: "No mundo real, debaixo da fina camada de pompa, há desajustes sociais cujas brechas começam a aparecer (...) a renda da maioria das residências está caindo de uma maneira que não acontecia desde os anos 1920. Estão sendo eliminados serviços e centenas de milhares de trabalhos".


Personagens: um “príncipe encantado” e uma falsa plebéia

Independentemente do que venha pela frente, dificilmente a monarquia poderia ter melhores protagonistas para esta história. Jovem, “bom-moço” (ao contrário do irmão Harry, tido como “rebelde”) simpático e atraente, William ainda tem sua imagem associada à de sua mãe, a falecida Diana, que, na sua época – e antes da sucessão de escândalos que transformaram seu conto de fadas numa tragédia bizarra – também simbolizou uma injeção de “frescor” na monarquia.

Kate Middleton, a escolhida do “príncipe encantado”, também parece que nasceu para o papel. Igualmente jovem, formada em História da Arte e celebrada mundialmente como “a primeira plebéia” a entrar para a realeza britânica em 350 anos, a candidata a futura-rainha, que trabalhou durante anos como webdesigner nas empresas da família, exala modernidade e simpatia, caindo como uma luva no papel de Cinderela destinada a alimentar as fantasias de milhões de jovens mundo afora.

Contudo, como em todo espetáculo, os personagens reais por trás da maquiagem e figurino não são exatamente o que parecem. Isto, com certeza, pode ser dito em relação à noiva, que, de plebéia, não tem absolutamente nada.

Apresentada ao mundo como filha de um ex-piloto e de uma ex-aeromoça da principal empresa de aviação do país, a British Airways, a atual Duquesa de Cambridge, na verdade, sempre teve profunda intimidade com o mundo aristocrático, sua fortuna e valores.

Os pais, além do trabalho de “classe-média”, sempre puderam contar com uma fortuna herdada de mercadores imperialistas do século 19, dinheiro que foi investido para a criação de uma empresa, a “Party Pieces”, especializada em todo e qualquer tipo de parafernália para festas. Um detalhe que fez a alegria da imprensa mundial: um dos carros-chefe do negócio era a produção de festas infantis baseadas em histórias de princesa.

Devido às leis inglesas, é impossível saber o valor atual do negócio, mas, de acordo com o jornal britânico Daily Mail, a fortuna dos Middleton deve chegar a, no mínimo, 50 milhões de libras (cada libra está valendo R$ 2,64), dinheiro suficiente para que Kate tenha passado praticamente a vida inteira em uma propriedade avaliada em 1 milhão de libras e tenha estudado somente em escolas e universidades (como a de Saint Andrews, onde conheceu William) exclusivas para milionários, aristocratas e membros da realeza.

Para se ter uma idéia do quão distante a jovem está de uma “cinderela”, vale lembrar, também, que quando ela e seu príncipe decidiram morar juntos, os pais da moça deram um “presentinho” (ou fizeram um investimento...): compraram para o casal, à vista, um apartamento, no centro de Londres, também no valor de um milhão de libras.

De certa forma, a união entre a Família Real e os Middleton também é um “símbolo” do papel que este casamento pretende cumprir na sociedade britânica. Se, no passado, casamentos reais serviam para selar alianças entre estados monárquicos, o de William e Kate foi uma espécie da celebração de uma união fundamental para que Elizabeth I e sua turma continuem no poder: o da nobreza com a “nova” burguesia neoliberal.

A identidade de Mike e Carole Middleton com os valores do neoliberalismo, inclusive, são mais do que explícitos. Sintonizados com a máxima “o que importa é o lucro”, os pais de Kate não se contentaram com o fato de terem sua filha associada a uma das maiores fortunas do mundo e decidiram aproveitar a oportunidade para ampliar os seus próprios negócios e lucros.

Desde o começo do relacionamento, os Middleton ampliaram seus estoques e produtos vinculados às festas infantis com temas principescos. Na semana em que o enlace foi anunciado, as visitas ao site da empresa saltaram em nada menos do que 163% e, nos meses que antecederam o casório, fotografias tiradas nos depósitos da empresa revelaram um gigantesco estoque de bandeirinhas britânicas e toda espécie de coisas que poderiam ser ver vendidas em torno do casamento: de balões coloridos a canecas de plástico.

A noiva, por sua vez, não mediu esforços na construção de seu personagem. Enquanto noiva, foi “moderna” o suficiente para romper com a tradição (hipócrita e moralista) e compartilhar a cama com o príncipe antes de terem sua união abençoada pelo Estado e pela Igreja. Agora, no papel de futura-rainha, Kate já decidiu que irá representar o personagem mais próximo do ideal machista e tradicional, que sobrevive tanto numa monarquia dirigida por uma Elizabeth, quanto numa democracia presidida por uma Dilma: vai deixar seu trabalho e dedicar-se exclusivamente ao marido e à “caridade”.


Figurino: vestidos para reinar

Não é nossa intenção repetir a mídia burguesa e fazer intermináveis (e fúteis) comentários sobre os modelitos usados durante o casório, mas, também, vale lembrar que, em todo espetáculo, o figurino sempre cumpre um papel importante e isto não poderia ser diferente neste caso. E, tratando-se de um casamento, foi no vestido da noiva que se concentraram as intenções de transmitir a idéia central da festa: a tal mescla entre modernidade e tradição.

Neste sentido, a escolha de Kate foi “perfeita”. O modelo foi criado por Sarah Bruton, estilista que, hoje, é o principal nome da equipe de criação de Alexander McQueen, que se matou no ano passado. A escolha de um nome identificado com um estilista gay, considerado o “infant-terrible” (garoto-mal) da moda britânica, evidentemente, não foi um acaso e teve o efeito desejado: todos os “modernos” ficaram encantados.

Ao mesmo tempo, o modelito era pra lá de “tradicional” e bastante parecido ao de outra “plebéia” famosa (e adorada pelos “súditos”), a atriz Grace Kelly, transformada em Rainha de Mônaco, na década de 1950. E como toque final, Kate ainda carregou um buque de murta (o mesmo usado pelas “noivas reais” desde a toda poderosa rainha Vitória, no século 19).

No mais, não dá para não comentar que o ridículo de tudo isto, como não poderia deixar de ser, também podia ser visto aqui e ali. E, com certeza, foi no “figurino” que a extravagância, ostensividade e exibição de “status” e poder econômico dos ricos e famosos ficaram mais evidente, principalmente nos bizarros chapéus usadas pelas damas da realeza e sua “corte”, alguns deles ao custo de nada menos do que US$ 1,5 mil.




Bastidores: a realidade para além da fantasia

Toda pompa e entusiasmo que cercaram a cerimônia não foram suficientes, contudo, para abafar as contradições da realidade. Problemas pipocaram por todos os lados, a começar pela lista de convidados, que causou protestos ao incluir quase uma dezena de governantes e cabeças coroadas publica e mundialmente conhecidos como tiranos sanguinários e que, exatamente por isso, estão enfrentando verdadeiras revoluções.

Um destes ditadores, o príncipe Bahrein, por exemplo, se viu obrigado a declinar do convite, exatamente por estar ocupado reprimindo o povo que ele tiraniza com punhos de ferro. A lista, contudo, ainda continha pelo menos 8 outros tiranos-convidados, de países como Arábia Saudita, Suazilândia, Brunei e Marrocos.

E enquanto os genocidas eram recebidos com pompa e circunstância, trabalhadores e jovens estudantes eram reprimidos e presos nas ruas de Londres. Foram divulgadas “apenas” 56 prisões realizadas na sexta-feira. O número relativamente baixo, contudo, esconde uma realidade um tanto pior: Londres virou uma cidade sitiada e o direito democrático de protesto foi, literalmente, suspenso.

O forte aparato repressivo colocado nas ruas apoiou-se em decretos que permitiam aos policiais e soldados dispersar e impedir qualquer tipo de agrupamento ou manifestação. Com uma hipocrisia asquerosa, o decreto permitia apenas “protestos estáticos” (como ficar parado e quieto segurando um cartaz) que fossem realizados fora da área do cortejo e da festa.

Mesmo com todas as limitações, vários grupos anarquistas, socialistas e anti-monarquistas em geral (reunindo dezenas ou centenas cada um deles), se espalharam por pontos da cidade, sob forte vigilância da polícia. Diante do forte aparato repressivo, muitos limitaram seus protestos a cartazes ou à ironia, andando pelas ruas, por exemplo, com “sacos de vômito”, estampados com a foto do casal, onde se lia “Carregue com você durante o dia do casamento”.

E, mesmo assim, muitos foram presos, em situações absurdas: dez pessoas cometeram o “crime” de carregar cartazes antimonarquia na estação ferroviária de Charing Cross; outros três “suspeitos de planejar a decapitação de estátuas reais”, foram detidos por “suspeita de conspiração para causar uma perturbação da ordem pública e violação da paz”, a quilômetros de distância da cerimônia.

Por ora, a monarquia ainda está colhendo os frutos do evento bem-sucedido e a elite local também está celebrando os milhões de libras que foram injetados no país com o turismo e a venda de toda espécie de bugigangas. Contudo, como em todo casamento, a “lua-de-mel” pode acabar em breve, principalmente porque, “conto de fadas” à parte, a realidade britânica e a crise econômica e social que afeta o país, principalmente sua juventude e setores mais explorados, como a população imigrante, estão longe de prenunciar um “e viveram felizes para sempre”.


Retirado do Site do PSTU

sexta-feira, 13 de maio de 2011

CSP-Conlutas se retira da mesa de negociação das obras do PAC

Governo e demais centrais se negam a tomar qualquer medida contra as 4 mil demissões em Jirau


A CSP-Conlutas registrou a sua retirada da Mesa Nacional de Negociação do setor da construção civil durante a reunião realizada nesta quinta-feira, 12 de maio, na parte da manhã.

O representante da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes, apresentou à mesa de negociação oficio e proposta de reivindicações da Central que, entre outros temas, exigia um posicionamento político do governo e das centrais sindicais contra as demissões em Jirau e o desconto dos dias de greve dos operários de Suape (PE).

Segundo Lopes, o ministro Gilberto Carvalho declarou que não voltará atrás da sua decisão em relação às demissões. Já as centrais, ainda que tenham dito ser contra “qualquer demissão”, não fizeram nenhuma exigência e ainda disseram que continuarão na negociação.

Diante deste posicionamento a CSP -Conlutas registrou a sua retirada da mesa de negociação.

Para o representante da Central, não é possível aceitar a demissão em massa de 4 mil trabalhadores nas obras de Jirau. “Esta é foi terceira reunião com o governo e infelizmente a única medida tomada concretamente foi a punição aos operários imposta pelas empreiteiras em Jirau”, ressaltou.

A CSP-Conlutas defendeu durante todo o processo de negociação outra pauta, que nem sequer foi tratada, na qual constavam melhores condições de trabalho, segurança, salário e dignidade para os trabalhadores.

“Estivemos nesta negociação para defender quase 100 mil operários que se levantaram em greve contra as péssimas condições de trabalho, agora o governo quer transformar este espaço em uma mesa de enrolação, enquanto pune os trabalhadores”, disse o dirigente ao se retirar. “Não faremos parte desse jogo, não é isso o que os trabalhadores esperam dessa negociação, seguiremos ao lado dos que lutam e acreditamos que será a mobilização direta que garantirá a vitória”, finalizou o dirigente.


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    Em meio a baixaria, deputados adiam novamente votação do Código Florestal

    Aldo Rebelo (PCdoB) tenta passar a perna no próprio governo para aprovar o novo código


    Relator da revisão do Código Florestal, Aldo Rebelo (PCdoB)
    Os deputados ruralistas prometiam uma votação histórica nesse dia 11 de maio, quando pretendiam aprovar o novo Código Florestal. A votação acabou não acontecendo, mas a sessão desse dia na Câmara dos Deputados não deixou de ser menos marcante.

    O impasse predominou durante todo o dia, e acabou se transformando à noite em bate-boca, insultos e trocas de acusações entre os parlamentares, que culminaram em novo adiamento da votação. Já é o terceiro em uma semana.


    Impasse

    O dia amanheceu tenso na Câmara. Enquanto o relator do novo Código Florestal Aldo Rebelo (PCdoB) anunciava um acordo com o governo para a votação, no plenário a discussão mostrava tudo, menos um acordo.

    Os dois grandes imbróglios foram a chamada “reserva legal” e as APP’s (Áreas de Preservação Permanente), que a bancada ruralista queria flexibilizar. O texto de Aldo isentava a reserva legal para propriedades de até quatro módulos fiscais. A reserva legal é uma proporção da propriedade cuja preservação é obrigatória. Pode ser de 80% a 20%, dependendo da região. Já o módulo fiscal também varia de região para região, podendo abranger uma área de 20 a 400 hectares.

    Para os opositores do novo código, tal mudança daria margem para inúmeras manobras, como a de dividir a propriedade em vários pequenos módulos. Segundo o deputado do PSOL, Ivan Valente, tal medida poderia significar ainda o desmatamento de 70 milhões de hectares de mata nativa em médio prazo.

    Já em relação às APP’s, os ruralistas pediam que não fosse obrigatório o reflorestamento das áreas já desmatadas. Na prática, anistiaria os desmatadores. O argumento é que tal medida protegeria as populações ribeirinhas e os pequenos produtores. Os ambientalistas, por outro lado, afirmam que esses já são contemplados pela atual legislação. O objetivo dos ruralistas é, na verdade, abrir caminho para a expansão do agronegócio em áreas que hoje são protegidas.


    Velório sem o corpo

    “É como um velório, mas sem corpo presente”, foi como definiu um deputado o clima da sessão na Câmara. Isso porque o deputado Aldo Rebelo ficou o dia todo trancado com os líderes do governo, a fim de se chegar a um acordo à redação final do novo código. A proposta original elaborado por Rebelo e os ruralistas era tão vergonhosa que até mesmo o governo, temeroso do desgaste que isso causaria, exigiu alterações.

    Porém, mesmo sem o texto, a sessão prosseguia e os deputados continuavam a discutir de forma acalorada. E o que seria a discussão sobre as mudanças na lei ambiental se transformou, para a bancada ruralista, numa oportunidade para enaltecer o latifúndio. Em uma incrível inversão de valores, pintaram os grandes produtores rurais no país como os verdadeiros “injustiçados” e os ‘heróis’ do país, como dizia o então presidente Lula.

    A fim de justificarem a flexibilização das normas ambientais, os ruralistas, como o antigo presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Ronaldo Caiado (DEM), num extremo ato de cinismo, recorreu à proteção dos “pequenos produtores” e da “agricultura familiar”.


    ”Traidor, canalha”

    Ao final do dia, finalmente, Rebelo apareceu com seu texto pronto, fruto de horas de negociações a portas fechadas com as lideranças dos partidos.

    Ao anunciar a proposta de novo código, porém, o deputado convertido à mais recente liderança ruralista, revelou uma nova traição e modificou palavras do texto acordado com o governo, inserindo “armadilhas” no projeto. O texto modificado provocou a indignação dos parlamentares governistas.

    A ex-candidata à presidência, Marina Silva (PV), denunciou em seu twitter que Aldo Rebelo “fraudava” o texto acordado com as lideranças. Rebelo, por sua vez, não deixou barato e, do alto da tribuna, começou a denunciar o marido de Marina, Fábio Vaz de Lima, como “contrabandista de madeira” no Acre. “Ela disse que eu fraudei o relatório. Quem fraudou foi o marido dela, que fez contrabando de madeira”, afirmou o deputado, sob os gritos de “traidor” e “canalha” dos deputados que se opunham ao código.

    Enquanto isso, a bancada ruralista ovacionava intensamente o dirigente "comunista". Com a baixaria instaurada no plenário, o líder do governo, Cândido Vacarezza (PT) sugeriu o encaminhamento de suspensão da votação do deputado do PSOL, Ivan Valente. Com isso, o novo código florestal vai para a votação na próxima terça-feira, dia 17.


    Ruralistas no Congresso

    Além da baixaria, surpreendeu a extrema fidelidade do deputado Aldo Rebelo (PCdoB) à bancada ruralista. O deputado “comunista” tentou enganar o próprio governo ao fazer passar pequenas armadilhas no texto final do relatório, tudo em defesa dos latifundiários.

    Quais seriam o motivo de Aldo para tal guinada, colocando-se ao lado de Kátia Abreu e Ronaldo Caiada (DEM)? Considerando as doações eleitorais, pode-se especular que tal orientação seja mais pragmática que ideológica. O “comunista”, por exemplo, recebeu durante a campanha eleitoral pelo menos R$ 130 mil de produtores de café, cana e laranja, além de R$ 70 mil da Bunge Fertilizantes.

    Segundo reportagem da revista Istoé, pelo menos 27 deputados e senadores seriam representantes diretos dos latifundiários. Ou fazendeiros propriamente ou financiados pelos R$ 45,5 milhões distribuídos pelo setor durante a campanha de 2010.


    A responsabilidade do governo

    Boa parte da base governista, principalmente os deputados do PT, tenta posar de defensora do atual código florestal, contra os interesses dos latifundiários. No entanto, a intenção o governo Dilma é o de aprovar uma reforma em que, ao mesmo tempo em que flexibilize as atuais normas ambientais, não cause maiores desgastes.

    O governo possui ampla maioria na Câmara e poderia, se quisesse, enterrar de uma vez por todas esse novo código. Mesmo considerando os deputados “orgânicos” do ruralismo, como parece ser agora o caso de Aldo Rebelo (PCdoB). Infelizmente, apesar da derrota desse dia 11, o novo código florestal ainda está em vias de ser aprovado.


    Retirado do Site do PSTU

    quinta-feira, 12 de maio de 2011

    13 de maio: repúdio à falsa abolição

    Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, não garantiu a liberdade aos negros


    No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo oficialmente a escravidão no Brasil. No entanto, 123 anos depois, os negros ainda lutam por igualdade.

    A princesa Isabel assinou a Lei Áurea, porém não reparou os 350 anos de escravidão. Nos tempos atuais o racismo ainda vigora em nosso país, assim como a superexploração e a opressão da classe trabalhadora, cuja maioria é negra.

    Ainda hoje, as marcas desta época colonial e escravista estão presentes no Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os níveis de educação, saúde e renda familiar da população. O índice comprova o atraso histórico dos trabalhadores negros (as) com relação aos brancos (as) no Brasil. No último Censo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), realizado em 2009, os brancos ficaram na 67ª enquanto os negros na 99ª. Ou seja, existe uma diferença sim no acesso à direitos básicos, entre brancos e negros.

    A repressão violenta dos senhores de escravos foi substituída pelo recrudescimento dos governos, arrocho salarial, perda de direitos sociais e ação enérgica da policia militar e das milícias, que exterminam os jovens negros nas periferias, onde os maiores índices ficam localizados em Pernambuco, Maranhão, na Baixada Fluminense (RJ) e São Gonçalo (RJ).

    O Governo Dilma reinaugura o mito da democracia racial, sinônimo de uma falsa igualdade entre brancos e negros, de políticas de ação afirmativa e de política pública para toda classe trabalhadora. Porém, essa “democracia racial” vem revestida de corte no orçamento das pastas sociais, entre tantos outros ataques desferidos aos negros e negras do nosso país.

    O Quilombo Raça e Classe considera uma vitória o fim da escravidão, mas isso não é a consagração da verdadeira liberdade, pois não se pode ser livre, sem emancipação econômica plena, sem inserção social e política, sem acesso aos bens culturais e econômicos, sem usufruir do fruto do trabalho que é a riqueza gerada pela nação. O movimento convoca o conjunto da classe trabalhadora a se organizar pela base, com independência dos governos e dos patrões, para fortalecer essa ferramenta que é a CSP-Conlutas.

    É preciso superar o racismo no mercado de trabalho, garantir igualdade salarial entre negros e brancos, permitir que os negros tenham acesso a empregos de qualidade, à mobilidade e ascensão no mercado de trabalho. É preciso garantir a presença de negros nos espaços acadêmicos e de produção de ciência.

    Por entender que a história da Lei Áurea não passou de um falso consenso das elites em não reparar aqueles trabalhadores que foram os construtores dessa nação, o Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe vêm construindo o dia 20 de novembro como uma data de afirmação para o povo negro.

    É preciso enfrentar o racismo, o machismo e a homofobia de maneira específica, mas não isolada das lutas da classe trabalhadora e das lutas populares. Precisamos de políticas que proporcionem para a população oportunidades iguais, com políticas de reparação e de ações afirmativas na educação e saúde, para que sejam 100% estatal e de qualidade, além de exigir a titulação dos quilombos, já!


    Pela Anulação dos processos dos 13 presos do Rio de Janeiro
    Contra escravidão nas Obras do PAC!


    Não é de hoje que tentam calar as lutas de resistência da classe trabalhadora. Este fato vem desde a Revolta dos Malês, a resistência do Quilombo dos Palmares, a coragem de milhares de escravos que tocavam fogo nas plantações e fugiam para os quilombos em todo o Brasil. Essas lutas podem ser comparadas com as que travamos nos tempos atuais. Podemos citar como exemplo, a visita de Obama ao Brasil, no qual Sérgio Cabral e Dilma criminalizaram o direito de manifestação e prenderam13 pessoas.

    Exigimos que sejam anulados os processos contra os 13 presos, e o fim da criminalização dos movimentos sociais.

    Além disso, neste 13 de Maio repudiaremos o trabalho escravo nos canteiros de obras do PAC e na construção civil de uma maneira geral.


    Retirado do Site do PSTU