BNDES promete R$ 4 bilhões para Abilio Diniz comprar filial brasileira do Carrefour
Nesse final de junho foi anunciada uma fusão que pode mudar radicalmente o mercado varejista no país. O empresário Abílio Diniz, dono da rede de supermercados Pão de Açúcar, está negociando a fusão com a subsidiária do francês Carrefour, operação que criaria um gigante do ramo, com mais de 30% do mercado nacional.
O que seria mais uma notícia sobre fusões e a consolidação de mais um monopólio no Brasil, porém, se torna ainda mais escandaloso pelo fato de a negociação ser viabilizada através de dinheiro público. O BNDES, intermediado por sua empresa de investimentos, o BNDESPar, vai entrar com cerca de R$ 4 bilhões na transação, que deve custar pouco mais de R$ 5 bilhões.
O BNDES formaria uma espécie de consórcio junto com Diniz e o banco BTG Pactual, a fim de consumar a fusão e garantir o controle do empresário sobre o novo grupo no país, formando o NPA “Novo Pão de Açúcar”. Caso seja concretizado, a nova rede terá nada menos que 2.386 pontos de venda e uma receita de R$ 65 bi por ano. Seria a terceira maior empresa do país, atrás somente da Petrobras e da Vale.
Segundo a imprensa, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teria contatado Dilma Roussef, que autorizou pessoalmente a ajuda. O governo tenta justificar a operação afirmando que ela seria “estratégica” para o país, como afirmou o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel. Em resposta às críticas de que o banco público estaria sendo usado para privilegiar interesses privados, Pimentel culpou o setor financeiro privado que não faria “o papel dele, que é financiar o capital brasileiro”. “Como ele não faz isso, o BNDES tem de atuar”, chegou a dizer.
Abílio Diniz recorreu também ao discurso patriótico para defender a participação do banco público para se cacifar o novo dono da holding. “O BNDES fez um bom negócio. Está evitando que o sistema de abastecimento seja totalmente desnacionalizado. Acho que está fazendo um serviço para o consumidor, para a sociedade, para todos os brasileiros”, disse em entrevista ao Jornal Nacional.
Disputa capital
A incorporação da rede de supermercados franceses pelo Pão de Açúcar, no entanto, promete render ainda algumas batalhas jurídicas e acionárias. Isso porque o grupo francês Casino detêm 43% do atual Pão de Açúcar (ou CBD, Companhia Brasileira de Distribuição) e, pelo acordo firmado com Diniz há cinco anos, deveria tomar o controle da empresa a partir de 2012. O grupo é ainda, na França, concorrente do Carrefour. Caso o acordo seja efetivamente firmado, o Casino permanece minoritário na nova empresa e ainda vira, involuntariamente, acionista do concorrente em sua própria terra.
Nesse dia 29 o Casino divulgou nota afirmando que as negociações entre Diniz e o Carrefour eram ilegais. No mesmo dia o grupo correu para a bolsa e comprou o equivalente a R$ 1,1 bilhão em ações do Pão de Açúcar, a fim de aumentar seu poder de barganha dentro da empresa. Não se sabe, porém, se o grupo está disposto a vetar a fusão ou se está apenas esperneando a fim de garantir condições mais vantajosas nesse processo.
Os players tupiniquins
O investimento do BNDES na compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar se insere na declarada política do governo de impulsionar a criação de “vencedores” nacionais, de grandes empresas globais, supostamente brasileiras. É o caso, por exemplo, da compra da Brasil Telecom pela Oi, da fusão da AmBev com a belga Interbrew ou da Perdigão com a Sadia.
Essas fusões, porém, não criam grandes empresas brasileiras que vão explorar o mercado internacional. Resultam em multinacionais, no máximo, geridas por brasileiros, mas controladas por capital estrangeiro. E em defesa desse capital os executivos brasileiros costumam empregar o mais brutal regime de exploração, como são testemunhas os mineiros canadenses da Vale ou os operários da AmBev na Bélgica.
A compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar, porém, não deve, como afirma o governo, aumentar a influência do Brasil no mercado internacional, muito menos “levar produtos brasileiros para fora”, como disse o ministro Pimentel. Na intrincada engenharia financeira montada para a operação, o grupo de Diniz absorveria a filial brasileira do Carrefour, mas sendo ainda controlado pelo Carrefour França. Ou seja, vai avançar na desnacionalização do setor.
O que está por trás no despejo de dinheiro público nessa negociata privada é a tentativa do governo, de um lado, impedir a quebra do Carrefour, que acumula prejuízos bilionários na decadência do modelo de hipermercados, e de outro privilegiar um empresário ícone da burguesia brasileira. E um dos principais porta-vozes da campanha eleitoral do PT entre os endinheirados.
Monopólio
Se o financiamento público para a ampliação de um monopólio privado já é escandaloso, a natureza do negócio envolvido piora ainda mais a imoralidade desse desvio de recursos. O BNDES vai financiar a concentração da rede varejista, aprofundando o controle da empresa não só sobre a distribuição, mas de toda a cadeia de produção de uma série de produtos. Vai aumentar a pressão sobre pequenas e médias empresas, principalmente, sobre aqueles pequenos fornecedores que, na prática, atuam como terceirizados das grandes redes.
O pior, no entanto, além das demissões que devem ocorrer após a fusão, é o controle dos preços para os consumidores. Sem concorrência à altura, a megaempresa vai se ver livre para elevar seus preços e ampliar sua margem de lucros. Em uma conjuntura que a inflação corrói o poder de compra dos trabalhadores, sobretudo dos que ganham menos, isso se torna ainda mais dramático.
E é isso o que o governo Dilma prometeu financiar. Coincidência ou não, um dia após o anúncio oficial da negociação para a fusão, o Senado aprovou a Medida Provisória do governo que concede mais R$ 55 bilhões do orçamento da União ao BNDES. Quase o mesmo valor que o governo disse que iria cortar no início do ano, a fim de “equilibrar” suas contas.
Retirado do Site do PSTU
Abílio Diniz fez campanha para Dilma nas eleições de 2010 |
O que seria mais uma notícia sobre fusões e a consolidação de mais um monopólio no Brasil, porém, se torna ainda mais escandaloso pelo fato de a negociação ser viabilizada através de dinheiro público. O BNDES, intermediado por sua empresa de investimentos, o BNDESPar, vai entrar com cerca de R$ 4 bilhões na transação, que deve custar pouco mais de R$ 5 bilhões.
O BNDES formaria uma espécie de consórcio junto com Diniz e o banco BTG Pactual, a fim de consumar a fusão e garantir o controle do empresário sobre o novo grupo no país, formando o NPA “Novo Pão de Açúcar”. Caso seja concretizado, a nova rede terá nada menos que 2.386 pontos de venda e uma receita de R$ 65 bi por ano. Seria a terceira maior empresa do país, atrás somente da Petrobras e da Vale.
Segundo a imprensa, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teria contatado Dilma Roussef, que autorizou pessoalmente a ajuda. O governo tenta justificar a operação afirmando que ela seria “estratégica” para o país, como afirmou o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel. Em resposta às críticas de que o banco público estaria sendo usado para privilegiar interesses privados, Pimentel culpou o setor financeiro privado que não faria “o papel dele, que é financiar o capital brasileiro”. “Como ele não faz isso, o BNDES tem de atuar”, chegou a dizer.
Abílio Diniz recorreu também ao discurso patriótico para defender a participação do banco público para se cacifar o novo dono da holding. “O BNDES fez um bom negócio. Está evitando que o sistema de abastecimento seja totalmente desnacionalizado. Acho que está fazendo um serviço para o consumidor, para a sociedade, para todos os brasileiros”, disse em entrevista ao Jornal Nacional.
Disputa capital
A incorporação da rede de supermercados franceses pelo Pão de Açúcar, no entanto, promete render ainda algumas batalhas jurídicas e acionárias. Isso porque o grupo francês Casino detêm 43% do atual Pão de Açúcar (ou CBD, Companhia Brasileira de Distribuição) e, pelo acordo firmado com Diniz há cinco anos, deveria tomar o controle da empresa a partir de 2012. O grupo é ainda, na França, concorrente do Carrefour. Caso o acordo seja efetivamente firmado, o Casino permanece minoritário na nova empresa e ainda vira, involuntariamente, acionista do concorrente em sua própria terra.
Nesse dia 29 o Casino divulgou nota afirmando que as negociações entre Diniz e o Carrefour eram ilegais. No mesmo dia o grupo correu para a bolsa e comprou o equivalente a R$ 1,1 bilhão em ações do Pão de Açúcar, a fim de aumentar seu poder de barganha dentro da empresa. Não se sabe, porém, se o grupo está disposto a vetar a fusão ou se está apenas esperneando a fim de garantir condições mais vantajosas nesse processo.
Os players tupiniquins
O investimento do BNDES na compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar se insere na declarada política do governo de impulsionar a criação de “vencedores” nacionais, de grandes empresas globais, supostamente brasileiras. É o caso, por exemplo, da compra da Brasil Telecom pela Oi, da fusão da AmBev com a belga Interbrew ou da Perdigão com a Sadia.
Essas fusões, porém, não criam grandes empresas brasileiras que vão explorar o mercado internacional. Resultam em multinacionais, no máximo, geridas por brasileiros, mas controladas por capital estrangeiro. E em defesa desse capital os executivos brasileiros costumam empregar o mais brutal regime de exploração, como são testemunhas os mineiros canadenses da Vale ou os operários da AmBev na Bélgica.
A compra do Carrefour pelo Pão de Açúcar, porém, não deve, como afirma o governo, aumentar a influência do Brasil no mercado internacional, muito menos “levar produtos brasileiros para fora”, como disse o ministro Pimentel. Na intrincada engenharia financeira montada para a operação, o grupo de Diniz absorveria a filial brasileira do Carrefour, mas sendo ainda controlado pelo Carrefour França. Ou seja, vai avançar na desnacionalização do setor.
O que está por trás no despejo de dinheiro público nessa negociata privada é a tentativa do governo, de um lado, impedir a quebra do Carrefour, que acumula prejuízos bilionários na decadência do modelo de hipermercados, e de outro privilegiar um empresário ícone da burguesia brasileira. E um dos principais porta-vozes da campanha eleitoral do PT entre os endinheirados.
Monopólio
Se o financiamento público para a ampliação de um monopólio privado já é escandaloso, a natureza do negócio envolvido piora ainda mais a imoralidade desse desvio de recursos. O BNDES vai financiar a concentração da rede varejista, aprofundando o controle da empresa não só sobre a distribuição, mas de toda a cadeia de produção de uma série de produtos. Vai aumentar a pressão sobre pequenas e médias empresas, principalmente, sobre aqueles pequenos fornecedores que, na prática, atuam como terceirizados das grandes redes.
O pior, no entanto, além das demissões que devem ocorrer após a fusão, é o controle dos preços para os consumidores. Sem concorrência à altura, a megaempresa vai se ver livre para elevar seus preços e ampliar sua margem de lucros. Em uma conjuntura que a inflação corrói o poder de compra dos trabalhadores, sobretudo dos que ganham menos, isso se torna ainda mais dramático.
E é isso o que o governo Dilma prometeu financiar. Coincidência ou não, um dia após o anúncio oficial da negociação para a fusão, o Senado aprovou a Medida Provisória do governo que concede mais R$ 55 bilhões do orçamento da União ao BNDES. Quase o mesmo valor que o governo disse que iria cortar no início do ano, a fim de “equilibrar” suas contas.
Retirado do Site do PSTU
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