Depois do assédio racista a uma estagiária e do episódio envolvendo um garoto etíope jogado para fora de um restaurante, mais um caso de asqueroso racismo foi divulgado nesta segunda, dia 9 de janeiro: o único estudante negro presente num espaço ocupado na USP foi brutalmente agredido e ameaçado por um policial de armas em punho.
O mais recente caso de racismo aconteceu no mesmo momento em que o Núcleo de Consciência Negra da universidade sofre ataques. Dois vídeos publicados no YouTube mostram a ação da PM, particularmente do policial racista (apesar de covarde e, sistematicamente, tentar ocultar seu nome), identificado como André, quando ele parte para cima de um dos estudantes, o derruba no chão, o joga contra os móveis que estavam no local e tenta detê-lo empunhando um revólver.
Cabe lembrar que a ação do policial é, também, mais um exemplo lamentável das sucessivas e truculentas ações policias que, a mando do reitor João Grandino Rodas, têm sido implementadas na universidade, além de ocorrer no exato momento em que o Núcleo de Consciência Negra na USP (NCN) está sofrendo um violento ataque: no dia 21 de dezembro houve a tentativa de demolição, por parte da reitoria, do barracão onde desenvolve suas atividades.
Na USP, ser negros é ser suspeito
O estudante Nicolas Menezes Barreto foi, literalmente, escolhido a dedo pelo policial. Além de ser um dos poucos negros no local, Nicolas, usa cabelo rastafári, razões suficientes para que o racista partisse para cima dele, questionando se ele era estudante da USP e exigindo sua carteirinha, coisa que não foi feita em relação a nenhum outro presente, todos brancos.
Apesar de não ser obrigado a apresentar seu documento estudantil para ninguém, Nicolas é aluno de Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na USP Leste, e estava no campus Butantã acompanhando um grupo que está ocupando o prédio.
A atitude do policial André, além de típica da instituição da qual faz parte, reflete o racismo há muito alimentado na maior universidade do país. Concebida com objetivo de formar a elite nacional, USP nunca conviveu bem com os membros que não fazem parte desta camada e, de alguma forma, conseguiram superar a barreira do vestibular e adentrar os portões da academia.
A título de exemplo, posso citar um episódio que aconteceu comigo mesmo, quando estudava na universidade, no final dos anos 1980, e morava no Conjunto Residencial da universidade, o CRUSP. Num ensolarado domingo, nesta mesma época do ano, decidi estudar na Praça do Relógio, como cerca de 100 outras pessoas que estavam espalhadas pelo gramado.
Infelizmente, não foi surpresa nenhuma para mim quando, de repente, minha leitura foi interrompida por um policial que, sem a mesma violência, mas de forma enfática questionou seu eu era estudante e o que estava fazendo naquele local.
Assim como na Pizzaria Nonno Paolo ou no Colégio Anhembi Morumbi, palcos dos dois casos de racismo mais recentes, a USP não é vista (nem por seus administradores nem pelas polícias que lhes servem) como um lugar para negros e negras, reproduzindo uma das máximas do racismo à brasileira: para evitar ataques, negros e negras têm de saber onde é o “seu lugar”.
Combater o racismo, defender o NCN
No final dos anos 1980, em resposta a episódios como o que aconteceu comigo e uns tantos outros descalabros que aconteciam na universidade, estudantes funcionários e professores fundaram o Núcleo de Consciência Negra (NCN) que, durante as últimas duas décadas, cumpriu um papel fundamental não só na denúncia e combate ao racismo, mas também para que mais negros entrassem na universidade.
Diante do ataque a Nicolas, a defesa do NCN se impõe ainda mais. Além de assinar a petição que está circulando na internet, é fundamental que o movimento negro organize a reação a esta onda racista que, como vimos, não se restringe à universidade.
Uma onda que, é necessário lembrar, acontece décadas depois da aprovação da lei anti-racismo, de 1988, dez anos depois da chegada de Lula ao poder e no momento em que o governo Dilma, enquanto se vangloria de combater a discriminação racial e todo tipo de opressão, ameaça por fim às secretarias especiais voltadas para políticas para negros(as) e mulheres. Isso sem falar do veto ao kit anti-homofobia e a mutilação do PLC 122, que criminalizava as práticas homofóbicas.
Diante da péssima repercussão da ação racista da polícia, o governo do Estado de São Paulo e a PM decidiram afastar (apenas das ruas, mas não da instituição) o sargento André Luiz Ferreira e o soldado Rafael Ribeiro Fazolin. Segundo o comandante da corporação, Wellington Venezian, os policiais foram afastados porque demonstram o que ele chamou de “um desequilíbrio emocional” na abordagem. Ou seja, ao lado da “injúria”, “difamação” e outras tantas formas de se evitar a caracterização de crimes raciais, a PM está criando mais uma: estar descompensado. Um absurdo.
Por isso mesmo, ganha força a proposta lançada pelo Quilombo Raça e Classe no protesto contra a Nonno Paolo, no sábado: é preciso construir um movimento amplo, em direção à realização de um vigoroso ato no dia 21 de março, Dia Internacional de Combate ao Racismo.
Retirado do Site do PSTU
O mais recente caso de racismo aconteceu no mesmo momento em que o Núcleo de Consciência Negra da universidade sofre ataques. Dois vídeos publicados no YouTube mostram a ação da PM, particularmente do policial racista (apesar de covarde e, sistematicamente, tentar ocultar seu nome), identificado como André, quando ele parte para cima de um dos estudantes, o derruba no chão, o joga contra os móveis que estavam no local e tenta detê-lo empunhando um revólver.
Cabe lembrar que a ação do policial é, também, mais um exemplo lamentável das sucessivas e truculentas ações policias que, a mando do reitor João Grandino Rodas, têm sido implementadas na universidade, além de ocorrer no exato momento em que o Núcleo de Consciência Negra na USP (NCN) está sofrendo um violento ataque: no dia 21 de dezembro houve a tentativa de demolição, por parte da reitoria, do barracão onde desenvolve suas atividades.
Na USP, ser negros é ser suspeito
O estudante Nicolas Menezes Barreto foi, literalmente, escolhido a dedo pelo policial. Além de ser um dos poucos negros no local, Nicolas, usa cabelo rastafári, razões suficientes para que o racista partisse para cima dele, questionando se ele era estudante da USP e exigindo sua carteirinha, coisa que não foi feita em relação a nenhum outro presente, todos brancos.
Apesar de não ser obrigado a apresentar seu documento estudantil para ninguém, Nicolas é aluno de Ciências da Natureza na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na USP Leste, e estava no campus Butantã acompanhando um grupo que está ocupando o prédio.
A atitude do policial André, além de típica da instituição da qual faz parte, reflete o racismo há muito alimentado na maior universidade do país. Concebida com objetivo de formar a elite nacional, USP nunca conviveu bem com os membros que não fazem parte desta camada e, de alguma forma, conseguiram superar a barreira do vestibular e adentrar os portões da academia.
A título de exemplo, posso citar um episódio que aconteceu comigo mesmo, quando estudava na universidade, no final dos anos 1980, e morava no Conjunto Residencial da universidade, o CRUSP. Num ensolarado domingo, nesta mesma época do ano, decidi estudar na Praça do Relógio, como cerca de 100 outras pessoas que estavam espalhadas pelo gramado.
Infelizmente, não foi surpresa nenhuma para mim quando, de repente, minha leitura foi interrompida por um policial que, sem a mesma violência, mas de forma enfática questionou seu eu era estudante e o que estava fazendo naquele local.
Assim como na Pizzaria Nonno Paolo ou no Colégio Anhembi Morumbi, palcos dos dois casos de racismo mais recentes, a USP não é vista (nem por seus administradores nem pelas polícias que lhes servem) como um lugar para negros e negras, reproduzindo uma das máximas do racismo à brasileira: para evitar ataques, negros e negras têm de saber onde é o “seu lugar”.
Combater o racismo, defender o NCN
No final dos anos 1980, em resposta a episódios como o que aconteceu comigo e uns tantos outros descalabros que aconteciam na universidade, estudantes funcionários e professores fundaram o Núcleo de Consciência Negra (NCN) que, durante as últimas duas décadas, cumpriu um papel fundamental não só na denúncia e combate ao racismo, mas também para que mais negros entrassem na universidade.
Diante do ataque a Nicolas, a defesa do NCN se impõe ainda mais. Além de assinar a petição que está circulando na internet, é fundamental que o movimento negro organize a reação a esta onda racista que, como vimos, não se restringe à universidade.
Uma onda que, é necessário lembrar, acontece décadas depois da aprovação da lei anti-racismo, de 1988, dez anos depois da chegada de Lula ao poder e no momento em que o governo Dilma, enquanto se vangloria de combater a discriminação racial e todo tipo de opressão, ameaça por fim às secretarias especiais voltadas para políticas para negros(as) e mulheres. Isso sem falar do veto ao kit anti-homofobia e a mutilação do PLC 122, que criminalizava as práticas homofóbicas.
Diante da péssima repercussão da ação racista da polícia, o governo do Estado de São Paulo e a PM decidiram afastar (apenas das ruas, mas não da instituição) o sargento André Luiz Ferreira e o soldado Rafael Ribeiro Fazolin. Segundo o comandante da corporação, Wellington Venezian, os policiais foram afastados porque demonstram o que ele chamou de “um desequilíbrio emocional” na abordagem. Ou seja, ao lado da “injúria”, “difamação” e outras tantas formas de se evitar a caracterização de crimes raciais, a PM está criando mais uma: estar descompensado. Um absurdo.
Por isso mesmo, ganha força a proposta lançada pelo Quilombo Raça e Classe no protesto contra a Nonno Paolo, no sábado: é preciso construir um movimento amplo, em direção à realização de um vigoroso ato no dia 21 de março, Dia Internacional de Combate ao Racismo.
Retirado do Site do PSTU
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