quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Energia elétrica, petróleo, e uma política energética que só beneficia os ricos

O que está por trás do corte nas contas de energia elétrica e no recente anúncio do aumento da gasolina e do diesel



Plataforma da Petrobrás no Rio de Janeiro
No início deste ano tivemos exemplos concretos da política energética da presidente Dilma. De um lado, a redução das tarifas de energia elétrica; de outro, o aumento da gasolina e do diesel. Ambos com um só interesse: beneficiar os grandes empresários e capitalistas.

O primeiro aparentemente beneficiaria a população, no entanto, quem lucrou mesmo foram os donos de grandes empresas. Percebe-se isso claramente quando observamos que os cortes nas contas de energia elétrica foram entre 16 a 18% para as residências, e de até 32% para as indústrias. Além disso, foram obtidos, em parte, pelo corte de impostos estaduais e federais que deveriam ser utilizados para o conjunto da população. Entre eles a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que serve para subsidiar as tarifas de energia dos consumidores de baixa renda e universalizar o atendimento por meio do Programa Luz Para Todos, cujo orçamento foi reduzido em 75%.

Os consumidores de alta tensão, principalmente os energo-intensivos, tais como a indústria de aço, alumínio ou o cimento, serão os grandes beneficiados. A Confederação Nacional das Indústrias prevê que a medida pode ajudar a reduzir em 4% o custo direto de produção industrial. Ganharam também as concessionárias de energia com as concessões de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica que vão vencer entre 2015 e 2017 e que serão prorrogadas.

Enfim, medidas para beneficiar os grandes empresários em época de crise que se anuncia.


Mais lucros para os grandes acionistas petroleiros

Logo a seguir veio o anúncio do reajuste do preço do combustível, variando de 6,6% na gasolina a 5,4% no óleo diesel. Isso enquanto a empresa negocia o rebaixamento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) dos petroleiros da Petrobrás em cerca de 60%. Ambos são diretamente fruto da pressão dos grandes investidores, que compraram suas ações na Bolsa de Nova York, sobre a diretoria da Petrobrás e o governo brasileiro.

Eles andam incomodados com a queda do valor de mercado da Petrobrás, que despencou em dois anos, caindo de R$ 413,3 bilhões (200 bilhões de dólares) em 2011 para R$ 224,8 bilhões (80 bilhões de dólares). Apenas em 2013, a empresa já perdeu R$ 30,1 bilhões, incorporado o prejuízo registrado no segundo trimestre de 2012, de R$ 1,3 bilhão.

Mas vale a pena destacar que os alegados prejuízos da Petrobrás são responsabilidade dos gestores e de seus acionistas que, para garantir seus lucros e a corrupção de altos funcionários do Estado, realizaram “negócios” escusos que causaram tais perdas. Negócios como a compra e venda da Refinaria de Pasadena, nos EUA; a elevação em até quatro vezes do custo estimado para a construção da RENEST (Refinaria Abreu Lima) e do COMPERJ; a venda de áreas do Pré-sal por migalhas ao bilionário Eike Batista; as inúmeras dívidas trabalhistas de ações judiciais motivadas pela terceirização desenfreada que mata e mutila trabalhadores; a falta de manutenção das plataformas, que levou à redução da produção e o não anúncio dos 41 poços secos, omitidos nos balaços anteriores e alocados todos no terceiro trimestre de 2012.

Por outro lado, encobertam as descobertas do Pré-sal, os recordes de produção e a garantia do abastecimento nacional, que rendem trilhões de dividendos aos acionistas. Os mesmos acionistas que receberam, em média, repasses no valor de 30% do valor de seu investimento ao ano, nos últimos dez anos.

Agora, tentam apresentar o prejuízo como fruto da desvalorização cambial e a defasagem entre o preço internacional do combustível e o que é praticado no Brasil. O que tem de fato causado um prejuízo de quase R$ 2 bilhões por mês, fruto da importação mensal de mais de 2 milhões de litros de gasolina, para abastecer a frota de automóveis que cresce à razão de 3,5 milhões de carros por ano.

Mas sejam países que são “autossuficientes” em petróleo, como a Venezuela; aqueles que não são, como a Argentina; e até mesmo os que não tem petróleo como o Paraguai, o preço da gasolina e do álcool é menor que o nosso. Até mesmo nos Estados Unidos a gasolina é mais barata que no Brasil. Lá a gasolina custa 3,63 dólar por galão. Calculando-se o dólar a R$ 2,00 e lembrando que um galão é igual a 3,785 litros, então o litro de gasolina está R$ 0,95 (1,45 dólar), bem abaixo dos R$ 2,90 no Brasil. Enfim, com reajuste o preço da gasolina no Brasil está 51% maior que nos EUA.


A indústria automobilística ganhando de novo

Desde 1999 a Petrobrás não tinha um prejuízo em suas contas. O fato é que até 2009 o Brasil era praticamente autossuficiente em gasolina. Mas em 2000, por exemplo, o Brasil tinha pouco mais de 29 milhões de veículos (carros, motos, ônibus e caminhões), e em 2012 chegou aos 72 milhões.

Isso é fruto dos estímulos dos governos Lula-Dilma à indústria automobilística, combinados com as inexistentes políticas de transporte público, que levaram o brasileiro a comprar automóveis na vã tentativa de fugir dos sistemas de transportes públicos. Mas as consequências são, além do aumento de combustíveis: 260 km de congestionamentos em São Paulo e 160 km de congestionamentos no Rio de Janeiro. Sem falar em poluição e acidentes (mais de 41 mil mortos em acidentes em 2010)

Com isso, em 2012 foi necessário importar mais de 3,5 bilhões de litros de gasolina. Em 2011 o Brasil gastou 1,6 bilhão de dólares em importações deste produto, e em 2012 foram 2,91 bilhões. O Brasil, através da Petrobrás, deverá gastar até R$ 58 bilhões em importações de gasolina até 2020.

E não adianta apontar a substituição da gasolina pelo álcool, pois se teria que dobrar a área plantada em menos de três anos, e, depois, novamente, após outros seis anos. Para isso teriam que ser destruídas lavoura de produtos alimentícios.


Os acionistas não querem pagar a conta

A política do governo Dilma somente beneficia os grandes investidores e as multinacionais. Por exemplo, quando assinou o modelo de partilha para o petróleo que, além de entregar a matéria-prima brasileira às multinacionais, prevê empréstimos a estas empresas através BNDES. Isso para que eles possam arrancar o quanto antes o petróleo de debaixo da terra.

Assim como a megacapitalização fraudulenta da Petrobrás em setembro de 2010, realizada por meio de uma “cessão onerosa” de cinco bilhões de barris de petróleo a um custo de 42.533 bilhões de dólares, com o barril avaliado em US$ 8,51, quando seu valor de mercado, por baixo, é de 100 dólares em média.

Hoje, mesmo com o prejuízo recente, o que não se fala é que a Petrobrás faturou R$ 21,182 bilhões (10,69 bilhões de dólares) em 2012, um lucro maior que a Ecopetrol (Colômbia) e a Lukoil (Rússia). E que, ao longo dos anos, os acionistas vêm recebendo polpudos dividendos. O problema é que os grandes agentes do capital financeiro não querem pagar a conta da diminuição de seus lucros, e querem jogá-la para os trabalhadores.

Ao repassar seus supostos prejuízos, a Petrobrás desencadeia um processo de aumento de preços que se inicia com as passagens de ônibus e do custo do transporte de carga, passando pelo preço dos alimentos e eletrodomésticos. Chegando, finalmente, aos trabalhadores e às contas públicas.


A questão dos royalties

Em setembro do ano passado, Dilma decidiu vetar o artigo 3º do Projeto de Lei aprovado no Congresso, que diminuía a parcela de royalties e da participação especial dos contratos em vigor destinada a estados e municípios produtores de petróleo. Era uma reivindicação dos governadores de estados como Rio de Janeiro e Espírito Santo. Com o veto presidencial, ficou mantida a atual distribuição dos recursos.

Royalties são tributos pagos ao Governo Federal pelas empresas que exploram petróleo, como uma forma de compensação por possíveis danos ambientais causados pela extração. Participação especial é a reparação pela exploração de grandes campos de extração, como da camada Pré-sal descoberta na costa brasileira recentemente.

Foi um absurdo dividir o país em estados, qualificando uns como produtores e outros como não produtores. O governador do Rio Sergio Cabral (PMDB) declarou de maneira absurda, preconceituosa e desrespeitosa que o estado não sobrevive sem os royalties.

Quando se produz petróleo a 100 quilômetros da costa, o estado produtor é nenhum outro senão o Estado nacional. A descoberta se deu num esforço nacional. E mesmo a atual Constituição diz que todos os recursos do subsolo pertencem à nação. Qualquer acidente na plataforma em alto-mar terá consequência ou não segundo as correntes marinhas e a distância em relação ao litoral.

Mas o pior é que se o barril de petróleo vale 100 dólares, e se gasta de 10 a 15 dólares para produzi-lo, tirando os 15 dólares dos royalties, ainda sobram 75 para as multinacionais e os grandes acionistas estrangeiros. Se a Petrobrás fosse 100% estatal e garantíssemos o monopólio estatal do petróleo, não teríamos que ficar brigando por migalhas e o povo brasileiro se apropriaria de toda esta riqueza.


Uma proposta dos trabalhadores para a questão energética

Com a crise econômica mundial se aproximando, o plano do governo Dilma é aumentar a exportação de commodities para garantir a balança comercial e a entrada de dólares. Mantendo, assim, o papel do Brasil na divisão mundial do trabalho com a produção e exportação de matéria-prima.

Por isso Dilma insiste com a presidente da Petrobrás, Graça Foster, para aumentar a produção de petróleo em até 6 milhões de barris ao dia, enquanto 3 milhões seriam mais que suficientes para garantir a nossa autossuficiência.

Consequentemente, há o aumento de terceirizações, ritmo do trabalho acelerado, precarização, aumento da exploração dos trabalhadores da Petrobrás e dos terceirizados e aumento do preço dos combustíveis. Afinal, o governo tem que garantir um investimento de 224 bilhões de dólares até 2013 para a construção de toda infraestrutura.

A política do governo está totalmente equivocada. É um erro arrancar uma riqueza debaixo da terra no meio do oceano para submetê-la ao imperialismo e à lógica do capital financeiro internacional. Sem falar nos riscos humanos e ambientais de uma exploração desenfreada, em condições de trabalho alucinantes e em uma região de grande perigo de acidentes.

Esta política somente irá beneficiar os empreiteiros que farão as grandes obras; as multinacionais e os governos imperialistas que colocarão as mãos neste óleo; os bancos, com a especulação financeira e os políticos corruptos metidos em maracutaias.

Temos que garantir que a exploração do Pré-sal seja feita de maneira controlada e submetida à necessidade de financiar o desenvolvimento do país, retirando o volume de petróleo necessário para financiar um projeto de desenvolvimento econômico e social que tenha como centro o beneficiamento da classe trabalhadora. Seja aplicando-se nas questões públicas e estatais fundamentais, seja garantindo salário digno para todos os petroleiros da Petrobrás e terceirizados. Condições de trabalho seguras, com a diminuição da jornada e geração de emprego.

Enquanto isso, ir desenvolvendo a transição energética para as matrizes menos poluentes, como fontes de energia solar, fotovoltaica e eólica, que podem ser desenvolvidas de maneira excepcional em um país como o Brasil.

Mas isso somente poderá ser feito por uma Petrobras 100% publica e estatal controlada pelos trabalhadores e da população pobre e com sua transformação em uma indústria de energia. Isso vale também para a Vale do Rio Doce, que tem que ser reestatizada para que nos apropriemos do excedente econômico da indústria mineral.


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As maracutaias do petróleo


Retirado do Site do PSTU

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