sábado, 4 de junho de 2011

Divulgação: Revista Contra a Corrente n.4 "Dossiê PT - 30 anos"


Foi lançada a 4ª edição revista marxista de Teoria, Política e História contemporânea: a Revista Contra a Corrente. Neste número, revista expôs como tema central o título “Dossiê PT – 30 anos”, com um balanço do PT ao longo das suas 3 décadas de existência.

Trata-se de um conjunto de artigos de vários autores, que se debruçaram sobre questões ligadas a gênese e trajetória do PT, discutindo o PT das origens, como PT já nasceu marcado por algumas deformações e como foi se degenerando em partido burguês com o passar do tempo. Os vários artigos também discutem o PT como partido sem estratégia para o poder, como surgiu esse fenômeno não muito corriqueiro de partido de massas com origem operária e outras polêmicas marxistas que marcaram o debate entre as várias correntes internas do partido. A revista é, portanto, muito importante para os interessados em discutir com profundidade os rumos tomados pelo Partido dos Trabalhadores.

Nessa revista, tenho a satisfação de ter contribuído com um artigo e o imenso orgulho de figurar ao lado de grandes intelectuais marxistas na atualidade, como Valério Arcary e Oswaldo Coggiola, apresentando uma controvérsia político-teórica com a direção do PSOL (MES) a partir das elaborações leninistas que dizem respeito a frentes e pactos eleitorais. Para maiores informações e aquisição da revista, acessem o link: Revista Contra a Corrente n.4.

Greve em Santa Catarina continua e recebe apoio de Amanda

Amanda participa da assembleia. No detalhe, professora com cartaz
A greve dos professores de Santa Catarina, aprovada em assembléia com cerca de 10 mil trabalhadores em educação, entrou na terceira semana e conta com 90% de adesão da categoria. A maior mobilização desde 1987 vem ganhando força e apoio da população e de diretores de escolas que estão aderindo à greve.

Do outro lado da trincheira está o governador Raimundo Colombo (PSD), base do governo Dilma. Ele, de forma autoritária, editou uma Medida Provisória que achataria a tabela salarial, para tentar dividir a categoria. O que foi visto como uma afronta ao magistério. Com a MP de Colombo, a carreira seria destruída, os professores que têm graduação ou pós-graduação não ganhariam nenhum centavo a mais por isso. Os professores chegaram a fazer um cortejo fúnebre do Plano de Carreira, pelas ruas do centro de Florianópolis.

Depois da apresentação dessa proposta rebaixada na semana passada, os professores ganharam mais fôlego para continuar na luta, com atos diários e criativos como a queima dos diplomas e enterro da carreira as mobilizações crescem.


Apoio

A presença da professora Amanda Gurgel, fenômeno nacional, que tem emprestado sua voz para debater as condições humilhantes dos trabalhadores em educação no Brasil, contou com 2 mil professores que debateram e reafirmaram o entendimento de que essa é uma luta nacional.

Amanda esteve em Santa Catarina na segunda-feira, dia 30, e falou para os 2 mil professores reunidos na Praça Ivo Campos, em frente à Assembléia Estadual de Santa Catarina. Ela fez um discurso e ainda respondeu a diversas perguntas feitas pelos grevistas, inclusive uma sobre partidos, onde falou sobre sua escolha pelo PSTU.

A professora do Rio Grande do Norte ainda deu entrevistas para jornais locais, para a Rádio Band e jornais da RBS e Record. EM entrevista ao jornal Diário de Notícias, da Record, Amanda afirmou: “O custo de vida aqui é muito alto e eu nunca imaginaria que muitos deles ganham ainda menos do que ganhamos no RN. Mas me sinto muito orgulhosa por ver a mobilização que está sendo feita aqui. O governador deveria respeitar isso”, afirma ela.


PARTICIPAÇÃO DE AMANDA NA ASSEMBLEIA



Próximos passos

A tentativa do governador foi apelar ao governo federal, que não manifestou nenhuma ajuda para solucionar o impasse. Ao mesmo tempo em que os governos estadual e federal dizem não ter orçamento para pagar o Piso Salarial previsto por lei. No entanto, R$ 4,2 bilhões são dados aos grandes empresários como isenção fiscal para importações. Esse valor daria para pagar o piso salarial para todos os professores, em todos os níveis da carreira, por quatro anos. O que temos em Santa Catarina e no Brasil é a prioridade para os empresários em relação aos professores, priorizando os grandes lucros de poucos ao invés de uma educação de qualidade que valorize os trabalhadores.

A vitória dessa semana foi a conquista de uma mesa de negociação com o governador. A categoria vai decidir em uma assembléia estadual nos próximos dias os rumos da greve. Enquanto isso, nos manteremos na luta para, além do piso, garantir toda a pauta da greve que vai desde eleição direta para diretores, concurso público até a bandeira dos 10% do PIB para a educação.


Retirado do Site do PSTU

Drogas: muito além da hipocrisia

Como políticas oficiais, proíbem algumas substâncias, mas estimulam consumo irresponsável de centenas. Por que é preciso fazer exatamente o contrário


Uma política sobre drogas deve abranger os três circuitos de circulação das substâncias psicoativas existentes na sociedade contemporânea: o das substâncias ilícitas, o das lícitas de uso recreacional e o das lícitas de uso terapêutico.

A divisão estrita entre estes três campos é recente e sempre vem se alterando. O álcool já foi remédio, tornou-se droga proibida e voltou a ser substância de uso lícito controlado. Outras, como os derivados da Cannabis, que por milênios fizeram parte de inúmeras farmacopéias, foram objeto de uma proscrição oficial no século 20, a ponto de a ONU querer “erradicar” essa planta – assim como outras, tais como a coca e a papoula, produtora de ópio. Hoje, entretanto, a Cannabis tem uso medicinal reconhecido em muitos estados norte-americanos e em outros países.

Qual a fronteira conceitual estrita que separa essas drogas? LSD, DMT [1] ou MDMA [2] não possuem usos terapêuticos? O que é recreacional e o que é terapêutico? Esse último campo deve estar submetido apenas a monopólios de especialistas ou deve também abranger um amplo uso de técnicas de auto-cura?

Pretendo, neste texto, defender um regime mais “equalizador” em relação aos três tipos de substâncias mencionadas. Ao mesmo tempo que antiproibicionista, ele deve ser mais severo no que diz respeito à interdição da publicidade e à facilidade do acesso. Como “substâncias essenciais” [3] as drogas psicoativas não devem estar ligadas a emprendimentos que estimulem continuamente o consumo na busca dos lucros crescentes que decorrem do interesse privado. Defendo assim, a criação de um “fundo social” constituído com o faturamento de um mercado legalizado e estatizado de produção de drogas psicoativas em geral — tanto as hoje ilícitas como as legais.

* * *

A indústria farmacêutica, no seu conjunto, concentra alguns dos maiores grupos empresariais do planeta. Hiperconcentrada, hiperlucrativa e em acelerado crescimento nas últimas décadas (faturou 773 bilhões de dólares em 2008 [4] ). Estreitamente vinculada ao setor de produção de sementes transgênicas e agrotóxicos, esta indústria fundiu-se com a de alimentos por meio de várias compras e fusões empresariais. O ramo do tabaco também está imbricado com o setor alimentar e farmacêutico.

A última ameaça global pandêmica da gripe suína representou um crescimento ainda mais explosivo da indústria farmacêutica que já era um dos mais expansivos e poderosos.

Assim como ocorre com outros mercados, ele se reveste de uma hipertrofia excessiva nos países centrais e de uma carência enorme nos países periféricos.

A África tem apenas 1% do mercado farmacêutico, embora tenha epidemias como a da Aids que necessitariam enormemente de medicamentos. Desde o início do século 21, a África do Sul ameaçou desafiar o regime de patentes que impedia a venda barata de produtos monopolizados por grandes laboratórios e começar a produzir genéricos num laboratório indiano. A patente do retroviral stavudine pertence a universidade de Yale (e rende 90% dos royalties dessa universidade, várias centenas de milhões de dólares), mas ela a cedeu em exclusividade para o laboratório Squibb (BMS), que após uma grande disputa ofereceu o medicamento a um preço menor para os africanos, mas sem quebrar o seu monopólio.

Esse monopólio de patentes como direito de propriedade intelectual representa uma forma de exclusivismo na circulação do conhecimento e é um dos pilares da forma atual de funcionamento do comércio internacional que favorece a acumulação de capital em detrimento dos interesses sociais da maioria da humanidade.

É possível quebrar monopólios de patentes (cuja duração é de vinte anos), em casos como uma epidemia ou a segurança nacional, mas mesmo na recente pandemia da gripe H1N1 não se colocou em causa a quebra da patente do Tamiflu. Os medicamentos continuam a ser produtos caríssimos e sua obtenção não está incluída nos planos de saúde.

Sabe-se que ao menos 1/4 de todos os remédios da indústria farmacêutica derivam de saberes fitoterápicos de povos tradicionais, que identificaram a maior parte das plantas medicinais e alimentares5. Os povos do mundo, entretanto, não recebem royalties e nem tampouco nunca lhes ocorreu monopolizar esse saber de forma implacável como faz a indústria farmacêutica.

Dentre o conjunto dos medicamentos (que totalizam em média cerca de 15% dos orçamentos de saúde nos países centrais), destacam-se os chamados de psicoativos, que são os indicados para os estados de humor, como promoção da alegria e combate à tristeza; para os problemas mentais, como ansiedade ou falta de concentração; para o aumento do desempenho intelectual ou físico; para a tranquilização, sedação e analgesia; para a excitação sexual, etc.

Existem, portanto, três circuitos de circulação de drogas psicoativas na sociedade. O das substâncias ilícitas compõe um mercado paralelo e clandestino, cujo volume é calculado em torno de 400 bilhões de dólares, alimentado basicamente dos derivados de algumas das plantas mais tradicionais da história da humanidade: a coca, a canábis e a papoula. Cada vez mais cresce também um número de centenas de moléculas sintéticas novas que vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos em laboratórios clandestinos. O montante do faturamento e as consequências sociais em geral associadas a essas drogas – como a violência e alto índice de aprisionamento – decorrem não do efeito específico das substâncias, mas, sobretudo, da sua condição de ilegalidade.

O circuito das substâncias lícitas de uso recreacional, como o tabaco, as bebidas alcoólicas e cafeínicas, é regido pela legalidade, trazendo assim problemas relacionados ao uso abusivo ou excessivo e seus efeitos sociais – mas não uma violência intrínseca. É um mercado poderoso, de grandes multinacionais associadas à indústria da alimentação, mas também conhece micro-produtores domésticos ou artesanais. Todas estas substâncias já foram objeto de perseguição e tentativas de proibição. No caso do álcool, provocaram os problemas ligados à chamada “lei seca” que vigorou de 1920 a 1933 nos Estados Unidos.

O circuito que mais notável nas últimas décadas, entretanto, foi das substâncias da indústria psicofarmacêutica, chamados de remédios psicolépticos, psicoanalépticos e psicodislépticos. Desenvolvido especialmente a partir do segundo pós-guerra, é o mais rentável e o que mais tem crescido. É o de circulação mais volumosa, com maior número de consumidores e faturamento. Seus grandes fundamentos são o sistema de patentes, o monopólio médico da prescrição, um mercado publicitário dirigido para quem toma a droga, mas também corruptor de quem a ministra (laboratórios que convencem médicos a receitarem os seus produtos). Sua outra contrapartida indispensável é a proibição concomitante do uso de diversas plantas psicoativas de uso tradicional – como a canábis, a papoula e a coca. As funções psicoterapêuticas que estas têm em medicinas tradicionais, passaram a ser substituídas por pílulas farmacêuticas.

* * *

O mercado das substâncias psicoativas controla os mais eficientes instrumentos na luta contra o sofrimento e a busca da alegria. As drogas – não importa se fluoxetina, álcool ou maconha – oferecem a amenização da dor e a intensificação do prazer. Por isso são usadas. E de fato cumprem a promessa – cada uma com suas limitações e preço. Se existem há milênios, é porque não enganam a humanidade: trazem aquilo que nelas é buscado.

Num tempo de aumento de tensões e de sofrimentos psíquicos diversos e complexos, estão disponíveis centenas de moléculas puras, para os mais diversos efeitos. A indústria farmacêutica busca ampliar seu monopólio, substituindo usos de plantas tradicionais por fármacos patenteados, e colonizando cada vez mais a vida cotidiana, oferecendo novos “remédios” para as mais diferentes esferas comportamentais.

O maior número de usuários e dependentes de drogas na sociedade contemporânea são os consumidores de produtos da indústria farmacêutica. As drogas de farmácia também têm usos variados, que podem ser benéficos ou nocivos, equilibrados ou abusivos. Uma parte dos consumidores faz uso abusivo. Cerca de um terço das intoxicações que ocorrem no país, por exemplo, são devidas a drogas da indústria farmacêutica, numa proporção muito maior do que as que ocorrem por causa do uso abusivo de substâncias ilícitas.

Artigo do jornalista Ruy Castro, na Folha de S.Paulo (28/12/09) [6], lembrou, a propósito da morte da atriz Brittany Murphy, que muitos outros artistas sofreram, assim como ela, assim como ela, do uso excessivo de remédios legais que os levaram a morte. Foram citados Carmem Miranda, Marilyn Monroe, Judy Garland, Elvis Presley e Michael Jakson.

Só no Brasil, há mais de 32 mil rótulos de medicamentos, com variações de 12 mil substâncias (a OMS considera como realmente necessários 300 itens), vendidos em mais de 54 mil farmácias (uma para cada três mil habitantes, o dobro da recomendação da OMS) [7]

Uma parte cada vez maior destas drogas são substâncias psicoativas. Entre as principais estão os antidepressivos, as anfetaminas, os benzodiazepínicos, e muitos outros mais. Em 2008 e 2009 o segundo medicamento mais vendido no Brasil foi o benzodiazepínico Rivotril [8].

A dependência de remédios, uma forma de consumo compulsivo às vezes chamada popularmente de “hipocondria” é uma característica marcante da relação das pessoas com as drogas. Por serem, por vezes, receitadas por um médico, são chamadas de “remédios”, mas o seu resultado é exatamente o mesmo de qualquer outro consumo compulsivo, podendo levar à efeitos daninhos para o organismo e à dependência e tolerância.

Queixas de mal-estares vagos em pronto-atendimentos são medicadas comumente com benzodiazepínicos, especialmente se as pacientes forem mulheres e donas-de-casa. O uso de moderadores de apetite não só para diminuição de peso, mas como estimulante também se propaga, ao ponto do Brasil ser um dos maiores mercados mundiais.

Também é comum o uso de certos produtos farmacêuticos para finalidades distintas das indicadas, devido a seus efeitos colaterais. Xaropes para tosse com codeína, remédios para dor de cabeça como Optalidon, medicamentos para mal de Parkinson como Artane ou mesmo de analgésicos são empregados como drogas para combater dores mais psíquicas do que propriamente orgânicas.

O uso de doses inapropriadas de drogas comuns pode ser extremamente perigoso, é o caso de overdoses da própria aspirina, que um estudo recente de Karen M. Starko apontou poder ser responsável por parte dos mortos na época da epidemia da gripe espanhola, em 1918 [9]. Durante a epidemia da gripe suína, chegou a se proibir a veiculação de publicidade de antifebris, para não haver indução à medicação excessiva, desnecessária e muitas vezes perigosa.

Muito além do simples e indefinível efeito farmacológico objetivo, todo remédio também é uma representação que se auto-reforça por meio do efeito-placebo inerente à todo medicamento. O que se vende com o mercado de drogas são modos de produção da subjetividade. Assim o fazem os usuários que as inserem em contextos sociais, cerimoniais e até rituais. Também assim o consideram as agências publicitárias que, ao promoverem álcool, tabaco ou remédios, vendem estados de espírito, modelos de felicidade da alma, humor em pílulas. Mais do que venderem, exacerbam, pois, conforme a hipnótica cantilena publicitária, só há requinte com um cigarro na mão, só há festa com cerveja e decotes generosos, só há felicidade plena com o sono, a ansiedade e a tristeza geridos por meio de doses de pílulas ou elixires.

Por isso os orçamentos administrativos e de marketing das indústrias farmacêuticas são muito maiores que os de pesquisa. Estes sempre são interrompidos após o lançamento do fármaco no mercado, não havendo acompanhamento exaustivo de seus efeitos previstos e colaterais de longo prazo nas populações usuárias. A própria técnica publicitária nasce, desde o final do século XIX, fortemente ligada à venda de medicamentos, tônicos, fortificantes, etc., vendendo estilos de vida mais do que os produtos em si. Até hoje, o setor da venda de drogas (seja álcool, tabaco ou remédios) representa uma das maiores fatias do mercado publicitário internacional e brasileiro.

* * *

De toda a indústria farmacêutica, o setor das drogas psicoativas é não só uma das mais lucrativas como a que teve influência cultural mais significativa. O que pouco se percebe é que paralelamente à emergência de um proibicionismo de certas drogas ocorreu uma exacerbação na compulsão ao consumo de fármacos industriais (assim como também o de alimentos e outras mercadorias).

Os anti-psicóticos, soníferos, tranquilizantes, ansiolíticos e anti-depressivos despontaram desde os anos 1950 como carros-chefes não só da indústria, como de estilos de vida. O uso de pílulas tornou-se um hábito considerado normal, não só como suplementos vitamínicos ou fortificantes, mas como reguladores mentais, moduladores psíquicos, capazes de alterar o humor, o sono, a tensão e a motivação.

Junto a cada um dos novos fármacos se construiu uma entidade nosológica nova, para a qual cada medicamento seria o específico terapêutico. O erro central dessa visão psicofarmacêutica é considerar o sintoma (por exemplo, a depressão) como a doença. Ao invés de oferecer uma interpretação do seu sofrimento e de suas causas, uma “narrativa” que lhe desse sentido, como diz David Healy, passou a se oferecer (vender, melhor dizendo) uma pílula miraculosa. Este médico e professor de Medicina Psicológica fez uma análise da emergência da depressão como um quadro clínico e nosológico desde os anos de 1950 – e da concomitante ascensão dos medicamentos antidepressivos como mercadorias de alta lucratividade numa das indústrias que mais floresceu desde o segundo pós-guerra. O livro em que relatou suas observações, The Antidepressant Era (1997), é obra importante para compreender os múltiplos significados dessa era de novas drogas e novas políticas sobre drogas, que abrangem não apenas o universo médico strito sensu, mas também a vida cotidiana cada vez mais medicalizada e farmacologizada.

A partir dos anos 1950, a grande inovação – além dos barbitúricos, para sedação – foram remédios contra a depressão, tais como imipramina, lançada em 1957 sob o nome de Tofranil. Veio a seguir a amitriptilina, lançada em 1961. Nem sequer o escândalo da talidomida, lançada como sedativo e tranquilizante, em 1957, e responsável por mais de seis mil casos de má-formação fetal em grávidas que o usaram, desestimulou o crescente mercado do consolo e do apaziguamento psíquico.

Nos anos 80 e 90 a fluoxetina, sob o nome de Prozac, tornou-se um dos medicamento psicoativos a vender muitos bilhões de dólares e foi o emblema de uma época em que a indústria farmacêutica criava uma nova cultura de dependência de drogas – ao mesmo tempo que se desencadeava uma guerra sem quartel contra algumas drogas ilícitas, muitas delas plantas de usos tradicionais milenares.

Recentemente, a própria suposta eficácia dos anti-depressivos foi questionada, pois nem todos os estudos realizados são publicados. Mesmo entre os publicados, a diferença entre o efeito dos placebos comparado ao efeito dos fármacos é muito pequena, nos casos majoritários de depressões leves [10].

Ainda assim, o uso (inclusive infantil) de psicoativos como antidepressivos aumentou vertiginosamente, estendendo-se a um conjunto infinito de condutas a serem supostamente corrigidas pelo medicamento. De enurese noturna até hiperatividade, de insônia a ansiedade, de “pânico social” à “síndrome do pânico”, dentre os tantos novos rótulos que surgem para configurar supostos quadros nosográficos. A OMS profetiza que, em algumas décadas, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo, o que por si já é revelador da situação de insustentabilidade que vive o sistema econômico capitalista. Recentemente surgiu até mesmo uma versão veterinária do Prozac para cães.

O uso de drogas na sociedade cresce sobretudo por meio dos remédios legais, cuja publicidade incita a um consumo fetichizado e hipocondríaco, na busca de panaceias químicas para mal-estares sociais e psicológicos.

Uma política realmente democrática em relação às drogas psicoativas seria aquela que legalizasse todas, submetendo-as a um mesmo regime, não importa se remédios sintéticos ou derivados de plantas tradicionais. Ao mesmo tempo, tal política deveria ampliar a severidade dos controles, distintos para cada substância. Toda publicidade em veículos de mídia destinados ao público em geral deveria ser proibida. A fiscalização e punição para consumos irresponsáveis – ao volante, por exemplo – de álcool ou outras drogas, deveria ser rígida.

Outra medida necessária seria a estatização da grande produção e do grande comércio. Ela evitaria que corporações gananciosas dominassem o mercado e garantiria que todos os lucros desse comércio fossem direcionados para fins sociais – inclusive para programas de desabituação para os consumidores problemáticos que necessitassem. Além de uma política em favor dos genéricos e da quebra das patentes farmacêuticas, o Estado deveria garantir a fabricação de todos os fármacos indispensáveis, oferecendo-os ao menor preço possível e aplicando os lucros obtidos no interesse social. Um amplo programa de pesquisa, com financiamento e destinação pública, poderia assim estimular também o desenvolvimento de novos fármacos.

Tais diretrizes deveriam se aplicar tanto aos remédios fisiológicos quanto aos três grupos de substâncias psicoativas consideradas nestes estudo: as da indústria farmacêutica; as recreativas lícitas, como álcool e tabaco; e as hoje consideradas ilícitas. A legalização da maconha, da cocaína e de todas as drogas, sob controle estatal do grande atacado e produção afastaria o atrativo para o crime organizado, permitiria maior monitoramento dos usos problemáticos e encaminhamento dos necessitados a tratamentos. Financiados pela própria renda gerada na venda legal, seriam oferecidos no serviço público de saúde.

Por que não criar-se um Fundo Social – resultado não apenas de impostos, mas do controle econômico estatal da grande produção e circulação de drogas, remédios, bebidas e cigarros? O conjunto do faturamento obtido poderia servir para custear o orçamento de Saúde Pública.

Um leque imenso de iniciativas individuais, familiares, comunitárias e microempresariais poderia ser não só mantido, mas estimulado, no campo do cultivo e da produção dessas substâncias. Produtores de bebidas como vinhos, cervejas ou aguardentes, cultivadores de fumos de qualidade ou canabicultores deveriam ser estimulados com apoio creditício e fiscal.

O conjunto das drogas legalizadas acabaria com os efeitos nefastos do chamado “narcotráfico”, encerraria a “guerra contra as drogas”, libertaria os prisioneiros dessa guerra: em torno de metade da população carcerária tanto nos EUA como no Brasil. Seria interrompido o crescimento vertiginoso do encarceramento por drogas, principal fonte de lucros para o sistema penal privado norte-americano e mecanismo de repressão social e racial contra os pobres e os afrodescendentes no Brasil. Reduziriam-se os danos sociais dos usos problemáticos de drogas. Seriam potencializados os usos positivos, tanto terapêuticos como recreacionais.

Os fármacos em geral, e os psicofármacos em particular, oferecem um florescente futuro. Inúmeras novas moléculas poderão ser inventadas, além dos usos diversos que já se podem fazer das substâncias existentes. Isso amplia um repertório que serve a fins terapêuticos, lúdicos, recreacionais, devocionais, de reflexão filosófica, de autoconhecimento e de regulação humoral (os timolépticos). Infelizmente, também pode ser usado de formas autodestrutivas, excessivas, abusivas e descontroladas. Uma cultura da autonomia responsável supõe o uso consciente do potencial de todos os fármacos, que são, como os alimentos, produtos da cultura material que ingerimos para finalidades úteis ao nosso corpo.

Usar as “tecnologias de si” de forma construtiva significa por um lado acabar com a “guerra contra as drogas” e o proibicionismo demonizante de certas substâncias. Mas, por outro, significa recusar os efeitos alienantes de uma cultura publicitária que faz da saúde um negócio e da necessidade das drogas um mercado oligopólico global.

Como políticas oficiais proíbem algumas substâncias, mas estimulam consumo irresponsável de centenas. Por que é preciso fazer exatamente o contrário.


Bibliografia:

BALICK, Michael J.; e COX, Paul Alan, Plants, People, and Culture. The Science of Ethnobotany, N. York, Scientifican American Library, 1997.

HEALY, David, The Antidepressant Era, 1997, Harvard University Press, 1997.

IMS HEALTH www.imhshealth.com

MOYNIHAM, Ray; e CASSELS, Alan, “Comerciantes de enfermedades” in Le Monde Diplomatique Ed. Chilena, Santiago, 2006.

RUDGLEY, Richard, Essential substances. A cultural history of intoxicants in society, N. York, Kondansha, 1993.


Notas:

1 Dimetrilptamina, princípio ativo do ayahusca, utilizado nos rituais do Santo Daime. Mais informações na Wikipedia
2 Metilenodioximetanfetamina, também conhecida como ecstasy. Verbete na Wikipedia
3 Expressão adotada por Richard Rudgley para denominar as drogas psicoativas em Essential substances. A cultural history of intoxicants in society (N. York, Kondansha, 1993).
4 Cf. IMS Health, 2009.
5 Michael J. Balick e Paul Alan Cox, Plants, People, and Culture. The Science of Ethnobotany, N. York, Scientifican American Library, 1997,p.25.
6 Ruy Castro, “Vale das bolinhas”, FSP, 28/12/2009, p.2.
7 Jomar Morais, “Viciados em remédios”, Superinteressante, nº 185, fevereiro de 2003, p.44.
8 Segundo IMS Health, o primeiro é uma pílula anticoncepcional.
9 “Aspirina pode ter tido um papel na epidemia de gripe de 1918”, Nicholas Bakalar (New York Times), in Folha de S.Paulo, 13/10/2009.
10 “Effectiveness of antidepressants: an evidence myth constructed from a thousand randomized trials?”, John P. A. Ioannides, in Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine, 3:14, 27 de maio de 2008.


Retirado do Site do PSTU

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Dia 31 teve paralisação, ato e twittaço em defesa da educação

Além dos trabalhadores da educação que já estão parados em várias regiões, como os professores do Rio Grande do Norte, Paraíba e Fortaleza, o último dia 31 foi marcado por uma série de iniciativas em defesa da educação.

Seguindo seu calendário de mobilizações, os professores estaduais de Minas Gerais realizaram um dia de paralisação e, em assembleia, aprovaram greve a partir do dia 8 de junho. O ato público dos professores mineiros contou com a participação da professora do Rio Grande do Norte Amanda Gurgel.


Solidariedade

No mesmo dia em Brasília, militantes da CSP-Conlutas realizaram um protesto em solidariedade aos trabalhadores da educação do Rio Grande do Norte. O ato foi em frente à sede do Ministério da Educação, onde a Secretária de Educação potiguar, Betânia Ramalho, estava presente.

As faixas estendidas denunciavam a situação precária em que passam professores, alunos e servidores de educação no estado. O governo diz que não tem dinheiro para resolver o problema, e lava as mãos. Também lembramos o exemplo de Amanda Gurgel, grevista que denunciou a situação e se tornou porta-voz do movimento.



A luta dos trabalhadores da educação pela valorização da categoria já se espalha por vários estados do país. O piso mínimo aprovado em lei não está sendo respeitado pela grande maioria dos governadores e prefeitos. Essa luta não é apenas dos profissionais da educação, mas de todo o povo brasileiro.


Twittaço 10% do PIB já para educação

Parte de um movimento que surgiu de forma espontânea na Internet, ao redor do fenômeno Amanda Gurgel, houve ainda no dia 31 um ‘twittaço’ exigindo 10% do PIB para a educação.

De Belo Horizonte, a professora potiguar apareceu via twitcam para toda a rede mundial. Cerca de 300 internautas puderam acompanhar e twittar diretamente com a professora. Pedidos de apoio a escolas de todo país e mensagens de reconhecimento da luta desta militante preponderaram na timeline de Amanda.

Diretores de escola, professores, alunos, pais e mães de todos os lugares como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Santa Catarina e, claro, de seu estado natal, Rio Grande do Norte, puderam compartilhar, ao vivo, do twittaço com Amanda. E não só isto. Um grupo de brasileiros na Austrália também assistia à professora e relatou que o vídeo no youtube teve repercussão internacional.

Alunos da universidade pública do Rio Grande do Norte se organizaram e apareceram para saudar a mestre. Amanda recebeu muito carinho, enviou beijos e abraços para muitos internautas. E seu apelo era frequente: "vamos colocar a educação no topo! #dezporcentodopibjá". Em pouco tempo, a hashtag alcançou o 3º lugar nos Trending Topics Brasil. Mas como a própria Amanda diz, < i>"precisamos transformar nossa angústia em ação".


Retirado do Site do PSTU

terça-feira, 31 de maio de 2011

Opinião Socialista chega aos seus 15 anos

Capa do 1º Opinião Socialista
Neste dia 31 de maio o jornal do PSTU, Opinião Socialista, completa 15 anos de existência. Ao longo dessa década e meia foram 424 edições que atravessaram diferentes momentos da história recente do país. Sempre se firmando de forma clara como uma imprensa operária, de esquerda, um contraponto à hegemonia da mídia burguesa.

Durante esses anos o Opinião adquiriu diferentes formatos ou periodicidade. Mas esteve sempre ligado à luta de classes. Acompanhou momentos decisivos, como a luta contra as privatizações do governo FHC. Criticou a guinada à direita que do PT no período dos mandatos do governo do PSDB. Analisou o desgaste das políticas neoliberais no mundo e o surgimento de uma onda revolucionária que derrubou sucessivos governos na América Latina.

Momentos antes de Lula assumir a presidência, advertiu que, mantendo-se a política econômica do governo anterior, nada mudaria. E durante os oito anos de mandato do PT, foi uma das poucas vozes que se declarou “oposição de esquerda”, numa conjuntura em que a quase totalidade da esquerda brasileira passava de malas e bagagens para o outro lado.


Um jornal leninista

A longevidade do Opinião Socialista se deve à reafirmação constante de seu caráter leninista: ou seja o jornal enquanto órgão central para o partido, que tenha tanto a função de um “organizador coletivo”, como de um “propagandista” e “agitador” político. E isso submetido a uma estratégia: a construção de um partido revolucionário e a revolução socialista.

E é por isso que o jornal do PSTU se mantém ativo enquanto várias organizações que até pouco tempo atrás reivindicavam uma estratégia socialista, simplesmente abandonam seus periódicos. Abandonam, na verdade, qualquer perspectiva de mudança radical da sociedade, para investir no mais das vezes numa estratégia meramente eleitoral.




Uma história muito maior

Comemoramos agora os 15 anos de Opinião Socialista, mas o atual jornal do PSTU é devedor de uma tradição muito anterior. Pode-se dizer que a história da imprensa do partido se confunde a trajetória da própria organização no país. Seguindo a linha do tempo do PSTU e do Opinião, chegamos ao ano de 1974, com a corrente Liga Operária e seu jornal Independência Operária.

Ainda sob o regime militar, reproduzido por mimeógrafo, sua distribuição era completamente clandestina. No final dos anos 70, o lendário jornal Versus vai substituir o Independência Operária, refletindo toda a efervescência do movimento operário do ABC.

Nos anos 80, com a formação da Convergência Socialista e sua inserção no movimento que culminaria na formação do PT, o partido passa a publicar seu jornal homônimo. Foi o Jornal da Convergência Socialista o responsável por acompanhar aquela turbulenta década e travar duros debates com a esquerda, na época fundamentalmente aglutinada no Partido dos Trabalhadores.

Com a expulsão da CS e a fundação do PSTU, o partido passa a publicar o “Jornal do PSTU”, que dura de 1994 a 1996. Após uma consulta com a militância e os leitores, o jornal adota finalmente o nome Opinião Socialista, que o acompanha até hoje.


Desafios

Chegamos a 15 anos de Opinião, e quase quatro décadas de imprensa. Mas se por um lado a história que nos precede é longa, por outro os desafios colocados no horizonte não são menores. Além de continuar sendo ponto de apoio para a luta de classes, há a necessidade de se discutir com toda uma camada de ativistas que aparecem cotidianamente nas lutas a importância do resgaste do classismo, ou seja, a ideia de que emancipação dos trabalhadores se dará pelos próprios trabalhadores.

Numa época em que os setores hegemônicos da esquerda já abandonaram qualquer perspectiva de mudança, o OS tem o sentido de ser uma ferramenta para a discussão de uma estratégia socialista para se mudar de fato a realidade. Isto é, uma ferramenta para os militantes conversarem, debaterem, discutirem política com os ativistas. E isso entre estudantes, professores, operários, servidores públicos e todos aqueles que se dispõem a lutar.

Esse é o sentido de nossa existência. Opinião Socialista, um jornal operário, de esquerda e socialista!


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    Amanda participa de passeata da Educação em Natal

    Ato na quinta, dia 26, reuniu professores, estudantes e representações de outras categorias em luta


    João Paulo
    Amanda recebe o carinho dos professores do Rio Grande do Norte
    Cerca de mil pessoas, entre professores e estudantes, coloriram de vermelho uma das mais movimentadas avenidas de Natal no último dia 26. Com o apoio dos alunos das escolas e de caravanas vindas do interior, os servidores da educação do Rio Grande do Norte, em greve há um mês, realizaram uma passeata partindo do ginásio Machadinho em direção ao prédio da Governadoria do Estado, no Centro Administrativo. O objetivo do protesto foi forçar a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) a negociar com a categoria e a atender as reivindicações de professores e funcionários. A manifestação também contou com a importante presença da professora e servidora estadual, Amanda Gurgel, reconhecida nacionalmente após denunciar as péssimas condições de trabalho diante de deputados estaduais.

    Durante a passeata, vários servidores procuravam a professora Amanda Gurgel para expressar seu apoio e carinho. Entre uma foto e outra ao lado de Amanda, os trabalhadores mostravam sua solidariedade e cumprimentavam a professora pela coragem em denunciar o caos que vive a educação pública no Estado e no Brasil. “As minhas palavras só ganharam essa repercussão porque refletem o sentimento de todos esses profissionais que estão em greve. Vamos agora unir forças em outros estados para que as greves se tornem cada vez mais uma força nacional de reivindicação. A educação tem que ser tratada como prioridade”, disse Amanda.





    Reprovação do governo já atinge 44,15%

    No mesmo dia da manifestação, o instituto Consult divulgou uma pesquisa de popularidade na qual a governadora Rosalba Ciarlini aparecia com 44,15% de reprovação apenas nestes cinco primeiros meses de administração. Toda essa rejeição também se expressou nas críticas feitas por servidores e estudantes contra o governo durante a passeata. “Essa Rosa só trouxe muitos espinhos”, dizia um cartaz em referência ao nome da governadora. Outro criticava a falta de negociação: “Mais 120 dias para negociar não dá. Respeito já!”.

    Já em frente ao prédio da Governadoria, servidores da educação e estudantes reafirmavam a pauta de reivindicações e exigiam ser recebidos pela governadora. Cantando palavras de ordem, eles denunciaram a omissão do governo e cobraram 30% de reajuste salarial para os professores. “Rosalba tirou zero! Respeite o magistério!”, cantavam.

    Além do reajuste de 30%, os educadores reivindicam a implantação do Plano de Carreira dos funcionários, a revisão do Plano dos professores e melhor estrutura nas escolas. Atualmente, 93% dos 14 mil servidores da educação do Rio Grande do Norte estão em greve. Ao todo, são 736 escolas paralisadas. Outras dez categorias também estão em greve e reforçam o quadro de lutas por direitos no Estado. Além dos professores e policiais civis, trabalhadores de vários setores da administração indireta cruzaram os braços. Na internet e na imprensa, o Rio Grande do Norte se transformou em “Rio Greve do Norte”.


    10% do PIB para a Educação Já!

    Discursando para cerca de mil pessoas, a professora Amanda Gurgel voltou a defender a aplicação imediata de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação e convocou mais uma manifestação pelo twitter em defesa da proposta. “No próximo dia 31, todo mundo que se importa com a educação dos nossos jovens deve enviar mensagens com a hashtag #dezporcentodopibja, para que alcancemos mais uma vez o topo do twitter. A partir disso, podemos construir atos nacionais apontando para uma possível greve no país.”, afirmou Amanda.

    Os estudantes também defenderam a aplicação de 10% do PIB na educação e expressaram sua solidariedade à greve da educação em cartazes exibidos durante a passeata. “Nós, alunos, acreditamos nas reivindicações dos professores.”, dizia um deles, mostrando que os verdadeiros culpados pelo caos na educação são outros.

    Amanda Gurgel ainda denunciou o governo do Estado por seu descaso e desprezo com a educação. “Não existe possibilidade de volta às aulas enquanto não houver proposta do governo. O governo demonstra que não tem mais nem descaso com a educação. Nesse caso, a situação já evoluiu para desprezo. A nossa luta é pela qualidade da educação e não para que a escola funcione como depósito de crianças como a secretária Betânia Ramalho (educação) pensa. Para ela, nós temos que estar em sala de aula para garantir que os pais saiam para trabalhar. Mas a nossa idéia sobre educação é outra.”, destacou a professora.

    No dia seguinte à manifestação, o chefe do gabinete civil do governo, Paulo de Tarso, recebeu o sindicato da categoria, mas a resposta foi a mesma: o Estado não tem dinheiro para pagar o reajuste.


    Governo sem dinheiro? A arrecadação diz o contrário

    Até abril desse ano, o governo do Rio Grande do Norte arrecadou R$ 2,39 bilhões, o que representa um aumento de quase 10% se comparado ao mesmo período do ano anterior, quando os valores tinham atingido R$ 2,19 bilhões. Segundo o Portal da Transparência, até agora o tesouro captou R$ 2,72 bilhões. Os cofres do Estado receberam R$ 1,12 bilhões nestes quatro primeiros meses só em impostos. O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é quase a totalidade do valor, correspondendo a R$ 971 milhões até o momento. Para se ter uma idéia do aumento da arrecadação, a folha de pagamentos do Executivo do mês de maio é prevista em R$ 230 milhões, menor do que o arrecadado em ICMS, que fechou em R$ 246 milhões, a seis dias do fim do mês.

    Em entrevista ao Jornal de Hoje, o defensor público Serjano Vale questionou a falta de recursos do Estado para atender às reivindicações dos servidores em greve. “A arrecadação do Estado para esse ano teve um excelente aumento, o governo reduziu os gastos com o erário e o Fundo de Participação do Estado (FPE) não teve queda. O custo operacional do Estado teve uma redução percentual bastante significativa.
    Então, se a receita do ano anterior era menor e conseguia cobrir as despesas fixas com a manutenção dos serviços, como este ano, que o orçamento teve acréscimo e as despesas diminuíram não consegue?”, indagou. E criticando os gastos com a realização da Copa de Mundo completou: “O Estado diz que não tem condições para arcar com os reajustes dos planos, mas tem coragem de celebrar um contrato de R$ 400 milhões para assumir o compromisso de trazer uma Copa do Mundo para Natal”.


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