Aumenta a pressão pela politização da maior manifestação pelos direitos LGBT’s do mundo. Houve avanços, mas é preciso mais
A edição 2011 da Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis e transexuais) de São Paulo contou, no domingo, 26 de junho, com a participação de uma multidão calculada em 3 milhões de pessoas, apesar da incessante chuva que caiu sobre a capital paulista desde a manhã e se intensificou no início da tarde.
Convocada pela Associação da Parada sob um lema de gosto e conteúdo questionáveis – “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia” – o evento tinha como de seus principais objetivos, segundo a ONG que o organiza, “pedir uma trégua aos setores religiosos contra iniciativas que garante os direitos para a comunidade LGBT”, particularmente a aprovação da PLC 122, que criminaliza a homofobia e vem sendo bloqueada pela chamada bancada evangélica no Congresso.
Como criticamos há anos, mais uma vez, em função do formato e da política adotados pela Associação, a Parada foi marcada por um tom excessivamente “carnavalesco”, que muito destoa das origens do movimento, que tem em suas raízes a Rebelião de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969, em Nova York.
O problema está longe de ser o tom festivo do evento, já que gays, lésbicas, bissexuais e travestis e transexuais têm, sim, o direito não só de se divertir mas, acima de tudo, de se expressar de acordo com seus padrões de cultura e comportamento.
O que sempre criticamos, e continuaremos fazendo, é o fato de que o evento seja organizado em função dos gigantescos “trio-elétricos” colocados na rua por boates e empresas que lucram com o “pink money”. Uma opção que, ao lado das alianças políticas (com a prefeitura, os governos estadual e federal), contribui em muito para a despolitização do evento, na medida em que praticamente inviabiliza manifestações e protestos.
Uma crítica que, felizmente, começa a ser compartilhada cada vez por mais gente, o que, talvez, tenha sido a “grande” novidade da Parada deste ano.
“Uma luta que se faz nas ruas”
Um “detalhe” para o qual os organizadores do evento não fizeram muita questão de chamar atenção é o fato de que o “bloqueio” imposto pela bancada evangélica foi vergonhosa e escandalosamente negociado pela presidente Dilma, em troca de votos na tentativa de salvar o pescoço corrupto de Palocci.
Um fato que foi lembrado por José Maria de Almeida, que falou em nome da CSP-Conlutas no principal carro de som, na abertura da Parada: “As negociatas de Dilma, a postura reacionária de gente como Bolsonaro e amplos setores do congresso demonstram que não podemos confiar neste caminho para a conquista dos direitos que os homossexuais precisam e merecem. A luta contra a homofobia, que vitima cada vez mais jovens nas ruas de São Paulo, também não depende de quem está em cima destes carros de som. Esta é uma luta que se faz nas ruas”.
Cabe lembrar que o mesmo Zé Maria foi um dos companheiros que foi agredido e detido (juntamente com outros militantes da central e do PSTU) na edição 2008 da Parada, quando, por iniciativa da Associação, a polícia foi convocada para retirar o carro de som que havia sido organizado pela entidade.
Este ano, contudo, o presidente da Associação, Ideraldo Beltrame, esteve na sede da CSP-Conlutas para convidar a entidade para o evento. Uma mudança de postura que reflete, em primeiro lugar, o justo reconhecimento da atuação da entidade, através de seu setorial LGBT, nas muitas manifestações que foram organizadas nos últimos meses contra os ataques homofóbicos.
Mas, também, só pode ser explicada pela crescente pressão por mudanças no “tom” e formato da Parada de São Paulo. Algo ressaltado até mesmo por um vídeo da TV UOL, intitulado “Homossexuais criticam tom "carnavalesco" da Parada Gay”, que circulou amplamente pela Internet.
Foi esse mesmo questionamento que levou o grupo Anti-Homofobia, que se organizou através do Facebook, não só a promover diversas manifestações desde o final de 2010, como também a participar da organização, nesta Parada, de um “bloco”, com o objetivo de conquistar um espaço para manifestação política e para o protesto no interior da Parada.
Um objetivo que, segundo Felipe Oliva, do “Anti-homofobia” foi plenamente atingido: “Apesar de ‘pequena’ no meio deste mar de gente, nossa participação é importante. Conseguimos, através de nossas falas, não só levar o debate político para os milhares que estavam ao nosso redor, atingindo inclusive um público que não tem acesso às redes sociais na internet”.
Os militantes da CSP-Conlutas e do PSTU, por compartilharem deste mesmo objetivo, se localizaram durante a Parada junto ao carro de som organizado pelo “bloco” e o companheiro Guilherme Rodrigues, militante do PSTU e, lamentavelmente, vítima de uma das muitas agressões homofóbicas que pipocaram em São Paulo, no início do ano, foi convidado a falar no carro-de-som.
Falando também em nome do setorial LGBT da CSP-Conlutas, Guilherme lembrou: “Hoje é dia de festa, porque a gente tem orgulho de ser o que é. Mas, também, é dia de luta, porque não podemos esquecer de todos aqueles e aquelas que foram assassinados, que sofreram ou foram humilhados, exatamente porque somos o que somos. Mas, acima de tudo, é dia de luta. É dia de resgatar o espírito de Stonewall e de lembrar que a luta contra a homofobia não pode servir contra moeda de troca para salvar políticos safados, nem pode ser pisoteada por fascistas e reacionários. Por isso, estamos para celebrar o pouco que conquistamos, mas, acima de tudo, para demonstrar nossa disposição de seguir lutando até que tenhamos todos os direitos que precisamos e merecemos”.
Irreverência contra o governo e os reacionários
Babi Borges, da Secretaria LGBT do PSTU, destacou a importância de estar na Parada e de utilizar esta espaço para denunciar o governo e organizar aqueles que estão dispostos a dar um combate sem tréguas contra a homofobia.
Essa disposição por parte de amplos setores que ocupavam a Paulista ficou evidente pela enorme simpatia demonstrada pelos participantes que passavam pelo ponto de concentração onde estavam os militantes do PSTU e da CSP-Conlutas e paravam para tirar fotos ao lado dos dois enormes bonecos levados pelos companheiros do Sindicato dos Servidores Federais (Sindesefe).
Não foram poucos os que queriam levar como lembrança da Parada uma imagem ao lado de um “Bolsonaro” com a boca tapada por uma bandeira do “arco-íris” e de uma “Dilma”, anunciando sua negociata com a bancada evangélica. Como também muitos se interessaram pelo panfleto e adesivos da CSP-Conlutas, e pararam para conversar sobre a necessidade de nos organizarmos para lutar.
Ainda na linha da irreverência, é certo que uma iniciativa da Associação da Parada vai dar muito o que falar nos próximos dias. Como forma de “ilustrar” o tema escolhido para o evento, foram colocados, ao longo de toda Avenida Paulista, enormes “banners” com imagens sensuais de homens semi-nus, que lembravam santos católicos, cercados por um slogan: “Nem santo te protege. Use camisinha”.
A provocativa resposta às muitas declarações homofóbicas dos setores religiosos (evangélicos e católicos) já provocou reações da cúpula da Igreja.
Guilherme no carro de som da Parada
Irreverência à parte, a Parada 2011 em São Paulo, ao mesmo tempo em que demonstrou que está aqui para ficar, também deu importante sinais de que é preciso uma mudança de rumo, não só em relação ao seu formato. Como lembrou Guilherme, no final de sua fala, “hoje, é apenas um dia para celebrarmos e mostrarmos ao mundo que temos orgulho de sermos gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros; mas nos demais 364 dias do anos precisamos continuar lutando para que o mundo reconheça este nosso direito”.
Retirado do Site do PSTU
Fotos Diego Cruz | ||
Coluna do PSTU na Parada |
Convocada pela Associação da Parada sob um lema de gosto e conteúdo questionáveis – “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia” – o evento tinha como de seus principais objetivos, segundo a ONG que o organiza, “pedir uma trégua aos setores religiosos contra iniciativas que garante os direitos para a comunidade LGBT”, particularmente a aprovação da PLC 122, que criminaliza a homofobia e vem sendo bloqueada pela chamada bancada evangélica no Congresso.
Como criticamos há anos, mais uma vez, em função do formato e da política adotados pela Associação, a Parada foi marcada por um tom excessivamente “carnavalesco”, que muito destoa das origens do movimento, que tem em suas raízes a Rebelião de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969, em Nova York.
O problema está longe de ser o tom festivo do evento, já que gays, lésbicas, bissexuais e travestis e transexuais têm, sim, o direito não só de se divertir mas, acima de tudo, de se expressar de acordo com seus padrões de cultura e comportamento.
O que sempre criticamos, e continuaremos fazendo, é o fato de que o evento seja organizado em função dos gigantescos “trio-elétricos” colocados na rua por boates e empresas que lucram com o “pink money”. Uma opção que, ao lado das alianças políticas (com a prefeitura, os governos estadual e federal), contribui em muito para a despolitização do evento, na medida em que praticamente inviabiliza manifestações e protestos.
Uma crítica que, felizmente, começa a ser compartilhada cada vez por mais gente, o que, talvez, tenha sido a “grande” novidade da Parada deste ano.
“Uma luta que se faz nas ruas”
Um “detalhe” para o qual os organizadores do evento não fizeram muita questão de chamar atenção é o fato de que o “bloqueio” imposto pela bancada evangélica foi vergonhosa e escandalosamente negociado pela presidente Dilma, em troca de votos na tentativa de salvar o pescoço corrupto de Palocci.
Um fato que foi lembrado por José Maria de Almeida, que falou em nome da CSP-Conlutas no principal carro de som, na abertura da Parada: “As negociatas de Dilma, a postura reacionária de gente como Bolsonaro e amplos setores do congresso demonstram que não podemos confiar neste caminho para a conquista dos direitos que os homossexuais precisam e merecem. A luta contra a homofobia, que vitima cada vez mais jovens nas ruas de São Paulo, também não depende de quem está em cima destes carros de som. Esta é uma luta que se faz nas ruas”.
Cabe lembrar que o mesmo Zé Maria foi um dos companheiros que foi agredido e detido (juntamente com outros militantes da central e do PSTU) na edição 2008 da Parada, quando, por iniciativa da Associação, a polícia foi convocada para retirar o carro de som que havia sido organizado pela entidade.
Este ano, contudo, o presidente da Associação, Ideraldo Beltrame, esteve na sede da CSP-Conlutas para convidar a entidade para o evento. Uma mudança de postura que reflete, em primeiro lugar, o justo reconhecimento da atuação da entidade, através de seu setorial LGBT, nas muitas manifestações que foram organizadas nos últimos meses contra os ataques homofóbicos.
Mas, também, só pode ser explicada pela crescente pressão por mudanças no “tom” e formato da Parada de São Paulo. Algo ressaltado até mesmo por um vídeo da TV UOL, intitulado “Homossexuais criticam tom "carnavalesco" da Parada Gay”, que circulou amplamente pela Internet.
Foi esse mesmo questionamento que levou o grupo Anti-Homofobia, que se organizou através do Facebook, não só a promover diversas manifestações desde o final de 2010, como também a participar da organização, nesta Parada, de um “bloco”, com o objetivo de conquistar um espaço para manifestação política e para o protesto no interior da Parada.
Um objetivo que, segundo Felipe Oliva, do “Anti-homofobia” foi plenamente atingido: “Apesar de ‘pequena’ no meio deste mar de gente, nossa participação é importante. Conseguimos, através de nossas falas, não só levar o debate político para os milhares que estavam ao nosso redor, atingindo inclusive um público que não tem acesso às redes sociais na internet”.
Os militantes da CSP-Conlutas e do PSTU, por compartilharem deste mesmo objetivo, se localizaram durante a Parada junto ao carro de som organizado pelo “bloco” e o companheiro Guilherme Rodrigues, militante do PSTU e, lamentavelmente, vítima de uma das muitas agressões homofóbicas que pipocaram em São Paulo, no início do ano, foi convidado a falar no carro-de-som.
Falando também em nome do setorial LGBT da CSP-Conlutas, Guilherme lembrou: “Hoje é dia de festa, porque a gente tem orgulho de ser o que é. Mas, também, é dia de luta, porque não podemos esquecer de todos aqueles e aquelas que foram assassinados, que sofreram ou foram humilhados, exatamente porque somos o que somos. Mas, acima de tudo, é dia de luta. É dia de resgatar o espírito de Stonewall e de lembrar que a luta contra a homofobia não pode servir contra moeda de troca para salvar políticos safados, nem pode ser pisoteada por fascistas e reacionários. Por isso, estamos para celebrar o pouco que conquistamos, mas, acima de tudo, para demonstrar nossa disposição de seguir lutando até que tenhamos todos os direitos que precisamos e merecemos”.
Irreverência contra o governo e os reacionários
Babi Borges, da Secretaria LGBT do PSTU, destacou a importância de estar na Parada e de utilizar esta espaço para denunciar o governo e organizar aqueles que estão dispostos a dar um combate sem tréguas contra a homofobia.
Essa disposição por parte de amplos setores que ocupavam a Paulista ficou evidente pela enorme simpatia demonstrada pelos participantes que passavam pelo ponto de concentração onde estavam os militantes do PSTU e da CSP-Conlutas e paravam para tirar fotos ao lado dos dois enormes bonecos levados pelos companheiros do Sindicato dos Servidores Federais (Sindesefe).
Não foram poucos os que queriam levar como lembrança da Parada uma imagem ao lado de um “Bolsonaro” com a boca tapada por uma bandeira do “arco-íris” e de uma “Dilma”, anunciando sua negociata com a bancada evangélica. Como também muitos se interessaram pelo panfleto e adesivos da CSP-Conlutas, e pararam para conversar sobre a necessidade de nos organizarmos para lutar.
Ainda na linha da irreverência, é certo que uma iniciativa da Associação da Parada vai dar muito o que falar nos próximos dias. Como forma de “ilustrar” o tema escolhido para o evento, foram colocados, ao longo de toda Avenida Paulista, enormes “banners” com imagens sensuais de homens semi-nus, que lembravam santos católicos, cercados por um slogan: “Nem santo te protege. Use camisinha”.
A provocativa resposta às muitas declarações homofóbicas dos setores religiosos (evangélicos e católicos) já provocou reações da cúpula da Igreja.
Guilherme no carro de som da Parada
Irreverência à parte, a Parada 2011 em São Paulo, ao mesmo tempo em que demonstrou que está aqui para ficar, também deu importante sinais de que é preciso uma mudança de rumo, não só em relação ao seu formato. Como lembrou Guilherme, no final de sua fala, “hoje, é apenas um dia para celebrarmos e mostrarmos ao mundo que temos orgulho de sermos gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros; mas nos demais 364 dias do anos precisamos continuar lutando para que o mundo reconheça este nosso direito”.
Retirado do Site do PSTU
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