Movimento grevista foi o acontecimento mais decisivo da cena política do Ceará nos últimos anos
Acabou a greve da polícia militar e dos bombeiros do Ceará. Na madrugada desta quarta-feira, foi celebrado um acordo entre as lideranças do movimento e o governo Cid Gomes. As principais reivindicações da categoria foram atendidas: incorporação da gratificação de R$ 850 para todos os policiais ativos, inativos, pensionistas, tanto da Polícia Militar quanto bombeiros militares (mais 7% da reposição da inflação que fora já concedida ao conjunto dos servidores estaduais); anistia geral de processos abertos desde primeiro de novembro de 2011; jornada de 40 horas (antes a jornada era de 44 horas semanais).
É cedo para fazer um balanço completo da greve. Mas, sem dúvida, foi o acontecimento mais decisivo da cena política do Ceará nos últimos anos. A unidade entre trabalhadores militares e as demais categorias de trabalhadores foi conseguida e colocou o governo Cid contra as cordas. Dias atrás saiu uma pesquisa IBOPE em que o governador era um dos três dirigentes estaduais mais bem avaliados pela população. A força do movimento imobilizou o governo e se perdurasse por mais alguns dias estaria colocada a palavra de ordem “Fora Cid” com força de massa.
Não é exagero falar que se não estivemos frente a uma crise revolucionária no Ceará (governo suspenso no ar, não conseguia governar), certamente estivemos à beira de um quadro social e político com esse signo. Os serviços da capital cearense – e de grande parte do interior – entraram em flagrante colapso. O comércio baixou as portas e as escolas deixaram de funcionar. Os trabalhadores dos correios fecharam a empresa e foram se solidarizar com os grevistas. Corredores de ônibus foram fechados e o sindicato da categoria não se furtou em levar apoio aos policiais. O governador e os seus secretários desapareceram de cena e a assembleia legislativa (justificando a sua postura pelo recesso) manteve-se paralisada e muda. O jornalista Érico Firmo, responsável pela coluna “Política” do jornal O Povo, ainda que extraindo conclusões equivocadas acerca do movimento, traduziu bem o que aconteceu nesses seis dias de greve: “O governador e seus auxiliares se acostumaram a mandar e a serem prontamente obedecidos. Quando as ordens não foram acatadas, pareceram não saber o que fazer” e “Não eram os governantes, mas os grevistas que conduziam a situação”.
Eis a chave da situação: “Não eram os governantes, mas os grevistas que conduziam a situação”. Esses grevistas tiveram grande capacidade de articulação. Em torno da luta em curso aglutinaram-se cinco centrais sindicais. Até a empoeirada CUT foi obrigada a se mover, enquanto a CTB parecia ter certa incidência sobre lideranças do comando de greve. A CSP-Conlutas é reconhecida como uma das forças que apoiaram firmemente o movimento. Os seus sindicatos não só contribuíram para o fundo de greve, mas os seus dirigentes foram diretamente apoiar a paralisação, incorporando-se às atividades que tinham como locus privilegiado a 6ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar, no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza.
Os soldados e sindicalistas transformaram essa estrutura do aparato militar em uma espécie de “soviet” de onde saíram às principais decisões que paralisaram as autoridades e isolaram o governo frente à sociedade. A terça feira (03/01) entrou para a história do Ceará. Esse dia ficará para a história como aquele em que um governante autoritário não conseguiu governar o estado e as cidades – tendo como vanguarda a capital – saíram da sua rotina e se viram diante de um novo estado de coisas.
O papel da juventude
Importante salientar que a vanguarda do movimento foi a juventude (a própria direção era constituída – em parte – por jovens lideranças). É digno de nota que a maioria absoluta dos militares que ocuparam o 5º Batalhão era muito jovem e, provavelmente, foi incorporada às forças policiais através dos concursos de 2006 e 2008. De 2007 até 2011, o governo Cid Gomes convocou aproximadamente 3 mil novos membros para constituir a força policial estadual. Alguns militaram no movimento estudantil e o grau de instrução é bastante elevado (se comparado com o contingente mais antigo). Assim, jovens policiais e bombeiros deram o gás necessário para que o resultado obtido fosse esse e não outro. Um deles falava mais ou menos assim: “havia deixado de acreditar na revolução; voltei a acreditar”.
A tarefa das tarefas: consolidar a unidade conquistada
Outro ganho é a possibilidade de reivindicar essa comovente unidade nos próximos embates das lutas salariais articuladas pelas diversas categorias, a começar pela construção civil. Será um novo ato de um drama social cujo primeiro ato foi terminantemente vitorioso.
O PSTU, que apoiou a greve por meio de nota divulgada logo depois da decisão da assembleia do dia 29/12 e com a presença dos seus militantes no QG da paralisação, chama os policiais e bombeiros a reforçar as lutas que devem marcar o cenário dos próximos meses no Ceará, começando pelo apoio a luta em curso da polícia civil. A união de trabalhadores – fardados e sem fardas – foi uma conquista política da greve dos policiais. Essa conquista precisará ser regada para se consolidar, indicando novos horizontes para os embates da classe trabalhadora. Nesses termos, a tarefa das tarefas será a de consolidar essa unidade conquistada, uma vez que o governo foi derrotado, mas não está morto, e certamente, vai tentar recompor o comando da polícia e dos bombeiros com vista a tornar essas corporações, uma vez mais e sempre, em forças para reprimir os que lutam.
A greve vitoriosa apontou noutra direção: a da unidade dos que lutam (com farda ou sem farda). Esse ganho precisa ser mantido e aprofundado.
Retirado do Site do PSTU
União de trabalhadores fardados e sem fardas foi uma conquista da greve |
É cedo para fazer um balanço completo da greve. Mas, sem dúvida, foi o acontecimento mais decisivo da cena política do Ceará nos últimos anos. A unidade entre trabalhadores militares e as demais categorias de trabalhadores foi conseguida e colocou o governo Cid contra as cordas. Dias atrás saiu uma pesquisa IBOPE em que o governador era um dos três dirigentes estaduais mais bem avaliados pela população. A força do movimento imobilizou o governo e se perdurasse por mais alguns dias estaria colocada a palavra de ordem “Fora Cid” com força de massa.
Não é exagero falar que se não estivemos frente a uma crise revolucionária no Ceará (governo suspenso no ar, não conseguia governar), certamente estivemos à beira de um quadro social e político com esse signo. Os serviços da capital cearense – e de grande parte do interior – entraram em flagrante colapso. O comércio baixou as portas e as escolas deixaram de funcionar. Os trabalhadores dos correios fecharam a empresa e foram se solidarizar com os grevistas. Corredores de ônibus foram fechados e o sindicato da categoria não se furtou em levar apoio aos policiais. O governador e os seus secretários desapareceram de cena e a assembleia legislativa (justificando a sua postura pelo recesso) manteve-se paralisada e muda. O jornalista Érico Firmo, responsável pela coluna “Política” do jornal O Povo, ainda que extraindo conclusões equivocadas acerca do movimento, traduziu bem o que aconteceu nesses seis dias de greve: “O governador e seus auxiliares se acostumaram a mandar e a serem prontamente obedecidos. Quando as ordens não foram acatadas, pareceram não saber o que fazer” e “Não eram os governantes, mas os grevistas que conduziam a situação”.
Eis a chave da situação: “Não eram os governantes, mas os grevistas que conduziam a situação”. Esses grevistas tiveram grande capacidade de articulação. Em torno da luta em curso aglutinaram-se cinco centrais sindicais. Até a empoeirada CUT foi obrigada a se mover, enquanto a CTB parecia ter certa incidência sobre lideranças do comando de greve. A CSP-Conlutas é reconhecida como uma das forças que apoiaram firmemente o movimento. Os seus sindicatos não só contribuíram para o fundo de greve, mas os seus dirigentes foram diretamente apoiar a paralisação, incorporando-se às atividades que tinham como locus privilegiado a 6ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar, no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza.
Os soldados e sindicalistas transformaram essa estrutura do aparato militar em uma espécie de “soviet” de onde saíram às principais decisões que paralisaram as autoridades e isolaram o governo frente à sociedade. A terça feira (03/01) entrou para a história do Ceará. Esse dia ficará para a história como aquele em que um governante autoritário não conseguiu governar o estado e as cidades – tendo como vanguarda a capital – saíram da sua rotina e se viram diante de um novo estado de coisas.
O papel da juventude
Importante salientar que a vanguarda do movimento foi a juventude (a própria direção era constituída – em parte – por jovens lideranças). É digno de nota que a maioria absoluta dos militares que ocuparam o 5º Batalhão era muito jovem e, provavelmente, foi incorporada às forças policiais através dos concursos de 2006 e 2008. De 2007 até 2011, o governo Cid Gomes convocou aproximadamente 3 mil novos membros para constituir a força policial estadual. Alguns militaram no movimento estudantil e o grau de instrução é bastante elevado (se comparado com o contingente mais antigo). Assim, jovens policiais e bombeiros deram o gás necessário para que o resultado obtido fosse esse e não outro. Um deles falava mais ou menos assim: “havia deixado de acreditar na revolução; voltei a acreditar”.
A tarefa das tarefas: consolidar a unidade conquistada
Outro ganho é a possibilidade de reivindicar essa comovente unidade nos próximos embates das lutas salariais articuladas pelas diversas categorias, a começar pela construção civil. Será um novo ato de um drama social cujo primeiro ato foi terminantemente vitorioso.
O PSTU, que apoiou a greve por meio de nota divulgada logo depois da decisão da assembleia do dia 29/12 e com a presença dos seus militantes no QG da paralisação, chama os policiais e bombeiros a reforçar as lutas que devem marcar o cenário dos próximos meses no Ceará, começando pelo apoio a luta em curso da polícia civil. A união de trabalhadores – fardados e sem fardas – foi uma conquista política da greve dos policiais. Essa conquista precisará ser regada para se consolidar, indicando novos horizontes para os embates da classe trabalhadora. Nesses termos, a tarefa das tarefas será a de consolidar essa unidade conquistada, uma vez que o governo foi derrotado, mas não está morto, e certamente, vai tentar recompor o comando da polícia e dos bombeiros com vista a tornar essas corporações, uma vez mais e sempre, em forças para reprimir os que lutam.
A greve vitoriosa apontou noutra direção: a da unidade dos que lutam (com farda ou sem farda). Esse ganho precisa ser mantido e aprofundado.
Retirado do Site do PSTU
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