quinta-feira, 18 de março de 2010

Governo Lula retoma política de privatização de Collor e FHC para Caixa Econômica Federal

A Caixa Econômica Federal anuncia um plano de “reestruturação” para reduzir custos, centralizar serviços e aumentar sua lucratividade com uma exploração ainda maior sobre os bancários.
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O início do mês de março foi um verdadeiro pesadelo para os bancários da Caixa Econômica Federal que trabalham nos setores administrativos (filiais) da empresa. Em decisão unilateral e absolutamente autoritária, a direção da Caixa decidiu implantar um plano de “reestruturação” das filiais, que determina – sem qualquer consulta ou debate com os trabalhadores – a centralização, fusão e extinção de diversas unidades administrativas.

O resultado disso é que uma grande quantidade de empregados que até então trabalhavam nessas filiais serão obrigados a migrar para outras cidades do país se quiserem manter suas atuais funções, ou, procurar outro local para trabalhar – muitas das vezes diminuindo salário e abrindo mão de outras garantias.

Trata-se, portanto, de mais um ataque brutal do Governo Lula, que colocou à frente da direção da Caixa uma ex-sindicalista de sua inteira confiança – Maria Fernanda Ramos Coelho – para melhor executar as mesmas políticas neoliberais aplicadas pelos governos anteriores.


Centralização: uma política deliberada a serviço do “Estado Mínimo”

A centralização dos serviços já é uma política conhecida pelos empregados da Caixa. Nos governos Collor e FHC, a orientação dada à empresa era de centralizar nas grandes metrópoles as atividades que não eram consideradas bancárias (infra-estrutura, recursos humanos, segurança, tecnologia, etc.), abrindo espaço para que essas atividades fossem terceirizadas em grande parte do país.

A terceirização se apóia basicamente em duas concepções: reduzir os custos com folha de pessoal através da contratação de empresas que exploram trabalho precarizado (trabalhadores que exercem a mesma atividade, mas na modalidade de “prestação de serviços” e, por isso, ganham salários muito menores); e desobrigar o Estado da execução de atividades que, na ótica neoliberal, “devem ser exercidas pela iniciativa privada”.

Essa política, portanto, era uma decisão deliberada de privatização gradativa, na medida em que a iniciativa privada aumentava sua influência no cotidiano da Caixa e, ao mesmo tempo, diminuía a responsabilidade do Estado sobre todas as atividades da empresa, deixando-a cada vez mais “enxuta” e preparada para ser comprada por grandes corporações financeiras. Essa mesma política foi aplicada em inúmeras empresas como, por exemplo, na Vale do Rio Doce, na EMBRAER e no antigo Banespa – todas elas já totalmente privatizadas.

Agora, essa orientação retorna com força na Caixa, mostrando que embora tenha a aparência e uma origem na classe trabalhadora, Lula e o PT não se diferenciam de FHC e do PSDB na prática, pois aplicam o mesmo programa neoliberal de sucateamento, privatização e “Estado Mínimo”, privilegiando os interesses da burguesia e das grandes empresas.


As primeiras faturas da crise econômica começam a chegar

Há também outro elemento importante que explica essa política adotada por Lula. Durante o auge da crise econômica, o governo não teve nenhum constrangimento em tentar contornar a crise salvando os lucros dos capitalistas e especuladores nacionais e internacionais.

Ao invés de garantir a estabilidade no emprego e estatizar as empresas que demitissem, colocando-as sob o controle dos trabalhadores, Lula socorreu as empresas e os bancos com mais de 300 bilhões de reais e para isso, utilizou tanto o Banco do Brasil quanto a Caixa para comprar ações e incorporar instituições financeiras à beira da bancarrota.

Mas uma hora essa conta precisaria ser paga e as primeiras faturas estão chegando para os trabalhadores da Caixa. Com a nova “reestruturação”, além de fomentar um processo de privatização silenciosa, a direção da Caixa pretende, ao centralizar os serviços, deixar que todo trabalho das filiais antes realizado por uma quantidade maior de trabalhadores seja feito por um contingente mínimo de empregados, que serão super-explorados nas unidades que se fundirem ou que forem centralizadas a partir do fechamento de outros setores.

Na outra ponta do processo, os trabalhadores que perderam seus postos serão direcionados em sua maioria para o setor negocial (agências), mas não para amenizar o ritmo de trabalho e a pressão absurda por metas quase inalcançáveis. O objetivo da Caixa é submeter os recém-chegados nas agências ao mesmo nível de exploração ao qual estão submetidos os que hoje trabalham nas unidades de ponta para aumentar a lucratividade do banco e utilizar esses recursos não a serviço dos interesses dos trabalhadores, mas para pagar a conta de uma crise que é de responsabilidade da burguesia e do capitalismo.


A CUT mais uma vez se cala diante dos ataques de Lula

Infelizmente, essa “reestruturação” imposta pela Caixa e pelo Governo Lula não vem sendo combatida pela CUT, que controla a maioria das entidades do movimento sindical bancário do país.

Logo após o anúncio do plano, a CUT se limitou a comentá-lo “criticamente”, questionando apenas o “motivo” da Caixa ter agido dessa forma, sem apontar qualquer sinalização de que vai organizar os trabalhadores para lutar contra esse ataque.

Para se ter uma idéia, A FENAE (Federação Nacional das Associações dos Empregados da Caixa), que é ligada à CUT, afirmou em nota que apenas “questionou” à presidenta da Caixa se “não haveria como suspender essas mudanças”, enganando os trabalhadores para fazê-los crer que é possível obrigar a empresa a recuar sem construir as lutas. Um de seus diretores, também em nota, chegou ao ponto de afirmar que “considerando o ano eleitoral”, não vê “outra razão para essa insanidade a não ser os interesses da oposição (PSDB) que ainda atuam (nas sombras?) na alta direção da Caixa”.

Como podemos ver, a CUT não apenas se omite diante dos ataques do Governo Lula, como também não tem nenhum pudor em tentar ludibriar os trabalhadores ao insinuar que os responsáveis pela política de uma estatal controlada pelo Governo Lula seria a oposição de direita (PSDB), e não o próprio Lula.

Durante os governos Collor e FHC, a CUT rechaçava as políticas privatizantes de centralização e colocava (acertadamente) toda a responsabilidade por isso nas políticas neoliberais dos governos. Agora, com Lula à frente desses ataques, a CUT se cala e se nega a construir a resistência, mostrando a sua falência absoluta como instrumento de luta da classe trabalhadora.


Somente com lutas é possível derrotar os ataques de Lula aos bancários

Sabemos que a maioria dos bancários ainda confia no Governo Lula. Se não confiam totalmente, mas temem que com o PSDB a situação possa piorar.

Não queremos a volta do PSDB e sabemos que o período dos governos da direita tradicional foram anos de chumbo para os bancários e a classe trabalhadora como um todo. Mas, por outro lado, o Governo Lula que encheu essa categoria de esperanças, foi uma decepção. Os bancários continuam trabalhando em ritmo alucinante, continuam adoecendo, recebendo pressão para atingimento de metas e continuam tendo o salário cada vez mais rebaixado, na medida em que Lula nunca se dispôs a fazer um plano de reposição das perdas da categoria.

Lula também não mudou a vida dos trabalhadores naquilo que de fato interessa: não alterou a situação geral de vida da classe, não estatizou nem o sistema financeiro nem nenhuma das empresas privatizadas por FHC e continuou governando para os empresários e banqueiros (que financiaram suas campanhas e nunca lucraram tanto como agora). Lula, em resumo, não está do lado dos trabalhadores e não tem nenhum compromisso com a luta por uma sociedade sem exploradores e sem explorados.

Por isso, é fundamental que os bancários se unam à Conlutas e se organizem para lutar contra Lula e todos os que aplicam as políticas neoliberais que afetam negativamente a vida dos trabalhadores. Somente dessa maneira é possível barrar esses ataques que são desferidos a cada dia contra a categoria e contra toda a classe trabalhadora.

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