O Brasil vive uma ocupação militar, a serviço das multinacionais. Desafiamos o governo Dilma e o novo ministro a acabar com essa triste história
Nesse dia 4 de agosto, a presidente Dilma Roussef demitiu o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Para o posto foi escolhido o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim. Na dança das cadeiras do governo Dilma, foi o terceiro ministro posto para fora. A troca foi criticada pela oposição de direita e pelos militares, e comemorada por muitos setores de esquerda.
Entre estes últimos, foi possível perceber duas ideias. A primeira, de que Dilma estaria alterando a orientação da pasta, comandada por Jobim desde 2007. A segunda, de que Celso Amorim representaria uma política mais progressista e independente, como teria mostrado na condução da política externa do governo Lula, de viés supostamente 'antiimperialista'.
Mas, seria mesmo assim? Teria Dilma, de repente, decidido alterar o foco do Ministério da Defesa?
Dilma se viu praticamente obrigada a demitir Jobim após as inúmeras críticas e declarações constrangedoras ditas pelo então ministro à imprensa. Primeiro, na comemoração dos 80 anos de FHC, Jobim declarou que “agora, os idiotas perderam a modéstia”, o que muitos imediatamente associaram ao governo do PT.
Pouco depois, em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro nomeado por Lula confessou que votara em José Serra nas eleições presidenciais. Que Jobim era ligado ao PSDB todos já sabiam. Além de ter sido nomeado ministro do STF por FHC, já havia sido ministro da Justiça do tucano. O que muitos acharam inconseqüente foi ele ter declarado abertamente sua preferência.
A gota d’água veio com as críticas de Jobim às ministras de Dilma, Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, à revista Piauí. Sob o risco de se desmoralizar, Dilma não viu alternativa a não ser anunciar a demissão de Nelson Jobim.
Ou seja, a retirada do ministro não ocorreu por discordâncias na atuação de Jobim à frente do ministério.
Dilma não é contra o plano de Jobim de privatizar os aeroportos, coisa que seu governo está fazendo agora. Não há nenhum questionamento no uso de militares de todas as forças na ocupação de morros e comunidades do Rio de Janeiro, como no Complexo do Alemão, em uma experiência que promete se repetir. E o governo do PT, assim como Jobim, tampouco defende a revisão da lei da anistia, que mantém os assassinos e torturadores da ditadura impunes, como o ex-comandante do DOI-CODI, Carlos Alberto Ustra. Nem se coloca a favor da abertura dos arquivos secretos, que poderiam jogar luz nos crimes cometidos em nome do Estado, inclusive durante os anos de chumbo.
Celso Amorim
Apesar de atabalhoada, a troca de Jobim por Amorim imprimiria uma alteração na lógica da Defesa? Os defensores do novo ministro se baseiam na política externa do governo Lula. Nos oitos anos de Lula, a movimentação do Brasil na política internacional foi um dos únicos, senão o único, elemento pinçado por aqueles que defendiam a tese do ‘governo em disputa’, para mostrar uma faceta de esquerda de Lula.
Era citada, por exemplo, a aproximação do Brasil com países do Oriente Médio, como o Irã, o que gerou na época críticas do governo dos EUA. A articulação do G20 em contraposição ao G8 em plena crise econômica mundial foi outro aspecto visto como uma posição independente de Lula, dirigida por Celso Amorim, assim como as visitas e declarações do então presidente em favor de Fidel Castro e de governantes como Chávez e Morales.
Um aspecto fundamental da política externa, porém, é sempre “esquecido”. Desde 2004 o Brasil lidera tropas militares que ocupam o Haiti. Sob a justificativa de “ajuda humanitária”, os soldados da ONU que fazem parte da Minustah, já reprimiram inúmeras vezes mobilizações de trabalhadores e estudantes no país.
Como candidato à Presidência, eu estive no Haiti após o terremoto. Fui o único candidato a visitar o país. Meses depois da tragédia, a ajuda não havia chegado. O papel das tropas da ONU foi de proteger o aeroporto e a zona franca e, depois, de levar o vírus da cólera ao país, causando uma epidemia. Até hoje, a situação é a mesma.
Desde o primeiro momento, o PSTU denunciou a ocupação militar do Haiti. Os soldados comandados pelo Brasil de Lula e Dilma atuam para estabilizar o país, reprimir os movimentos sociais e garantir os interesses dos EUA na região. Recentes divulgações de telegramas diplomáticos, pelo WikiLeaks, confirmam isso.
Em 2004, após o golpe que derrubou Aristides, o embaixador norte-americano no Haiti alertou Washington sobre a necessidade de uma intervenção militar no país, a fim de neutralizar “forças políticas insurgentes populistas e a economia antimercado” e também o “êxodo de migrantes por via marítima”.
Já em 2008, ainda segundo documentos tornados públicos pelo WikiLeaks, quando o Haiti enfrentava uma grave crise devido à inflação dos alimentos, a embaixada norte-americana se reuniu com os donos das fábricas que prestavam serviços a grandes empresas como a Levi’s e outras. O motivo: alertar para que os empresários não cedessem às mobilizações pelo aumento do salário mínimo. Na época, as tropas agiram de acordo com essa orientação e reprimiram duramente as manifestações, inclusive sobre a juventude.
A tentativa era garantir que o país caribenho continuasse com um dos menores salários do mundo. Para os EUA, o Haiti deveria continuar servindo como celeiro de mão-de-obra barata às multinacionais, principalmente às do setor têxtil. Foi em favor dessa política que o Brasil esteve empenhado durante todo o governo Lula, com Amorim à frente. E com o olhar atento dos empresários brasileiros, como os da Coteminas.
É hora de exigir a retirada das tropas
Coincidentemente, dias antes de ser nomeado ministro por Dilma, o ex-chanceler de Lula concedeu uma entrevista em que defende a retirada das tropas do Brasil do Haiti. Celso Amorim afirma que o objetivo da missão já havia sido cumprido e que a relação entre o Brasil e o Haiti deveria ser de “natureza econômica e social”.
Alçado à condição de ministro, é improvável que ele mantenha essa posição. Até mesmo porque participou diretamente de todas as etapas da montagem desta ocupação militar.
Mas, independentemente das avaliações que fazemos sobre o governo Lula e mesmo sobre o governo Dilma, é hora de exigirmos que Celso Amorim, agora à frente do Ministério da Defesa, faça jus às suas próprias palavras e atue pela imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti e o fim definitivo da ocupação militar no país.
Lançamos o desafio ao novo ministro da Defesa e ao governo Dilma. Desafiamos o Brasil a retirar todos os seus soldados do país caribenho, o primeiro país a ver uma revolução negra na história das Américas. Deixemos de lado essa mentira, de que os haitianos não conseguem dirigir o seu país. Desafio o governo petista a retirar as tropas e condenar a ocupação militar. Não é livre um país que ocupa outro.
Retirado do Site do PSTU
Ag Brasil | ||
Celso Amorim, novo ministro da Defesa |
Entre estes últimos, foi possível perceber duas ideias. A primeira, de que Dilma estaria alterando a orientação da pasta, comandada por Jobim desde 2007. A segunda, de que Celso Amorim representaria uma política mais progressista e independente, como teria mostrado na condução da política externa do governo Lula, de viés supostamente 'antiimperialista'.
Mas, seria mesmo assim? Teria Dilma, de repente, decidido alterar o foco do Ministério da Defesa?
Dilma se viu praticamente obrigada a demitir Jobim após as inúmeras críticas e declarações constrangedoras ditas pelo então ministro à imprensa. Primeiro, na comemoração dos 80 anos de FHC, Jobim declarou que “agora, os idiotas perderam a modéstia”, o que muitos imediatamente associaram ao governo do PT.
Pouco depois, em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro nomeado por Lula confessou que votara em José Serra nas eleições presidenciais. Que Jobim era ligado ao PSDB todos já sabiam. Além de ter sido nomeado ministro do STF por FHC, já havia sido ministro da Justiça do tucano. O que muitos acharam inconseqüente foi ele ter declarado abertamente sua preferência.
A gota d’água veio com as críticas de Jobim às ministras de Dilma, Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, à revista Piauí. Sob o risco de se desmoralizar, Dilma não viu alternativa a não ser anunciar a demissão de Nelson Jobim.
Ou seja, a retirada do ministro não ocorreu por discordâncias na atuação de Jobim à frente do ministério.
Dilma não é contra o plano de Jobim de privatizar os aeroportos, coisa que seu governo está fazendo agora. Não há nenhum questionamento no uso de militares de todas as forças na ocupação de morros e comunidades do Rio de Janeiro, como no Complexo do Alemão, em uma experiência que promete se repetir. E o governo do PT, assim como Jobim, tampouco defende a revisão da lei da anistia, que mantém os assassinos e torturadores da ditadura impunes, como o ex-comandante do DOI-CODI, Carlos Alberto Ustra. Nem se coloca a favor da abertura dos arquivos secretos, que poderiam jogar luz nos crimes cometidos em nome do Estado, inclusive durante os anos de chumbo.
Celso Amorim
Apesar de atabalhoada, a troca de Jobim por Amorim imprimiria uma alteração na lógica da Defesa? Os defensores do novo ministro se baseiam na política externa do governo Lula. Nos oitos anos de Lula, a movimentação do Brasil na política internacional foi um dos únicos, senão o único, elemento pinçado por aqueles que defendiam a tese do ‘governo em disputa’, para mostrar uma faceta de esquerda de Lula.
Era citada, por exemplo, a aproximação do Brasil com países do Oriente Médio, como o Irã, o que gerou na época críticas do governo dos EUA. A articulação do G20 em contraposição ao G8 em plena crise econômica mundial foi outro aspecto visto como uma posição independente de Lula, dirigida por Celso Amorim, assim como as visitas e declarações do então presidente em favor de Fidel Castro e de governantes como Chávez e Morales.
Um aspecto fundamental da política externa, porém, é sempre “esquecido”. Desde 2004 o Brasil lidera tropas militares que ocupam o Haiti. Sob a justificativa de “ajuda humanitária”, os soldados da ONU que fazem parte da Minustah, já reprimiram inúmeras vezes mobilizações de trabalhadores e estudantes no país.
Como candidato à Presidência, eu estive no Haiti após o terremoto. Fui o único candidato a visitar o país. Meses depois da tragédia, a ajuda não havia chegado. O papel das tropas da ONU foi de proteger o aeroporto e a zona franca e, depois, de levar o vírus da cólera ao país, causando uma epidemia. Até hoje, a situação é a mesma.
Desde o primeiro momento, o PSTU denunciou a ocupação militar do Haiti. Os soldados comandados pelo Brasil de Lula e Dilma atuam para estabilizar o país, reprimir os movimentos sociais e garantir os interesses dos EUA na região. Recentes divulgações de telegramas diplomáticos, pelo WikiLeaks, confirmam isso.
Em 2004, após o golpe que derrubou Aristides, o embaixador norte-americano no Haiti alertou Washington sobre a necessidade de uma intervenção militar no país, a fim de neutralizar “forças políticas insurgentes populistas e a economia antimercado” e também o “êxodo de migrantes por via marítima”.
Já em 2008, ainda segundo documentos tornados públicos pelo WikiLeaks, quando o Haiti enfrentava uma grave crise devido à inflação dos alimentos, a embaixada norte-americana se reuniu com os donos das fábricas que prestavam serviços a grandes empresas como a Levi’s e outras. O motivo: alertar para que os empresários não cedessem às mobilizações pelo aumento do salário mínimo. Na época, as tropas agiram de acordo com essa orientação e reprimiram duramente as manifestações, inclusive sobre a juventude.
A tentativa era garantir que o país caribenho continuasse com um dos menores salários do mundo. Para os EUA, o Haiti deveria continuar servindo como celeiro de mão-de-obra barata às multinacionais, principalmente às do setor têxtil. Foi em favor dessa política que o Brasil esteve empenhado durante todo o governo Lula, com Amorim à frente. E com o olhar atento dos empresários brasileiros, como os da Coteminas.
É hora de exigir a retirada das tropas
Coincidentemente, dias antes de ser nomeado ministro por Dilma, o ex-chanceler de Lula concedeu uma entrevista em que defende a retirada das tropas do Brasil do Haiti. Celso Amorim afirma que o objetivo da missão já havia sido cumprido e que a relação entre o Brasil e o Haiti deveria ser de “natureza econômica e social”.
Alçado à condição de ministro, é improvável que ele mantenha essa posição. Até mesmo porque participou diretamente de todas as etapas da montagem desta ocupação militar.
Mas, independentemente das avaliações que fazemos sobre o governo Lula e mesmo sobre o governo Dilma, é hora de exigirmos que Celso Amorim, agora à frente do Ministério da Defesa, faça jus às suas próprias palavras e atue pela imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti e o fim definitivo da ocupação militar no país.
Lançamos o desafio ao novo ministro da Defesa e ao governo Dilma. Desafiamos o Brasil a retirar todos os seus soldados do país caribenho, o primeiro país a ver uma revolução negra na história das Américas. Deixemos de lado essa mentira, de que os haitianos não conseguem dirigir o seu país. Desafio o governo petista a retirar as tropas e condenar a ocupação militar. Não é livre um país que ocupa outro.
Retirado do Site do PSTU
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