sexta-feira, 25 de junho de 2010

Seminário Nacional de Programa do PSTU terá Chico de Oliveira no dia 26

Nos próximos dias 26 e 27 de junho ocorrerá em São Paulo o Seminário de Programa da candidatura Zé Maria.


Sob o lema “Um programa socialista para o Brasil”, o seminário reúne intelectuais e ativistas com o objetivo de discutir uma saída dos trabalhadores para os principais problemas do país. O evento contará com vinte temas, como educação, saúde, violência, emprego, transporte público, drogas, entre outros.

Logo no primeiro dia, o seminário contará com a presença do professor aposentado da USP, Francisco de Oliveira, um dos mais renomados sociólogos do país. Chico de Oliveira foi um dos fundadores do PT, rompendo com o partido e o governo Lula em 2003. Desde então, o professor vem sendo um dos mais incisivos críticos dos caminhos trilhados pelo governo.

E é justamente esse o tema discutido por Chico de Oliveira na mesa “Avaliação do Governo Lula”, que também terá a participação de Valério Arcary, militante do PSTU e professor do Cefet, além de Álvaro Bianchi, professor da Unicamp.

O seminário acontece na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, no centro de São Paulo, e começa às 9h. Posteriormente, o PSTU publicará o resultado das discussões e debates realizados nesses dias.

Baixe o texto de Valério Arcary sobre esta mesa


Confira a programação do Seminário da pré-candidatura Zé Maria

Evento ocorre neste final de semana, na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco



Cartaz de divulgação

SÁBADO, 26 DE JUNHO

9h - ABERTURA
Eduardo Almeida, Valério Arcary, Zé Maria


10h - MESAS TEMÁTICAS

1- AVALIAÇÃO DO GOVERNO LULA
Valério Arcary (PSTU), Chico de Oliveira (USP), Alvaro Bianchi (Unicamp)

2- LUTA CONTRA A OPRESSÃO - HOMOFOBIA
Secretaria Nacional GLBT

3- CIDADES, MORADIA E TRANSPORTE
Toninho Ferreira (PSTU SJC, advogado da ocupação Pinheirinho), Guilherme Boulos (MTST)

4- ECOLOGIA
Denis Ometto (Ação Eco-Socialista SJC), Jeferson Choma (Opinião Socialista)

5- INTERNACIONAL - PALESTINA
Dirceu Travesso (PSTU), José Moreno Pau e José Welmovicki (Correio Internacional)

6- DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS
Julio Delmanto, Henrique Carneiro (USP), Jorge Badauí (Juventude PSTU), Sergio Vidal


DOMINGO, 27 DE JUNHO

9h - MESAS TEMÁTICAS

1- ECONOMIA
Alejandro Iturbe (LIT-QI), Eduardo Almeida (PSTU)

2- ENERGIA E PETRÓLEO
Américo Gomes (Ilaese), Dalton Santos (Sind. AL/SE)

3- JUVENTUDE
Bruno Machion, Mariah Mello, Rafael Nunes

4- LUTA CONTRA A OPRESSÃO - RACISMO
Secretaria de Negros e Negras do PSTU

5- SAÚDE
Ary Blinder (PSTU), Alessandra Camargo (PSTU)

6- EDUCAÇÃO
Edmundo Fernandes Dias (Unicamp), Gilberto, José Vitório Zago, Valério Arcary


14h - MESAS TEMÁTICAS

1- DESEMPREGO E DESIGUALDADE SOCIAL
Rui Braga (USP), Paula Marcelino (Unicamp), Diego Cruz (jornalista)

2- CAMPO
Jeronimo Castro (PSTU), Nazareno Godeiro (Ilaese)

3- LUTA CONTRA A OPRESSÃO - MACHISMO
Secretaria Nacional Mulheres PSTU

4- CULTURA
Iná Camargo Costa (Professora, especialista em Teatro), Sílvia Miskulin (professora e pesquisadora sobre a Cultura em Cuba), Nando Poeta (PSTU, cordelista), Cecília Toledo (PSTU, professora)

5- VIOLÊNCIA
Américo Gomes (Ilaese), representante OAB Nacional

6- INTERNACIONAL - HAITI
Claudia Durans (PSTU / pré-candidata a vice), Eduardo Almeida (PSTU), Franck Seguy (Haiti), Otávio Calegari (Estudante Unicamp / Pesquisador sobre o Haiti)


Retirado do Site do PSTU

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Em discurso reacionário, Lula desrespeita o direito de greve e ataca grevistas e sindicatos dos trabalhadores

No último dia 16 de junho, a Agência Brasil divulgou declaração em que o presidente Lula faz duras críticas aos movimentos grevistas, da mesma forma que um dia os patrões e os militares fizeram a ele e aos movimentos de luta da época da ditadura militar. O fato aconteceu durante mais uma das muitas solenidades eleitoreiras para a sua candidata Dilma Roussef.

Nossa central, fundada recentemente na cidade de Santos-SP, em um Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, que reuniu mais de 3 mil delegados e delegadas de todo o país, representando cerca de 3 milhões de trabalhadores, defende intransigentemente o pleno direito de greve e se posiciona frontalmente contra essas declarações, de conteúdo fascista e reacionária. Entendemos que a greve é uma decisão soberana dos trabalhadores e cabe somente a eles a decisão do momento de sua deflagração, duração e método de funcionamento.

Segundo o veículo de comunicação, Lula disse que as greves de hoje viraram “uma coisa maluca”. Veja abaixo o que o Presidente, que no passado comandou várias greves metalúrgicas, disse sobre as greves:

Hoje, mudou esse negócio de greve. Agora, não precisa mais fazer greve. No meu tempo, fazia passeata de milhares de pessoas para o governo poder ter medo. Hoje, eles contratam primeiro um cara para colocar faixa, aí vai um cara na frente e enche de faixa. Depois, contrata um cara com uma corneta, como essas vuvuzelas da África do Sul, para tocar o dia inteiro, e também um cara para soltar foguete de três em três horas. Parece aquela meninada avisando para o narcotráfico correr nas favelas. Virou uma coisa maluca.

Quer ver alguém aprender a fazer greve é ele perder os dias. Fiz greve na minha vida inteira e fiz as maiores. Fazia assembléia com cem mil trabalhadores e nunca pedi para reivindicar os dias parados. Greve é guerra e não férias. Se o cara faz greve e recebe os dias parados, os domingos e ainda vai reivindicar hora extra, que diabo de greve é essa?

Foi com essa responsabilidade que me transformei em um importante dirigente sindical do país porque tinha coragem de começar uma greve e muito mais de terminá-la. Agora está cheio de gente que decreta greve e não tem coragem de mandar parar a greve. Aí não é liderança.

Corte de ponto, demissão ou até mesmo a ameaça desse tipo de coisa em meio ao desenrolar de um movimento reivindicatório, são mecanismos de repressão às lutas. A declaração do presidente Lula defende explicitamente o corte de ponto de grevistas. Daí pra defender a demissão dos trabalhadores que fazem greve, não está muito distante. O pior, isso vindo de um presidente da República oriundo do movimento sindical, eleito pela maioria dos trabalhadores, e que se vale da autoridade que tem por ter sido sindicalista, para atacar os que lutam em defesa de seus empregos, salários, direitos e condições de trabalho.

A declaração do presidente Lula é inadmissível. O recurso da greve é um direito legítimo dos trabalhadores, garantido na Constituição Brasileira. As greves acontecem devido à intransigência dos patrões e dos governos que se negam a atender as reivindicações dos trabalhadores. Nenhum trabalhador faz greve porque gosta ou por folia – para ter férias. Declarar isso é um desrespeito aos movimentos e com a própria história do presidente sindicalista. Lula mostra mais uma vez de que lado está, ou seja, a serviço da elite patronal, dos ricos e poderosos banqueiros, latifundiários e grandes empresários.

  • Em defesa do pleno direito de greve!

  • Contra a repressão e criminalização das greves e dos movimentos sociais!

  • Todo apoio às lutas dos trabalhadores!

  • Fonte: Conlutas

    segunda-feira, 21 de junho de 2010

    Acima de tudo, um escritor original!

    Entre o fim dos anos 60 e o início dos anos 70, Saramago escreveu largas dezenas de crônicas para o diário A Capital e para o semanário Jornal do Fundão. Em algumas, como "Retrato de Antepassados", "Moliére e a Toutinegra" ou "Carta para Josefa, minha avó", incidia particularmente na memória da genealogia e da infância. O bisavô berbere que carregava a mancha de um crime de sangue. O avô posto na roda da Misericórdia e guardador de porcos, mas que casara com a rapariga mais bela da aldeia. A casa de terra batida dos avós maternos, camponeses humildes e analfabetos numa aldeia perdida no meio do Ribatejo. A água-furtada de um sexto andar lisboeta onde vivia com os pais e havia apenas dois livros, um guia de conversação de português-francês e a Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg, ambos pertencentes a outrem. Tudo isso era então tornado público por José Saramago e serve hoje de fonte incontornável para situar a sua entrada na vida entre os desfavorecidos da sociedade portuguesa. Daí virá provavelmente o "comunismo hormonal" reivindicado pelo próprio Saramago.

    E isso talvez não tenha sido também alheio aos três aspectos essenciais da obra saramaguiana. O primeiro constitui a marca distintiva do escritor no campo literário internacional e tem a ver com uma original oralização da escrita, onde o narrador atuava como se estivesse de viva voz numa roda de comparsas, desrespeitava ostensivamente as regras sintácticas e a pontuação, espraiava-se em longuíssimos períodos sem pontos finais onde barrocamente comentava, intercalava e repetia situações, falas e personagens. Levantado do Chão (1980) marcou o início de tal oralização da escrita e não foi acaso nenhum o fato de o mesmo ter parcialmente decorrido do convívio direto com os trabalhadores rurais alentejanos e as suas estórias.

    O segundo reporta-se a uma inesperada versão ao revés da historiografia oficial dos poderosos, dos feitos militares e das relações político-diplomáticas, incorporando as lições da nouvelle histoire e tendo um laivo marxista nos seus anti-heróis do povo miúdo. Memorial do Convento (1982) foi o grande exemplo desta reconstrução do discurso histórico. O evangelho segundo Jesus Cristo (1991) também pode ser aqui situado na medida em que humanizou Cristo e afrontou as versões consagradas pela Igreja, o que valeu ao escritor a discriminação estatal do governo de Cavaco Silva.

    O terceiro relacionou-se com a capacidade para reconfigurar alegórica e elipticamente um mundo votado à irracionalidade do neoliberalismo, da guerra infinita e do "pensamento único". Ensaio sobre a cegueira (1995) terá sido a sua melhor concretização.

    O reconhecimento internacional de Saramago adveio principalmente destas raízes literárias mais ou menos originais, salientando-se muito provavelmente a inusitada prosódia ficcional de que dotou os seus romances e que ninguém antes praticara deste modo.


    Saramago e o PCP

    Dificilmente haverá escritores de relevo que se deixem disciplinar ferreamente a ideologias, regimes e partidos. A sua actividade criadora comporta basicamente transfiguração, imaginação e ruptura. E isso transporta-se também para a sua intervenção cívica e mundivisão. Fernando Pessoa era um homem da direita autoritária e apoiou inequivocamente a ascensão fascista ao poder, mas nunca alinhou pelo protecionismo econômico, pelo conservadorismo moral e pelo catolicismo. Para o fim da vida, chegou mesmo a fricções com Salazar e o Estado Novo no quadro de um certo individualismo refractário à estabilização de certos aspectos do regime. Gorki era uma espécie de porta-voz artístico do proletariado revolucionário, mas teve vários atritos com os bolcheviques, e a versão que defendia do "realismo socialista" não veiculava nenhuma arte estatal a castrar a liberdade criadora.

    Obviamente, Saramago também não se poderia deixar reduzir a uma figura descaracterizada e reprodutora do discurso e das práticas de outrem.
    Portanto, a sua relação com o PCP nunca poderia ser o lugar de uma ortodoxia acomodada ou de uma subordinação anódina ao aparelho. Daí a marginalização que sofreu na ressaca dos acontecimentos no Diário de Notícias em 1975, onde actuou de acordo com as suas convicções próprias bem mais próximas da linha gonçalvista da tomada do poder rumo ao socialismo do que da concepção etapista da "revolução democrática e nacional" então defendida por Álvaro Cunhal e pela direcção do PCP, e suspendeu mesmo os contactos partidários para preservar tanto quanto possível a autonomia do jornal.

    Daí a convivência com a orientação crítica do chamado grupo da "Terceira Via" para a obtenção de democracia interna e a experiência fracassada como presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. Daí a persistência de atritos e desacordos vários, avultando entre eles a demarcação face aos processos jurídicos pouco claros que o regime castrista utilizou para fuzilar três pessoas e prender dezenas de dissidentes em 2003. Contudo, é importante ressalvar que se tratou sempre de diferenças no marco de uma unidade global e que o escritor nunca se decidiu a jogar a função de um quadro de direcção. Em rigor, a consagração literária e o amor às letras terão levado a que durante a maior parte do tempo ele fosse mais um observador político atento do que propriamente um militante partidário consequentemente empenhado nas alterações consideradas pertinentes.

    Em toda a sua trajectória de militante do PCP transpareceu a marca da unidade e da diferença, da continuidade e da mudança, da aversão aos trânsfugas de direita e da indisponibilidade para os fenómenos de recomposição anticapitalista à esquerda dos antigos partidos comunistas. Certamente, estes reagrupamentos são os mais interessantes para pensar e fazer um outro Mundo para lá do capitalismo, em nada invalidados por se desenvolverem por fora dos partidos comunistas, social-democratas ou trabalhistas tradicionais e ganhando mesmo uma dinâmica apreciável a expensas da sua base social de apoio, conforme acontece com o Bloco de Esquerda em Portugal ou com o PSTU e o PSOL no Brasil. Na sua idiossincrasia e coerência, concorde-se ou não, esta foi a opção de Saramago e merece todo o respeito!


    A posição face à realidade política contemporânea

    Na luta dos povos para impedir a agressão militar dos EUA ao Iraque em 2003 esteve corretamente em sintonia com o sentimento generalizado de repúdio a Bush, Blair, Aznar, Berlusconi e Durão Barroso. Na sua coerência de homem da esquerda anticapitalista que não abandonou as convicções quando muitos debandaram após os acontecimentos de Leste em 1989-1991, permaneceu tranquilamente no quadro de uma minoria para a qual o abandono da tradição marxista e do referencial da Revolução Russa de 1917 assume foros de capitulação à ordem reinante.

    Na denúncia do esgotamento dos mecanismos de legitimação dos governos recorrentemente sequestrados pelo poder financeiro concentrado, na aprendizagem do direito inalienável do pluralismo e na proposta de substancialização socio-económica dos formalismos legais, Saramago assumiu corajosamente o distanciamento da democracia burguesa. Na oposição a alguns atos repressivo do regime cubano, ganhou legitimidade acrescida na reinvenção de uma democracia basista e substancial para lá da plutocracia ocidental e de todas as ditaduras. Na defesa do povo palestiniano contra a ocupação sionista e planos de paz que apenas consagram o lugar de Israel enquanto vigia do imperialismo para todo o Médio Oriente, ousou uma dissidência bem minoritária na opinião pública ocidental.

    Obviamente, o Saramago polémico, avesso ao consenso maioritário e criativo que está em liça em algumas destas tomadas de posição nem sempre se manifestou. Por vezes, o escritor até assumiu posições pouco compreensíveis à luz dos marxismos em que se inscreve a sua mundivisão. Por exemplo, no patrocínio do balanço positivo dos exercícios presidenciais de Mário Soares, no apoio ao PS de António Costa nas últimas eleições municipais em Lisboa, no alinhamento ao lado de Zapatero e do PSOE em Espanha ou na tendência a uma certa visão idealista da problemática das nacionalidades no interior do Estado Espanhol. Por mais respeitáveis que sejam certas razões de política conjuntural ou certos laços pessoais, não eram posições propriamente muito aceitáveis para a esquerda transformadora e combativa que resiste ao rotativismo ao centro.

    Porém, o mais importante é salientar que Saramago fica para a posteridade essencialmente devido a razões literárias de renovação do género romanesco via um inusitado estilo de oralização da escrita, um reequacionamento do passado nacional pela óptica da nouvelle histoire (da "arraia-miúda" ) e uma capacidade de construção de poderosas alegorias distópicas. Social e ideologicamente, tais razões literárias transformam-se numa espécie de admoestações aos donos do poder acerca da podridão e da inestabilidade das relações sociais de produção em que assenta o seu domínio. Tal como acontece com a família dos trabalhadores rurais alentejanos dos Mau-Tempo em Levantado do Chão, ou com a mulher do médico em Ensaio sobre a cegueira e em Ensaio sobra a lucidez, é necessário organizar, resistir e revolucionar rumo a um outro mundo para lá do capitalismo.

    Retirado do Site da Ruptura-FER, seção da LIT-QI em Portugal