quinta-feira, 10 de junho de 2010

Construir as lutas e reafirmar a democracia operária são as tarefas da nova central

Aproximadamente quatro mil ativistas (dentre eles, três mil delegados) estiveram presentes em Santos, nos dias 05 e 06 de junho, para fundar uma nova central, que reunisse Conlutas, Intersindical e diversos outros setores combativos da esquerda para construir uma alternativa ao sindicalismo de colaboração de classes das entidades governistas (CUT, CTB, Força Sindical, etc.).

Este congresso foi o coroamento de uma ampla discussão em encontros, fóruns e seminários estaduais com forte participação das entidades de base, que construíram um consenso ao redor da proposta de formação de uma central alternativa às centrais governistas, com um programa de total independência de classe, anticapitalista, internacionalista e com uma plataforma de ação não apenas para as lutas imediatas, mas que pudesse superar o economicismo e travar uma luta política pela transformação da sociedade, pelo socialismo.

Além de todo acúmulo ao redor dessa plataforma – o que cala as provocações de alguns grupos que se entrincheiram na exigência de um programa que já existe –, também houve um acordo muito importante entre todas as organizações convocantes do CONCLAT: as diferenças que existissem deveriam ser resolvidas pela base, no próprio congresso, a partir da manifestação daqueles que foram legitimamente eleitos pelos trabalhadores para decidir sobre a nova central.


A nova central e a democracia operária: uma questão de princípio e metodologia

Mesmo diante de todo o acordo sobre o programa, concepção de movimento, conjuntura, plano de lutas e inclusive sobre o estatuto da nova central, setores como a Intersindical, MAS (Movimento Avançando Sindical) e Unidos para lutar (CST/PSOL e FOS) decidiram romper com o congresso após a votação sobre o nome da entidade, que agora se chama Conlutas-Intersindical: Central Sindical e Popular (proposta formulada pelo MTL), por decisão de aproximadamente 2/3 do CONCLAT.

Infelizmente, os companheiros partiram para uma posição que se resume no seguinte: “sou minoria, mas se a base não aprovar o que estou defendendo, rompo imediatamente”. Na verdade, essa é uma prática muito comum no interior da CUT, onde prevalece os acordos entre as correntes em detrimento das decisões pela base. Os companheiros precisam se desvencilhar dessa metodologia, não apenas porque ela já se mostrou fracassada na construção dos organismos de frente única, mas também porque isto rompe com tudo o que foi acumulado antes do CONCLAT.

Como exemplo de respeito à democracia operária e de uma compreensão correta dessa metodologia que devemos utilizar para dirimir as divergências, temos a declaração dos companheiros do MTST e da Conspiração. Ambos defenderam e votaram contra o nome defendido pela maioria da Conlutas e pelo MTL, mas respeitaram o entendimento de que os delegados do congresso decidiriam as diferenças no voto e por isso, continuarão na construção da nova central.

Essa ruptura pode se mostrar como algo desmedido diante de uma polêmica “fútil”, mas isto é apenas a aparência. Na essência, essa atitude absolutamente equivocada deixa à mostra uma dificuldade desses companheiros para colocar em prática algo que para nós deve ser princípio: a democracia operária.

Permitir que a nova central já nascesse com esses vícios seria construir um instrumento que já surge com graves problemas de princípio e de método. O tencionamento que se deu feito mediante a diferença do nome hoje (mesmo que alguns a considerem irrelevante), surgiria amanhã perante outras diferenças que porventura surjam, inclusive as políticas e programáticas. Foi exatamente por não levar em conta o critério da democracia operária, mas sim as decisões de cúpula, que a CUT se transformou num aparato fossilizado que não se pode mudar por dentro. Não queremos isso para a nova central.


O oportunismo gêmeo do sectarismo

Um elemento bem secundário, mas bastante excêntrico no CONCLAT foi a participação dos pequenos grupos de ultra-esquerda. Embora as já conhecidas e esdrúxulas caracterizações políticas de que há um processo de ofensiva revolucionária que determina a construção de greves gerais, políticas de liquidação imediata das organizações centristas e a edificação de sindicatos vermelhos tenham estado completamente à margem do centro da discussão do CONCLAT, pudemos ver um fenômeno interessante, expresso na posição que alguns desses grupos tiveram diante das polêmicas da unificação e frente o rompimento da Intersindical com o congresso.

Alguns agrupamentos que antes tinham um discurso contrário à unificação e que caracterizavam o processo como um “rebaixamento de programa” fruto da “aniquilação do papel progressivo da Conlutas”, que cada vez mais “descia ralo abaixo”, estranhamente mudaram de posição, sem qualquer autocrítica. Subiram ao palco para falar da “importância da unificação” e fizeram um balanço da Conlutas oposto ao que defenderam em suas bases e nas próprias teses que escreveram. Talvez a presença de mais de quatro mil lutadores que envidaram esforços para construir uma alternativa à traição das centrais governistas que realmente enfrente os patrões e a Frente Popular, tenham constituído uma pressão social que fez esses companheiros refletirem melhor suas posições.

Já sobre a questão da ruptura da Intersindical, a coisa foi ainda mais interessante. Os mesmos grupos que estavam contra a unificação, agitando esse setor como “semi-governista”, “pelego” e “traidor de greves”, uniram-se aos argumentos da Intersindical para imputar à maioria da Conlutas a responsabilidade sobre o racha do Congresso. Alguns companheiros desses agrupamentos se mostraram inclusive “traumatizados” com o ocorrido, armando-se dos mesmos argumentos de “hegemonismo” por não se ter “aberto mão do nome da central”, falsificando completamente a democracia operária que marcou o CONCLAT e garantiu não apenas que todas as decisões (inclusive a questão da voz dos observadores e do encaminhamento das deliberações dos grupos para a Coordenação) em base ao voto dos delegados eleitos pela base, mas sobretudo que grupos que não possuíam sequer uma dezena de delegados pudessem apresentar teses, defender propostas e se expressar em pé de igualdade com todos os outros.

Na verdade, posições como estas expressam a face oportunista do sectarismo. Organizações que em princípio – para serem coerentes – estariam hoje satisfeitas com a ausência da Intersindical na nova central e que em discurso dizem ter acordo com a democracia operária, agora procuram construir invectivas para manchar a postura firme da direção da Conlutas e as decisões da instância do congresso. Esse oportunismo reflete a total falta de compromisso dessas organizações com a reorganização e com a luta da classe, na medida em que se ocupam apenas travar uma luta política a partir das intrigas e dos seus balanços tortos, para se construir.


É preciso remotar a unidade e respeitar a democracia!

Embora a nova central tenha sido criada, sabemos que ela poderia estar muito mais forte. O rompimento da Intersindical, Unidos e MAS (que representavam aproximadamente um terço do congresso), longe de ser uma vitória, não é o que queríamos.

Por isso, temos claro de que é preciso retomar a unidade em torno desse novo instrumento. Nós fizemos o chamado aos companheiros desde o encontro de Luziânia, que deu origem à Conlutas. Os companheiros preferiram aprofundar sua experiência na CUT e a história mostrou que eles deveriam ter vindo conosco. Depois de romperem com a CUT, os companheiros passaram mais de dois anos discutindo os princípios, o programa e agora, rejeitam uma unificação apenas porque parte de suas propostas foram vencidas. Acreditamos que isso é um equívoco e a luta de classes será impiedosa com os que insistirem nesse erro.

Tivemos toda a paciência com os companheiros, quando ainda optaram por permanecer na CUT e continuáramos tendo também agora, pois unificar os setores do movimento que são oposição de esquerda à burguesia, à direita tradicional e à Frente Popular não é um fetiche, é uma NECESSIDADE.

Independentemente desse revés, a nova central foi criada e já se coloca nas ruas. Nossa primeira luta será para obrigar que Lula não vete o reajuste dos aposentados e o fim do fator previdenciário. Paralelo a essa e a todas as lutas em defesa dos interesses dos trabalhadores e da transformação da sociedade, segue também nossa batalha para que a Intersindical e os outros que romperam compreendam a necessidade de respeitar a democracia operária, acatar a vontade da maioria do Congresso e, principalmente, que entendam que precisamos estar juntos nessa luta, fortalecendo um pólo combativo contra o Governo Lula, as direções traidoras e em defesa do socialismo.

Nova central é fundada, mas setor minoritário rompe com o Congresso

Surge a “Conlutas-Intersindical CSP”; luta agora é pela consolidação da nova entidade nas lutas e a retomada da unidade


O aguardado Congresso da Classe Trabalhadora, realizados nos dias 5 e 6 de junho em Santos (SP), reuniu cerca de 3 mil delegados e 4 mil participantes no geral, representando uma base de algo como 3 milhões. Sua deliberação mais importante foi a fundação de uma nova central sindical no país.

O Congresso da Classe Trabalhadora foi convocado pela Conlutas, Intersindical, MTST, MAS, MTL e Pastoral Operária. Foi o resultado de um processo de discussão que durou, no mínimo, dois anos e que envolveu encontros, seminários, reuniões e debates em todo o país. Para se ter uma ideia, foram apresentados e debatidos nada menos que 20 teses.

Deveria ter terminado com uma enorme festa expressando esse importante passo no processo de reorganização. O final, porém, teve algo de melancólico. Isso porque um setor minoritário do congresso decidiu abandonar o plenário ao ser derrotado em uma das votações.


Central classista, popular e estudantil

A plenária final do congresso, no dia 6, concentrou as deliberações mais importantes, como o caráter dessa nova entidade. Após uma rica discussão, os delegados aprovaram que a nova central será composta pelos trabalhadores organizados nos sindicatos, mas também pelos movimentos sociais e populares, além dos estudantes.

A partir de um acordo entre os diferentes setores, chegou-se a um modelo de composição da entidade que possibilita a unidade operário-estudantil, mas limita a representação dos estudantes a 5%, assim como de movimentos contra a opressão, a fim de deixar claro o protagonismo da classe trabalhadora.


A polêmica do nome

Após várias votações importantes, como a forma de direção da nova entidade, seu caráter, assim como importantes temas de conjuntura, como a apresentação de um programa dos trabalhadores nas eleições, o plenário foi votar o nome da nova entidade. E aí foi que a polêmica se instaurou.

A Conlutas havia proposto o nome “Conlutas-Intersindical”, expressando as duas principais organizações que deixariam de existir para dar lugar à nova central. Setores como a Intersindical, sem uma proposta fechada, requisitaram um tempo para formular uma. Após aproximadamente 20 minutos de intervalo, chegaram à proposta de “Ceclat (Central Classista dos Trabalhadores)”. Havia ainda uma terceira proposta, de Cocep, da LBI, que recebeu poucos votos.

Janira Rocha, dirigente do MTL-PSOL, tentou mediar a polêmica propondo o nome de “Conlutas-Intersindical Central Sindical e Popular”, o que foi aceito pela Conlutas, mas não pelos demais setores.

Após muitos momentos de tensão, os nomes foram à votação. A bancada encabeçada pela Intersindical chegou a vaiar e ofender a defesa do nome proposto pela Conlutas, realizada por Zé Maria. O dirigente respondeu pedindo ao plenário que ouvisse e respeitasse a intervenção do representante da Intersindical, Edson Carneiro (Índio), que viria falar logo após.

Ficou claro que a real polêmica em relação ao nome era a simples menção ao termo “Conlutas”. A proposta da junção dos dois nomes simboliza a experiência acumulada nos últimos anos. A Intersindical pretendia, porém, apagar o nome “Conlutas”, nem que para isso fosse preciso abrir mão do próprio nome e história.


Ruptura e retomada do congresso

Na votação, a proposta final formulada pelo MTL venceu com cerca de dois terços do plenário. Algo natural em um congresso onde se votam e se aprovam propostas. Mas não para o setor que ali, naquela questão específica, havia sido derrotado. Após a votação, esse setor encabeçado pela Intersindical se retirou do congresso.

Além da Intersindical, se retiraram do congresso a corrente Unidos para Lutar (CST-PSOL), e o MAS (Movimento Avançando Sindical, corrente prestista com presença em Santa Catarina).

Diante dessa difícil situação, o plenário foi reinstalado, mas ao invés de eleger uma nova direção executiva, os delegados resolveram eleger uma direção provisória até a próxima reunião. É uma tentativa de se mediar uma solução diante dessa crise.


Conlutas-Intersindical CSP

Uma nova central foi fundada por um congresso muito representativo. Certamente, uma central não tão forte quanto se poderia. Mas ela já é uma realidade e sua consolidação se dará no dia-a-dia das lutas da classe trabalhadora, como já aponta o plano de lutas aprovado pelo congresso.


Zé Maria e Cacau falam sobre os congressos e a ruptura




Retirado do Site do PSTU

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Em ato com 1.300 ativistas, Zé Maria diz que capitalismo nos rouba o direito à felicidade

Apresentação da pré-candidatura de Zé Maria lota auditório do Conclat e tem saudações de representantes da Grécia e do Haiti


A estratégia do socialismo foi a marca do ato de Zé Maria no Congresso da Classe trabalhadora, na noite deste sábado, 5 de junho. O ato preencheu praticamente dois terços do plenário onde está sendo feito o congresso e as 1.300 pessoas demonstravam uma animação surpreendente. Nem parecia que haviam enfrentado um dia exaustivo de debates.

“Pra derrotar a burguesia, meu candidato é Zé Maria!” foi o grito com que os ativistas receberam Zé Maria, a pré-candidata a vice, Claudia Durans, e candidatos aos governos estaduais. Zé Maria ressaltou a importância de se “transformar a luta econômica em luta política” e afirmou que vai defender uma estratégia socialista diante do balanço dos governos do PT e do PSDB e dos problemas que afligem a classe trabalhadora. Disse que essa é uma necessidade que deve ser explicada com paciência. “Temos que mostrar aos operários que os problemas nas fábricas só vão se resolver quando tomarmos o controle da fábrica e da produção, colocando a economia a serviço dos trabalhadores. Sob o capitalismo não é possível manter qualquer conquista, por mínima que seja, afirmou.”.

Ele terminou seu discurso falando do direito dos trabalhadores e de todas as pessoas à felicidade, condição negada pelo capitalismo à grande maioria. ”Somos seres humanos, construímos todas as riquezas do mundo e merecemos, no mínimo, usufruir de todas essas riquezas que produzimos”, afirmou. Os aplausos foram tantos que praticamente tornaram inaudíveis as últimas palavras de seu discurso.


Ventos da Europa e do Haiti

A denúncia do capitalismo veio em grego. Sotires Martalis, professor e sindicalista grego, trouxe a saudação de um classe trabalhadora que já realizou quatro greves gerais neste ano para não pagar a conta pela crise econômica. Ele iniciou seu discurso dizendo que “o problema não é um problema grego. É um problema capitalista”. Martalis informou também, para surpresa de muitos, que das últimas 98 greves gerais na Europa, 48 foram na Grécia.

Outro país pequeno, e com um povo igualmente guerreiro esteve no ato. A luta dos negros haitianos, primeiro país na América Latina a ver uma revolução negra, foi representada por Didier Dominique, do Batalha Operária. Ele falou da importância de participar das eleições, não para ter esperanças de “eleger Zé Maria”, mas para apresentar propostas para os trabalhadores, como a retirada das tropas da Minustah.



Raça e classe

A herança do povo negro também fez parte da fala de Claudia Durans. A pré-candidata a vice afirmou que é preciso tirar a máscara de Obama, que emprestou uma nova cara ao imperialismo e recebe o apoio de setores do próprio movimento negro. Ela afirmou que na campanha, vai falar também sobre a questão de gênero, afirmando que votar em Dilma não é votar em favor das mulheres.“Não basta ser mulher, é preciso defender um programa que efetivamente mude a vida das pessoas”, disse. “Mulher, classista, negra e socialista!”, respondeu em coro a plenária.

O clima de campanha tomou conta de todo o ato. No início, uma representante do CEDS (Centro de Estudos e Debates Socialistas) levou o apoio da corrente à pré-candidatura, e leu uma carta enviada a Zé Maria que termina afirmando: “É por tudo isto que Zé Maria é hoje a mais importante liderança operária do campo classista no nosso país. E é por isto que o apoiamos.”

A mesa foi formada por pré-candidatos aos governos estaduais. Luiz Carlos Prates, o Mancha, de São Paulo; Vanessa Portugal, de Minas Gerais; Vera Lúcia, de Sergipe; e Cyro Garcia, do Rio de Janeiro, que coordenou o ato. Do palco, foram anunciados ainda alguns dos outros candidatos presentes.

A delegação do Pará fez uma grande festa quando foi anunciado Cleber Rabelo, nome do PSTU para o governo do estado. “É operário, é lutador. Quero Cleber governador”, cantaram. Em seguida, foi a vez dos cearenses festejarem a candidatura de Gonzaga, também operário da construção civil.

Durante o ato foi inaugurado o site Zé Maria Presidente (www.zemariapresidente.org.br), que havia acabado ir ao ar. Os ativistas puderam ver no telão as telas do novo site, que servirá para divulgar as atividades de campanha e reunir os textos para o debate do programa da pré-candidatura.


Retirado do Site do PSTU