sexta-feira, 1 de julho de 2011

Governo Dilma vai financiar a desnacionalização e o monopólio do comércio varejista no Brasil

BNDES promete R$ 4 bilhões para Abilio Diniz comprar filial brasileira do Carrefour


Abílio Diniz fez campanha para Dilma nas eleições de 2010
Nesse final de junho foi anunciada uma fusão que pode mudar radicalmente o mercado varejista no país. O empresário Abílio Diniz, dono da rede de supermercados Pão de Açúcar, está negociando a fusão com a subsidiária do francês Carrefour, operação que criaria um gigante do ramo, com mais de 30% do mercado nacional.

O que seria mais uma notícia sobre fusões e a consolidação de mais um monopólio no Brasil, porém, se torna ainda mais escandaloso pelo fato de a negociação ser viabilizada através de dinheiro público. O BNDES, intermediado por sua empresa de investimentos, o BNDESPar, vai entrar com cerca de R$ 4 bilhões na transação, que deve custar pouco mais de R$ 5 bilhões.

O BNDES formaria uma espécie de consórcio junto com Diniz e o banco BTG Pactual, a fim de consumar a fusão e garantir o controle do empresário sobre o novo grupo no país, formando o NPA “Novo Pão de Açúcar”. Caso seja concretizado, a nova rede terá nada menos que 2.386 pontos de venda e uma receita de R$ 65 bi por ano. Seria a terceira maior empresa do país, atrás somente da Petrobras e da Vale.

Segundo a imprensa, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teria contatado Dilma Roussef, que autorizou pessoalmente a ajuda. O governo tenta justificar a operação afirmando que ela seria “estratégica” para o país, como afirmou o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel. Em resposta às críticas de que o banco público estaria sendo usado para privilegiar interesses privados, Pimentel culpou o setor financeiro privado que não faria “o papel dele, que é financiar o capital brasileiro”. “Como ele não faz isso, o BNDES tem de atuar”, chegou a dizer.


Abílio Diniz recorreu também ao discurso patriótico para defender a participação do banco público para se cacifar o novo dono da holding. “O BNDES fez um bom negócio. Está evitando que o sistema de abastecimento seja totalmente desnacionalizado. Acho que está fazendo um serviço para o consumidor, para a sociedade, para todos os brasileiros”, disse em entrevista ao Jornal Nacional.


Disputa capital

A incorporação da rede de supermercados franceses pelo Pão de Açúcar, no entanto, promete render ainda algumas batalhas jurídicas e acionárias. Isso porque o grupo francês Casino detêm 43% do atual Pão de Açúcar (ou CBD, Companhia Brasileira de Distribuição) e, pelo acordo firmado com Diniz há cinco anos, deveria tomar o controle da empresa a partir de 2012. O grupo é ainda, na França, concorrente do Carrefour. Caso o acordo seja efetivamente firmado, o Casino permanece minoritário na nova empresa e ainda vira, involuntariamente, acionista do concorrente em sua própria terra.

Nesse dia 29 o Casino divulgou nota afirmando que as negociações entre Diniz e o Carrefour eram ilegais. No mesmo dia o grupo correu para a bolsa e comprou o equivalente a R$ 1,1 bilhão em ações do Pão de Açúcar, a fim de aumentar seu poder de barganha dentro da empresa. Não se sabe, porém, se o grupo está disposto a vetar a fusão ou se está apenas esperneando a fim de garantir condições mais vantajosas nesse processo.


Os players tupiniquins

O investimento do BNDES na compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar se insere na declarada política do governo de impulsionar a criação de “vencedores” nacionais, de grandes empresas globais, supostamente brasileiras. É o caso, por exemplo, da compra da Brasil Telecom pela Oi, da fusão da AmBev com a belga Interbrew ou da Perdigão com a Sadia.

Essas fusões, porém, não criam grandes empresas brasileiras que vão explorar o mercado internacional. Resultam em multinacionais, no máximo, geridas por brasileiros, mas controladas por capital estrangeiro. E em defesa desse capital os executivos brasileiros costumam empregar o mais brutal regime de exploração, como são testemunhas os mineiros canadenses da Vale ou os operários da AmBev na Bélgica.

A compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar, porém, não deve, como afirma o governo, aumentar a influência do Brasil no mercado internacional, muito menos “levar produtos brasileiros para fora”, como disse o ministro Pimentel. Na intrincada engenharia financeira montada para a operação, o grupo de Diniz absorveria a filial brasileira do Carrefour, mas sendo ainda controlado pelo Carrefour França. Ou seja, vai avançar na desnacionalização do setor.

O que está por trás no despejo de dinheiro público nessa negociata privada é a tentativa do governo, de um lado, impedir a quebra do Carrefour, que acumula prejuízos bilionários na decadência do modelo de hipermercados, e de outro privilegiar um empresário ícone da burguesia brasileira. E um dos principais porta-vozes da campanha eleitoral do PT entre os endinheirados.


Monopólio

Se o financiamento público para a ampliação de um monopólio privado já é escandaloso, a natureza do negócio envolvido piora ainda mais a imoralidade desse desvio de recursos. O BNDES vai financiar a concentração da rede varejista, aprofundando o controle da empresa não só sobre a distribuição, mas de toda a cadeia de produção de uma série de produtos. Vai aumentar a pressão sobre pequenas e médias empresas, principalmente, sobre aqueles pequenos fornecedores que, na prática, atuam como terceirizados das grandes redes.

O pior, no entanto, além das demissões que devem ocorrer após a fusão, é o controle dos preços para os consumidores. Sem concorrência à altura, a megaempresa vai se ver livre para elevar seus preços e ampliar sua margem de lucros. Em uma conjuntura que a inflação corrói o poder de compra dos trabalhadores, sobretudo dos que ganham menos, isso se torna ainda mais dramático.

E é isso o que o governo Dilma prometeu financiar. Coincidência ou não, um dia após o anúncio oficial da negociação para a fusão, o Senado aprovou a Medida Provisória do governo que concede mais R$ 55 bilhões do orçamento da União ao BNDES. Quase o mesmo valor que o governo disse que iria cortar no início do ano, a fim de “equilibrar” suas contas.


Retirado do Site do PSTU

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