A cidade do Rio de Janeiro vem passando por um processo de enormes transformações. Impulsionadas pelas necessidades de acumulação e reprodução do grande capital, enormes e vultuosas obras estão alterando significativamente o espaço urbano e a vida dos habitantes da cidade. Levadas a cabo pelos governos municipal, estadual e federal, esses gigantescos empreendimentos, buscando “preparar” a malha urbana para os megaeventos dos anos futuros (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016), têm propiciado realizar um antigo objetivo das corporações imobiliárias: a remoção de milhares de famílias de trabalhadores de suas casas, alocando-as em localidades muito distantes de suas ocupações cotidianas e sem condições dignas de vida, isso quando não ocorre o puro despejo. A cidade está sendo saqueada e partilhada pelas corporações, vide o exemplo de Eike Batista nos bairros da Glória/Catete ou da TKCSA em Santa Cruz. A promiscuidade entre o capital e os governantes é cada vez mais explícita, como pôde ser verificado no recente acidente aéreo que revelou as ligações íntimas entre o governador Sérgio Cabral e grandes empresas contratadas por seu governo.
Na área da segurança, vigora uma política altamente repressiva dirigida aos setores populares. Se, em muitas favelas, com as UPPs, o poder bélico do tráfico vem sendo substituído por um não menos autoritário, coercitivo e corrupto poder policial (em uma espécie de Estado de sítio permanente, na qual direitos humanos e constitucionais dos moradores são suspensos e violados), no asfalto, o midiaticamente aclamado “choque de ordem” concentra suas atuações na repressão aos trabalhadores informais, os quais, em sua enorme maioria, dependem de suas migalhas diárias para dar o que comer aos seus filhos.
Na Saúde e na Educação, o quadro não é menos assustador. Precários vínculos de trabalho e salários baixos pagos aos servidores se combinam com péssimas condições de trabalho oferecidas pelo governo de Eduardo Paes, que delega a grandes empresas atribuições cada vez maiores nos serviços públicos. Em resumo, pode-se dizer que a aliança PT-PMDB (com o natural apoio do PC do B) aplica em âmbito municipal a mesma política do governo federal, voltada, sobretudo, para os interesses das grandes corporações financeiras, industriais e comerciais. Para além da propaganda oficial, a desigualdade social é crescente, os serviços públicos estão sendo drasticamente degradados, a violência é bárbara e nada parece dizer que a vida dos filhos da classe trabalhadora será melhor que a de seus pais.
Frente a esse quadro, de intensa criminalização dos trabalhadores e de suas organizações, aqueles que vivem do seu trabalho (ou que tentam viver dele) começam a resistir. Professores, merendeiros, médicos, enfermeiros e assistentes sociais lutam contra a privatização (via “Organizações Sociais” ou “Fundações Estatais de Direito Privado”) dos serviços públicos, aos quais são obrigados a recorrer os setores explorados (a enorme maioria dos habitantes da cidade, não custa lembrar). Ao mesmo tempo, comitês populares contra as arbitrárias remoções já começam a ganhar as ruas e o apoio de artistas, intelectuais e da juventude. Reivindicando melhores salários e uma refeição dignamente humana, os operários das obras do estádio do Maracanã realizaram duas greves este ano. No movimento sindical, cada vez mais lutadores afluem ao campo classista, composto pelos ativistas que são política e materialmente independentes dos governos e dos patrões. Também por melhores salários, condições de trabalho e contra o despotismo do governo do Estado, trabalhadores da educação realizaram notável greve e os bombeiros do Rio de Janeiro fizeram uma verdadeira onda vermelha na cidade há alguns meses atrás.
No ano que vem, a força do poder econômico procurará reduzir o processo eleitoral a uma disputa entre as diferentes representações políticas da burguesia. Sabemos, pela experiência dos últimos anos, como a aliança PT-PMDB, alavancada por fortunas emprestadas pelo capital imobiliário, dos transportes e da construção civil (que cobrarão caro por esse apoio) ocupará todos os espaços para passar sua mensagem de que “não há alternativa”. Da cobertura privilegiada nos telejornais locais ao virtual monopólio do horário eleitoral gratuito, passando pelo conluio escuso com milicianos e grupos de traficantes para exclusividade de sua propaganda em determinadas áreas da cidade, não há dúvida de como funcionará sua campanha. Mas, sabemos também que há um horizonte disperso de senso crítico. Para canalizar o descontentamento desses setores as classes dominantes se valem de falsas alternativas: ao invés das figuras carimbadas da desgastada oposição tucano/DEM (e agora PSD), a suposta “novidade” do Partido Verde (aliado orgânica e estruturalmente com César Maia e José Serra), com nomes como o ex-tanta coisa Fernando Gabeira, ou da ex-ministra de Lula e agora “sem partido”, Marina Silva.
Nesse contexto, é importante que a resistência da classe trabalhadora e demais setores populares apresente uma alternativa política de fato para a cidade, alicerçada, essencialmente, nas lutas e organizações dos próprios trabalhadores. Aprendemos com a experiência do PT como alianças estabelecidas fora do campo da classe trabalhadora, ao invés de amplificarem nossa proposta política, servem ao objetivo inverso de respaldar as políticas dos dominantes. Nas eleições municipais, o fortalecimento da luta dos trabalhadores, através de uma campanha pedagogicamente socialista, que contribua para a elevação da consciência social e do patamar de auto-organização da classe, deve ser nossa prioridade. Para isso é condição indispensável que ela seja composta apenas pelos partidos, organizações e figuras públicas verdadeiramente ligadas às lutas do povo carioca. Diante da abertura do debate público sobre as eleições de 2012, e as primeiras indicações de candidaturas, faz-se necessário um movimento desde já pela unidade desses partidos e organizações, fragilizada nos últimos pleitos pela segmentação de projetos e por procedimentos que inviabilizaram o trabalho em conjunto.
É necessária, assim, a construção de uma frente de esquerda que, ancorada nessas lutas, apresente um programa político socialista, composto pelas bandeiras e reivindicações dos trabalhadores e demais oprimidos de nossa cidade. Um programa comprometido com o apoio – não a repressão – às lutas da classe, oposto à especulação imobiliária, à privatização e aos grilhões da dívida pública imposta pelos interesses do sistema financeiro, capaz de fomentar o poder efetivo dos conselhos de trabalhadores e organismos de poder popular. Esta frente de esquerda, pensamos, deve ser composta pelos agrupamentos políticos e movimentos sociais que representem verdadeiramente o campo dos explorados da sociedade, como o PSOL, PSTU, PCB, e os militantes e movimentos aglutinados por MST, MTST, MNLM, CSP-Conlutas, Intersindical, Plenária dos Movimentos Sociais, Consulta Popular, ANEL, oposição de esquerda da UNE, etc.
Por uma frente de esquerda nas eleições municipais!
Assinam este documento militantes – dos (e de fora dos) partidos, movimentos e organizações – que compartilham da perspectiva aqui expressa:
Agnaldo Fernandes, Executiva Estadual do PSOL/RJ
Alexandre Dias, militante do PSOL militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Alvaro Neiva, jornalista e militante do PSOL
Aline Menezes da Paixão Viegas, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Ana Claudia Chaves Mello, militante do PSOL Niterói /RJ
Ana Kallás, historiadora e professora da rede municipal de ensino
André Dhamasceno da Hora, militante do PSOL Nova Iguaçu/RJ
Anísio Borba, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Antonio Pedro Fernandes, militante do SEPE e do PSOL/São Gonçalo
Ary Gabriel Girota de Souza, militante do PSOL Niterói /RJ
Bianca Resende da Silva, militante do PSOL Niterói/RJ
Bruno Mattos, militante do PSOL Rio das Ostras/RJ
Cris Larin, atriz e diretora de teatro
Daniele Cabral de Freitas Pinheiro, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Danilo da Silva Furtado, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Demian Melo, historiador/Revista Outubro
Eduardo Gama Mendes de Moraes, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Elidio Alexandre Borges Marques, professor da UFRJ
Elizia Januário da Silva, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Felipe Demier, historiador/Revista Outubro
Flávio Rodrigo da Silva, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Gustavo "Benjão", músico
Gustavo Gomes, Diretório Nacional do PSOL
Gustavo Sette, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Hellington Chianca Couto, militante do SEPE e do PSOL/São Gonçalo
Hercules Quintanilha, professor-tradutor, militante do PSOL de São Gonçalo e Rio de Janeiro e do setorial GBLT do PSOL
Ivy Ana de Carvalho, militante do PSOL/RJ
Jane Barros Almeida, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Jéssica de Oliveira Mendonça, militante do PSOL Rio das Ostras/ RJ
João Mauro Amaral dos Santos, militante e do PSOL/São Gonçalo
Jonathan de Oliveira Mendonça, militante do PSOL Rio das Ostras/ RJ
Jorge Cezar Gomes, dirigente do Sepe/RJ e militante do PSOL
José Rodrigues, professor da UFF
Júlia Polessa, cientista social e professora da Faculdade de Educação da UFRJ
Juliana Caetano, militante PSOL Rio de Janeiro/RJ
Juliana Fiuza, professora da UERJ e militante do PSOL
Juliana Nascimento Costa da Silva, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Júlio César Góis de Andrade, militante do SEPE e membro da Executiva Municipal do PSOL/São Gonçalo
Kênia Miranda, historiadora e professora do Colégio Pedro II
Kezia Bastos Figueiredo, militante do PSOL Rio das Ostras/RJ
Leninha Claudino de Souza, Executiva Municipal do PSOL Duque de Caxias/RJ
Leonardo Gama de Araujo, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Lídia Maria de Souza Porto, militante do PSOL Niterói/RJ
Lilian de Souza Lima Matias, militante do PSOL Niterói/RJ
Livia Casemiro Sampaio, militante do PSOL Niterói /RJ
Luciano da Silva Barboza, militante do PSOL Niterói /RJ
Malcolm dos Santos Almeida, militante do PSOL Duque de Caxias/ RJ
Marcelo Badaró Mattos, professor da UFF e militante do PSOL
Márcia Soraya Teani, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Marcio Moises de Souza Barbosa, militante do PSOL Rio de Janeiro /RJ
Marco Pestana, professor do Instituto Nacional de Ensino para Surdos
Marco José Duarte, professor da UERJ, militante do PSOL de São Gonçalo/RJ e do setorial LGBT do PSOL
Maria Kallás, militante do PSOL
Mariana Cristina Moraes da Cunha, militante do PSOL Niterói/RJ
Mayco Barroso Rodrigues, militante do PSOL Niterói/RJ
Michel Serpa, militante do PSOL Niterói/RJ
Miguel Borba de Sá, historiador e professor da Universidade Cândido Mendes
Morena Marques, assistente Social e militante do PSOL
Natália Augusta F. de C. Ribeiro Rodrigues, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Natália Coelho de Oliveira, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Nilza Joaquina Santiago da Cruz, militante do PSOL/São Gonçalo
Paulo Eduardo Gomes, ex-vereador e atual presidente do Psol Niterói
Paulo Rodrigues Gajanigo, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Pedro Rocha de Oliveira, professor de filosofia da UFJF
Raquel Sant'Anna da Silva, militante do PSOL Niterói/RJ
Raylane Raimundo Walker, militante do PSOL Rio das Ostras/RJ
Reginaldo Scheuermann Costa, militante do PSOL Niterói/RJ
Régis Arguelles, historiador e professor da rede municipal de ensino
Rejane Hoeveler, historiadora
Renake Bertholdo David das Neves, historiadora
Renatinho, vereador Psol Niterói e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Niterói
Ricardo Cesar Rocha da Costa, professor do IFRJ e militante do PSOL/São Gonçalo
Ricardo Oliveira Barros Filho, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Ricardo Paris, militante do PSOL Rio de Janeiro/RJ
Roberto Leher, professor UFRJ e militante do PSOL
Rodrigo Castelo, professor e militante do PSOL/RJ
Sara Granemann, professora da UFRJ
Sérgio Domingues, militante do PSOL/RJ
Silene de Moraes Freire, professora da UERJ e coordenadora do PROEALC
Sônia Lucio, professora da UFF e militante do PSOL
Stela Guedes Caputo, professora da UERJ
Marco Antonio Peruso, professor da UFRRJ e militante do PSOL
Wallace de Lima Berto, militante do PSOL Niterói /RJ
Winnie Santos Freitas, militante do PSOL Rio das Ostras/ RJ
Retirado do Site do PSTU