sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sobre a morte de Néstor Kirchner

Leia abaixo a declaração do "Comitê de fusão FOS-COI" sobre a morte do ex-presidente da Argentina


A repentina morte de Néstor Kirchner provocou uma ampla demonstração de dor por parte de setores operários e populares que identificam o ex-presidente com a redução do desemprego e com uma série de medidas como os novos julgamentos ou a abolição das leis de perdão aos militares genocidas, a re-nacionalização da empresa aérea Aerolíneas, da AFJP (fundo de aposentadoria e pensão), o subsídio por filho, etc. Respeitamos esses sentimentos ainda que não compartilhemos com essa identificação.

Nós opinamos que essas medidas não foram produto da bondade de nenhum presidente, mas conseqüências das grandes lutas que protagonizamos todos os trabalhadores e que tiveram sua máxima expressão no Argentinazo de 2001, que aterrorizou os grandes patrões e o Imperialismo.

A partir de 2003, Kirchner, aproveitando uma situação econômica favorável que permitiu o crescimento do emprego, assumiu a tarefa de desmontar o processo de 2001 tomando uma série de medidas que ajudaram a acalmar o profundo descontentamento popular. Nessa tarefa teve o apoio de figuras como Hebe de Bonafini (líder das “Mães da Praça de Maio”) e dos dirigentes sindicais e sociais que foi ganhando para sua política.

Sua política estabilizadora teve resultados importantes, que permitiram fabulosos lucros à grande patronal nacional e estrangeira. Por isso hoje recebe a homenagem de todos os governos latino-americanos (desde Chávez e Evo até os presidentes chileno e colombiano) e por todos os governos imperialistas começando pelo de Obama.

O papel que jogou na estabilização e na reconstrução das instituições burguesas, é o que explica também que a oposição de direita (desde Cobos e Alfonsín até Duhalde e Macri) se apressassem a oferecer suas condolências e afirmarem que se deve agora garantir a governabilidade. Expressam assim seu reconhecimento ao papel estabilizador de Kirchner e seu temor ao descontrole que pode provocar sua desaparição.


O modelo kirchnerista

Em 2003, Kirchner disse que seu objetivo era fazer “um país normal”. Essa normalidade significou pagar 50 milhões de dólares aos credores internacionais, continuar com o plano de “sojização”, seguir permitindo o saque das petroleiras e das mineradoras, ser uma das pontas do envio de tropas ao Haiti. Isso significa que seu modelo não enfrentou mas favoreceu o processo de recolonização de nosso país. Todo isso se expressou em lucros fabulosos para a patronal da cidade e do campo (ainda que os tenha enfrentado em 2008) e em contratos precários, empregos informais, informalidade e salários abaixo da inflação para os trabalhadores. Para cumprir essa “normalização” contou com a inestimável ajuda da burocracia sindical, em especial da CGT, mas também da CTA.

Todo isso é o que aplaudem e reivindicam os governos dos Estados Unidos e Europa, que hoje enviam suas condolências.

Os últimos fatos, como o veto ao reajuste de 82% móveis para os aposentados, ratificam essa trajetória. Por outro lado, tanto os crimes de Zanola como os medicamentos falsos, como o assassinato de Mariano Ferreira nas mãos da gangue de Pedraza de UF, mostram o grau de impunidade logrado pela burocracia sindical, pilar fundamental deste governo como se expressou no ato de Moyano em River.

Não somos hipócritas. Sempre dissemos aos trabalhadores que esse era um modelo de entrega e não de libertação dos trabalhadores. A morte não muda isso. Por isso é que não fomos às homenagens a Nestor Kirchner. Foram atos de apoio a uma política e a um modelo que vão contra os interesses dos trabalhadores e do povo. Foram atos de apoio ao oficialismo nas próximas eleições.

Nós lutamos por outro modelo, e por outro projeto: ao serviço dos de baixo. Lutamos por um modelo e um governo dos trabalhadores e do povo. E chamamos à maior unidade para somar forças nesse sentido.

Comitê de fusão FOS-COI
Bunes Aires, 1 de novembro de 2010


Retirado do Site do PSTU

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Obama sofre dura derrota eleitoral

Revirada eleitoral deve anunciar período de crises políticas


O governo Obama sofreu a sua mais dura derrota desde que foi eleito, há dois anos, durante as eleições legislativas dos EUA nesse dia 2 de novembro. Ao contrário da euforia que marcou a vitória de Obama, essas eleições foram marcadas pela frustração, tirando dos democratas a hegemonia na Câmara dos Representantes, o equivalente aqui à Câmara dos Deputados.

O Partido Republicano assegurou 242 das 435 cadeiras na Câmara, contra apenas 193 dos democratas, que detinham nada menos que 255 parlamentares. Foi a maior virada eleitoral desde 1948. Algo como 30 dos deputados eleitos são ligados ao movimento de ultradireita Tea Party, que vem ganhando influência no último período com um discurso ultraliberal e anti-imigrante. Já no Senado, embora o Partido Democrata tenha conseguido manter a maioria, a diferença foi reduzida significativamente.

Já na disputa dos governos estaduais o Partido Republicano também avançou, conquistando 21 governos contra 13 dos democratas.




Fracasso de Obama

A dura derrota sofrida pelo partido de Barack Obama expressa o fracasso do governo em debelar a profunda crise econômica que há quase três anos domina o país. O próprio presidente foi obrigado a reconhecer o clima de frustração que domina o país. “Nos últimos meses, viajei pelo país e encontrei pessoas onde vivem e trabalham. Falei e ouvi. A eleição confirmou o que eu ouvi: as pessoas estão frustradas com o ritmo da recuperação", afirmou o presidente à imprensa.

Essas eleições marcaram a derrota das políticas levadas a cabo pelo governo norte-americano para enfrentar a crise. Desde o final do governo Bush, os EUA impõem uma série de pacotes bilionários de ajuda às empresas e ao sistema financeiro, enquanto o desemprego crescia. Para levar a cabo esse plano e enfrentar a crescente rejeição dos norte-americanos aos políticos e às instituições, a burguesia sacou o nome de Barack Obama da manga, uma nova cara para a mesma velha política.

Obama, mesmo antes de se eleger, foi ao Congresso e ajudou Bush a aprovar o megapacote de 700 bilhões de dólares de ajuda aos bancos, no final de 2007. Sua campanha à presidência mobilizou os jovens e setores progressistas e comoveu o mundo inteiro. Difundiu-se a ilusão de que ocorreria uma verdadeira mudança a partir de Washington. Uma vez na Casa Branca, porém, Obama levou adiante sua política de ajuda aos bancos e empresas, cujo maior exemplo foi a estatização na prática da GM, salvando-a da bancarrota.

A crise econômica, no entanto, não foi superada. Os bilhões despejados pelo governo conseguiram conter a recessão e propiciar um relativo respiro, mas as taxas de desemprego ainda são altíssimas e a recuperação plena ainda está longe do horizonte dos norte-americanos. Como se não bastasse, o gigantesco déficit fiscal alcança proporções gigantescas, chegando a quase 2 trilhões de dólares. A popularidade de Obama, enquanto isso, cai e dá lugar à desilusão e a movimentos reacionários como o Tea Party.


Crise política

A virada de mesa do Partido Republicano não deve expressar uma mudança profunda na atual política do governo. Mesmo com todo o discurso de radicalização e polarização, o Partido Republicano e Democrata alternam-se no comando do Legislativo e Executivo sem grandes alterações na política, seja econômica ou externa. Os republicanos, por exemplo, atacam o que consideram um excesso de gastos do governo, defendendo um ajuste fiscal. Ao mesmo tempo, propõem a redução dos impostos, medida que deve aumentar ainda mais o déficit fiscal. Atacam ainda, e querem rever, a reforma do sistema de saúde aprovado pelo governo.

O avanço conservador, mesmo sem significar uma real mudança, deve provocar futuras crises políticas ao governo Obama, sinalizando, junto com sua crescente perda de popularidade e apoio, um período de instabilidades políticas que se juntará ao cenário de crise econômica.


Retirado do Site do PSTU

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dilma ganhou... e agora?

A então candidata Dilma Roussef e seu vice, Michel Temer
Dilma Roussef foi eleita presidente. Confirma-se assim o peso da vitória do governo Lula e a coalizão por ele dirigida. O governo ampliou sua maioria na Câmara, passando a ter 402 deputados de um total de 513 parlamentares. Conseguiu ainda a maioria no Senado, que foi palco de derrotas importantes do governo passado, passando para 59, em um total de 81 senadores. Com isso, o governo passa a ter uma maioria confortável no Congresso, algo que Lula não teve no primeiro nem no segundo mandato.

Elegeram também a maioria (15) dos governadores, incluindo regiões de peso como Rio Grande do Sul e o Distrito Federal, que estavam nãos mãos da oposição de direita.

Por fim, e mais importante, elegeram Dilma Roussef. Ela nunca tinha antes sido eleita nem para vereador. Agora vai ocupar o cargo mais importante da República. É uma demonstração de força do governo e, em particular, pessoal de Lula, que escolheu a candidata e foi seu principal cabo eleitoral.

A oposição de direita sai duramente derrotada das eleições. Mais quatro anos longe da cadeira presidencial. Pior ainda, tendo de enfrentar Lula em 2014 que sai do governo com mais de 80% de aprovação. Não chegam a estar mortos, já que mantém o governo de 10 estados importantíssimos como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e agora também o Pará. Mas saem derrotados, e muito.


Os motivos da vitória de Dilma

A explicação da vitória governista pode ser encontrada na combinação entre o crescimento econômico e ao papel de Lula e do PT no governo.
O crescimento econômico tem sido o maior dos últimos anos, incluindo a retomada pós-crise de 2008. A previsão é de aumento do PIB de 7% em 2010. Isso facilitou muito para Lula e o PT conseguirem soldar uma aliança de colaboração de classes.

O crescimento possibilitou lucros gigantescos (quatro vezes mais que no governo FHC) para as grandes empresas. Lula fez pequenas concessões (reajustes do salário mínimo e Bolsa Família), que levou a um apoio político muito forte entre os trabalhadores.

Lula conseguiu com seus aliados (CUT, Força Sindical, UNE, sindicatos, etc.) controlar o movimento de massas durante seu governo. Em um evento recente da burguesia, com a presença de uma parte importante das mais importantes empresas do país, Lula comparou a situação brasileira com as greves que sacodem nesse momento a Europa e perguntou: “Qual a greve importante que aconteceu aqui nos últimos anos?”


Quem ganhou afinal?

Os trabalhadores acreditam que tiveram uma vitória. Infelizmente somos obrigados a discordar. Em sua cabeça, Dilma expressava a sua luta contra a direita representante da grande burguesia.

Na verdade, a grande burguesia se dividiu nas eleições. Serra foi o candidato da direita tradicional, com uma parte da burguesia industrial e financeira paulista, as grandes empresas da mídia (TVs e jornais), e uma parte do agronegócio.

Dilma foi a candidata de um grande setor da burguesia que cresceu muito no governo Lula e aprendeu a fazer bons negócios com o PT. São os bancos beneficiários das maiores taxas de juro de todo o mundo, a construção civil beneficiária das obras do PAC e do "Minha Casa , Minha Vida", grandes empresas que recebem financiamentos do BNDES. Isso inclui uma parte importante dos bancos (o Itaú e a família Safra, por exemplo), grandes construtoras, mineração (Eike Batista, o homem mais rico do país; Vale, a maior empresa privada), comércio (Abilio Diniz, do Pão de Açúcar), siderurgia (Benjamin Steinbruch, dono da CSN) e muitos outros setores.

Além disso, é necessário destacar que uma parte da burocracia petista está se transformando diretamente em grandes burgueses como é o caso de José Dirceu e Luis Gushiken.

Lula e o presidente da Vale, Roger Agnelli

O imperialismo se manteve eqüidistante nas eleições, satisfeito com qualquer uma das duas opções. É evidente que os governos imperialistas tem excelentes relações com Lula , a ponto de dar-lhe grande destaque nas reuniões internacionais e possibilitar tanto a Copa como a Olimpíada no Brasil. Não é para menos: Lula lhes assegura grandes lucros e estabilidade no Brasil, assim como um papel de aliado nas crises latino-americanas. Além disso, mantém a ocupação militar do Haiti já por seis anos, a serviço do governo dos EUA.

O Finantial Times, expressão do capital financeiro internacional, nas vésperas da eleição apoiou em editorial a candidatura de Serra. Mas os termos em que manifesta o apoio são muito significativos. "Ambos são notavelmente similares. São sociais-democratas que crêem em políticas pró-mercado com forte componente social". No final fala que , com a vitória de Dilma, Lula vai seguir como um presidente paralelo e deve voltar em 2014. E termina afirma: "Ao menos para interromper essa relação com o poder, Serra é a melhor opção para o Brasil."

Em essência, os bancos estrangeiros dizem que tanto Dilma como Serra são confiáveis, mas para evitar que o PT e Lula fiquem no poder por 16 anos, seria melhor que Serra fosse eleito.

Existe uma enorme diferença com o Lula eleito em 2002, que já tinha uma aliança com uma parte da burguesia, mas ainda provocava temores nos setores majoritários do capital. Basta ver a instabilidade financeira naquela época (em que o dólar ultrapassou os R$ 4) e a estabilidade atual. Hoje o conjunto da burguesia encarou a eleição com tranqüilidade (inclusive a que apoiou a oposição de direita), e uma parte importante apoiou Dilma.

Os mais esperançosos poderiam dizer que tanto os trabalhadores como a grande burguesia podem estar certos ao mesmo tempo ao achar que foram vitoriosos com a eleição de Dilma. Isso estaria bem de acordo com a ideologia dominante de colaboração de classes. Mas a vida real não é assim. Em uma sociedade dividida em classes, em geral uma classe ganha quando a outra perde.

Mesmo no crescimento econômico atual isso pode ser visto. Em termos relativos os trabalhadores são mais explorados hoje que no governo FHC. Produzem muito mais, geram lucros gigantescos e ficam com uma parcela menor desse lucro do que antes. Qual a classe que sai vitoriosa das eleições então? A grande burguesia, sem nenhuma dúvida.

Não tiveram apenas uma, mas pelo menos três grandes vitórias.
A primeira delas foi eleger uma candidata que além de ter respaldo da alta burguesia e da maioria do congresso, ainda tem o apoio majoritário dos trabalhadores do país e de suas principais entidades de massas, como a CUT, Força Sindical, UNE, sindicatos, etc. Isso facilita em muito retomar projetos como a reforma da previdência, que já está em estudos.

A segunda foi a situação de relativa estabilidade econômica e política do país na qual se deu as eleições. No debate entre as duas principais candidaturas jamais esteve questionado o plano econômico neoliberal que está sendo aplicado no país. A discussão gerou ao redor de quem seria o melhor gerente para esse plano.

A terceira vitória para a burguesia é passar a ter Lula como uma salvaguarda do regime, que pode ser utilizado em momentos de crises políticas. Ou ainda voltar ao poder em 2014, com a lembrança das massas do crescimento econômico em seu governo.


Quais são as perspectivas?

Os trabalhadores elegeram Dilma sem grande entusiasmo. Não têm expectativas de grandes mudanças, apenas buscam defender as pequenas conquistas como emprego (mesmo precarizado), o Bolsa Familia e os reajustes no salário mínimo.

Mesmo isso, no entanto, estará em questão, caso a crise econômica que já atinge fortemente a Europa se generalize e atinja o Brasil. Se os governos europeus atacam duramente os trabalhadores de seus países pode-se imaginar o que vai acontecer no Brasil.

Já nos dias de hoje o país sofre as conseqüências da crise, com maiores dificuldades para suas exportações e uma inversão na balança de pagamentos (que mede as relações econômicas como um todo com o estrangeiro). No período de crescimento anterior, tínhamos uma balança superavitária. No ano passado já tivemos déficit e vamos a um rombo de mais de 50 bilhões de dólares em 2010.

Como forma de se prevenir da crise, a equipe de governo de Dilma Roussef já está planejando uma reforma da Previdência para o início do mandato. Aproveitando-se do inevitável apoio inicial, o novo governo, pelas notícias da imprensa, já estaria planejando uma reforma que aumentasse a idade para a aposentadoria.

Infelizmente os trabalhadores terão de fazer sua própria experiência de que não foi uma aliada que acabou de ganhar as eleições. Nós queremos fazer esse alerta: o novo governo Dilma vai atacar os direitos dos trabalhadores como vocês nunca imaginariam. É preciso começar a preparar a resistência contra a provável reforma da Previdência do governo Dilma.


Retirado do Site do PSTU