Zé Maria no ato por reparação e punição aos crimes da ditadura |
A mesa do ato, no lugar de uma ou duas personalidades, foi composta simbolicamente por diversos perseguidos políticos da ditadura militar. Mais precisamente militantes que atuavam no movimento sindical e que foram presos e demitidos de forma arbitrária. A maioria ali da então corrente Convergência Socialista, antecessora do PSTU e que movem hoje uma campanha por reparação. “Aqui não se trata tão somente de uma questão de memória, mas também de verdade e Justiça” , afirmou Aderson Bussinger, advogado e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.
Bussinger lembrou que as torturas e a perseguição política não ficaram no passado, mas fazem parte do presente. ”Sabemos que existe tortura nas delegacias, perseguição a ativistas políticos, então essa não é uma questão só de passado, mas se refere também ao presente, e de futuro, para que esse tipo de coisa não se repita” disse.
O papel da classe operária
Um dos objetivos do ato foi o de resgatar o protagonismo da classe trabalhadora na luta contra a ditadura. “Na recuperação da memória da luta contra a ditadura, muito se fala da luta armada, da resistência cultural, do movimento estudantil, mas pouco ou quase nada do movimento sindical ou popular”, afirmou o ex-presidente do MOMSP (Movimento de Oposição Sindical dos Metalúrgicos de São Paulo), Sebastião Neto.
Neto tem papel destacado na investigação histórica e conscientização das novas gerações sobre o período da ditadura e a resistência operária. A classe trabalhadora, uma das protagonistas da queda do regime militar, foi também um dos setores que mais sofreram com a repressão “Dos mais de 9500 pedidos de anistia que tínhamos na Comissão de Anistia, mais de três mil eram de trabalhadores filiados a sindicatos, porque a primeira vítima da ditadura foram os trabalhadores” , atestou ao público Egmar Santos, vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Uma história, porém, que poucos conhecem. “É muito importante aprender com a história, mas para isso temos primeiro que conhecer essa história” , destacou Zé Maria, preso e torturado durante a ditadura. Coincidentemente, esse dia 28 marcava exatamente o aniversário de 35 anos da primeira prisão de Zé e a então militante Márcia Basseto.
Repressão ontem e hoje
Maria Salay, ex-dirigente metalúrgica em Santo André, também presente no ato, fez um relato emocionante sobre as dificuldades da atuação sindical durante o período. “E o pior, é que a ditadura dentro das fábricas ainda não terminou” , sentenciou.
Se a repressão dos tempos da ditadura ainda não acabou por completo, seus mandantes também permanecem livres e impunes. “Temos que levar os torturadores aos bancos dos réus, mas principalmente os mandantes, as pessoas a quem serviam tais crimes” , opinou Sebastião Neto. “Eles serviam aos interesses das multinacionais, aos governantes, à burguesia” , denunciou.
O deputado estadual de São Paulo Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e da Pessoa Humana da Assembleia Legislativa, relatou o apoio das empresas à ditadura. “A GM, por exemplo, forneceu todos os veículos que a repressão precisava”, relatou o deputado, que lembrou a violência recente sofrida pelos moradores do Pinheirinho. "A perseguição sofrida por essa central e pelo PSTU é a mesma que nós sofremos na ditadura militar", opinou.
“Os financiadores de ontem e de hoje daqueles que matam e perseguem ativistas políticos são os mesmos” , afirmou Zé Maria. “Temos que saldar essa dívida e para nós ela é muito importante”.
O dirigente da CSP-Conlutas afirmou ainda que “a luta pela punição aos crimes da ditadura não é secundária, mas complementar, na medida em que politiza nossas lutas cotidianas” .
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Retirado do Site do PSTU
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