Apesar de ter ganho ‘voto de confiança’, Papandreou deve renunciar para composição de novo governo de união nacional; crise desmascara a farsa da democracia dos mercados
No dia 31 de outubro o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, surpreendeu o mundo ao anunciar a intenção de realizar um referendo popular sobre o plano de resgate acertado poucos dias antes com a Troika (Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia) para o país receber a terceira parcela do total de 130 bilhões de euros que fazem parte do plano até 2014. Em troca da parcela de 8 bilhões de euros, a Grécia se comprometia a apertar ainda mais sua política de austeridade, que há dois anos leva o país para a beira de um caos social.
O anúncio do plebiscito pegou todos de surpresa e, ato contínuo, provocou a queda das bolsas em todo o mundo. Analistas da grande imprensa já vislumbravam um cenário apocalíptico embora o primeiro-ministro nem tenha detalhado quais seriam as questões do referendo, que poderia ser realizado já no início de dezembro. O presidente francês Nicolas Sarkozy e a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, censuraram Papandreou e, publicamente, pressionaram o dirigente a voltar atrás em sua ideia de consulta popular.
Aos poucos foram se tornando claras as reais intenções do primeiro-ministro grego, que já havia, meses atrás, negado a possibilidade de um referendo quando o país negociava a segunda parcela do empréstimo. Politicamente isolado e desgastado por ter encabeçado a negociação e aprovação de três pacotes de austeridade que provocaram a queda de 15% do PIB nos últimos três anos, além de uma taxa recorde de desemprego na ordem de 16% (mais de 30% entre os jovens), Papandreou deu essa guinada tentando uma jogada política para se manter no poder.
A farsa do plebiscito
Como 60% da população grega, segundo pesquisas, rejeitam os pacotes de austeridade, mas 70% ainda defendem a continuidade do país na Zona do Euro, Papandreou tinha como estratégia condicionar essas duas questões e aprovar no referendo os termos para a renovação do acordo. Teria, assim, a legitimidade para se manter no poder com o seu partido, o Pasouk, ao mesmo tempo em que articulava um governo de ‘união nacional’ com o Nova Democracia, de direita. O governo grego sentia ainda a greve geral dos dias 19 e 20 de outubro, que reuniram centenas de milhares pelas ruas de Atenas na maior mobilização em mais de 30 anos.
Chantageado pela França e Alemanha, porém, Papandreou voltou atrás e, após reunião com Merkel e Sarkozy durante a reuniao do G20 em Cannes, nesse dia 3 de novembro, divulgou a suspensão do referendo. Ao mesmo tempo em que era ameaçado pela União Europeia, o primeiro-ministro do Pasouk enfrentava resistência até mesmo dentro do governo. Foi o ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, seu adversário dentro do próprio partido, que anunciou oficialmente que ‘não haveria nenhum referendo’.
Restou a Papandreou partir para um grande acordo a fim de salvar seu partido. Para isso, pediu os votos da oposição para a aprovação do ‘voto de confiança’ ao governo, com a promessa de que renunciaria para dar lugar a um governo de união nacional com o Nova Democracia. Em um apelo ao parlamento grego, o primeiro-ministro implorou a aprovação dos termos do acordo firmado com Bruxelas e disse que a sua aprovação era uma ‘prioridade nacional’. Por uma pequena margem, 153 votos contra 144, Papandreou superou o voto de confiança do parlamento na noite desse 4 de novembro. Mais uma recomposição deve ocorrer no governo e novas eleições serão realizadas, o mais provável que em fevereiro.
Manifestantes acompanha votação da moção de confiança a Papandreou
Crise política
Apesar da queda de Papandreou, a crise política que se desenvolveu em meio à grave crise econômica e social na Grécia está longe de terminar. Não há, entre os principais partidos que compõem a situação ou a oposição no país, diferenças em relação à aplicação dos pacotes de cortes. A Nova Democracia, embora tenha votado contra os acordos, não se opõem às medidas do governo do Pasouk. O nome mais cotado para assumir o lugar de primeiro-ministro é o do ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, Luas Papademos, um nome confiável à União Europeia e uma garantia de que os planos de cortes serão aplicados rigorosamente.
O resgate articulado pela Uniao Europeia prevê a moratória de 50% da dívida do país, cujo montante equivale a 170% do PIB. Por outro lado, porém, os juros dos títulos da dívida pública grega são recordes. Segundo o site Bloomberg, os juros para os títulos com dois anos de vencimento chegavam a 200%. Para os títulos com validade de um ano, 100%. O que é anunciado como ‘perdão’ da dívida, é retomado através dos juros. O plano de resgate vai, assim, aprofundar a crise social do país. Com a anuência dos partidos da situação e de oposição.
Como relatou à imprensa um manifestante que protestava em frente ao parlamento grego durante a votação nessa noite, não importa quem vai assumir o governo. ‘Vão aplicar as mesmas políticas, mais corte de salários aos trabalhadores, para nós não vai mudar nada, seguiremos com os protestos’, afirmou.
Farsa da democracia
Embora o anúncio de referendo tenha se revelado um blefe, ele serviu para mostrar a farsa da democracia no país heleno. A simples possibilidade de uma consulta à população da Grécia já foi o suficiente para provocar a ira dos mercados e dos governos da França e Alemanha, além de uma série de ameaças. Ou seja, a democracia vai só até onde começa os interesses dos banqueiros e investidores internacionais, estes quem realmente exercem o poder. Mostrou ainda o servilismo do governo grego, mero executor das ordens de Bruxelas, função que não mais se preocupam em esconder.
Retirado do Site do PSTU
Papandreou durante votação da moção de confiança |
O anúncio do plebiscito pegou todos de surpresa e, ato contínuo, provocou a queda das bolsas em todo o mundo. Analistas da grande imprensa já vislumbravam um cenário apocalíptico embora o primeiro-ministro nem tenha detalhado quais seriam as questões do referendo, que poderia ser realizado já no início de dezembro. O presidente francês Nicolas Sarkozy e a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, censuraram Papandreou e, publicamente, pressionaram o dirigente a voltar atrás em sua ideia de consulta popular.
Aos poucos foram se tornando claras as reais intenções do primeiro-ministro grego, que já havia, meses atrás, negado a possibilidade de um referendo quando o país negociava a segunda parcela do empréstimo. Politicamente isolado e desgastado por ter encabeçado a negociação e aprovação de três pacotes de austeridade que provocaram a queda de 15% do PIB nos últimos três anos, além de uma taxa recorde de desemprego na ordem de 16% (mais de 30% entre os jovens), Papandreou deu essa guinada tentando uma jogada política para se manter no poder.
A farsa do plebiscito
Como 60% da população grega, segundo pesquisas, rejeitam os pacotes de austeridade, mas 70% ainda defendem a continuidade do país na Zona do Euro, Papandreou tinha como estratégia condicionar essas duas questões e aprovar no referendo os termos para a renovação do acordo. Teria, assim, a legitimidade para se manter no poder com o seu partido, o Pasouk, ao mesmo tempo em que articulava um governo de ‘união nacional’ com o Nova Democracia, de direita. O governo grego sentia ainda a greve geral dos dias 19 e 20 de outubro, que reuniram centenas de milhares pelas ruas de Atenas na maior mobilização em mais de 30 anos.
Chantageado pela França e Alemanha, porém, Papandreou voltou atrás e, após reunião com Merkel e Sarkozy durante a reuniao do G20 em Cannes, nesse dia 3 de novembro, divulgou a suspensão do referendo. Ao mesmo tempo em que era ameaçado pela União Europeia, o primeiro-ministro do Pasouk enfrentava resistência até mesmo dentro do governo. Foi o ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, seu adversário dentro do próprio partido, que anunciou oficialmente que ‘não haveria nenhum referendo’.
Restou a Papandreou partir para um grande acordo a fim de salvar seu partido. Para isso, pediu os votos da oposição para a aprovação do ‘voto de confiança’ ao governo, com a promessa de que renunciaria para dar lugar a um governo de união nacional com o Nova Democracia. Em um apelo ao parlamento grego, o primeiro-ministro implorou a aprovação dos termos do acordo firmado com Bruxelas e disse que a sua aprovação era uma ‘prioridade nacional’. Por uma pequena margem, 153 votos contra 144, Papandreou superou o voto de confiança do parlamento na noite desse 4 de novembro. Mais uma recomposição deve ocorrer no governo e novas eleições serão realizadas, o mais provável que em fevereiro.
Manifestantes acompanha votação da moção de confiança a Papandreou
Crise política
Apesar da queda de Papandreou, a crise política que se desenvolveu em meio à grave crise econômica e social na Grécia está longe de terminar. Não há, entre os principais partidos que compõem a situação ou a oposição no país, diferenças em relação à aplicação dos pacotes de cortes. A Nova Democracia, embora tenha votado contra os acordos, não se opõem às medidas do governo do Pasouk. O nome mais cotado para assumir o lugar de primeiro-ministro é o do ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, Luas Papademos, um nome confiável à União Europeia e uma garantia de que os planos de cortes serão aplicados rigorosamente.
O resgate articulado pela Uniao Europeia prevê a moratória de 50% da dívida do país, cujo montante equivale a 170% do PIB. Por outro lado, porém, os juros dos títulos da dívida pública grega são recordes. Segundo o site Bloomberg, os juros para os títulos com dois anos de vencimento chegavam a 200%. Para os títulos com validade de um ano, 100%. O que é anunciado como ‘perdão’ da dívida, é retomado através dos juros. O plano de resgate vai, assim, aprofundar a crise social do país. Com a anuência dos partidos da situação e de oposição.
Como relatou à imprensa um manifestante que protestava em frente ao parlamento grego durante a votação nessa noite, não importa quem vai assumir o governo. ‘Vão aplicar as mesmas políticas, mais corte de salários aos trabalhadores, para nós não vai mudar nada, seguiremos com os protestos’, afirmou.
Farsa da democracia
Embora o anúncio de referendo tenha se revelado um blefe, ele serviu para mostrar a farsa da democracia no país heleno. A simples possibilidade de uma consulta à população da Grécia já foi o suficiente para provocar a ira dos mercados e dos governos da França e Alemanha, além de uma série de ameaças. Ou seja, a democracia vai só até onde começa os interesses dos banqueiros e investidores internacionais, estes quem realmente exercem o poder. Mostrou ainda o servilismo do governo grego, mero executor das ordens de Bruxelas, função que não mais se preocupam em esconder.
Retirado do Site do PSTU
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