quarta-feira, 10 de abril de 2013

Thatcher não deixará saudade

Ex-primeira-ministra morta no último dia 8 foi combatida por feministas e trabalhadores, mostrando que não basta ser mulher




A ex-primeira-ministra Margareth Thatcher
Morreu nesta segunda-feira, 8, a ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher. A “Dama de Ferro”, como era conhecida, teve um derrame aos 87 anos. Thatcher ficou conhecida por ser a primeira mulher – e única até o momento – a ser eleita primeira-ministra do Reino Unido, e governou durante 21 anos (1979-1990).

Porém os trabalhadores, certamente, lembram-se dela por outros motivos. A Dama de Ferro deu início, ainda nos anos 1970, à implementação do neoliberalismo no Reino Unido, que flexibilizou as leis trabalhistas, atacando diretamente os direitos da classe. O direito de greve sofreu um duro golpe com uma legislação reacionária que vigora até os dias de hoje. Em 1985, uma forte greve de mineiros foi esmagada com uma dura repressão.

As privatizações e a lei do “Estado mínimo” foram outro aspecto marcante dessa trágica política. As medidas provocaram um aumento de três vezes do desemprego, atingindo cerca de 3 bilhões de pessoas, e, consequentemente, a piora das condições de vida dos trabalhadores. A taxa de pobreza no país duplicou, e a desigualdade social, fruto de uma reestruturação financeira extremamente injusta, cresceu em um terço.

A entrega do Estado começou pelo setor siderúrgico, chegando aos setores de telecomunicações, petróleo, gás, portos e à indústria de aviação e automobilística. O neoliberalismo tornou-se a política hegemônica dos anos 1980 e 90. O thatcherismo influenciou os governos da América Latina, começando por Augusto Pinochet, então ditador do Chile. No Brasil, Thatcher foi seguida por Fernando Henrique Cardoso, responsável pela entrega de estatais estratégicas ao setor privado e pelas conseqüentes demissões em massa.



Em 1982, Thatcher liderou a invasão britânica às ilhas Malvinas. Em meados dos anos 1980, a rejeição a Thatcher se ampliou e ganhou forma de protestos. Pelas ruas da Inglaterra, ouvia-se o grito “Magie, fora!”. A gota d’água foi a implementação de um imposto regressivo, em que os mais pobres pagam um imposto proporcionalmente maior do que os mais ricos. O chamado “Poll Tax” ainda obrigava todos os maiores de 18 anos a pagarem pelos serviços públicos.

Esse imposto tinha um único objetivo: manter os ataques ao Oriente Médio, concentrados na guerra do Golfo (1990). No Reino Unido, árabes foram perseguidos e presos por supostamente ameaçar a segurança nacional. Muitos foram levados a campos de concentração no sul da Inglaterra. Embora uma campanha feroz dos meios de comunicação, alinhados com o governo, tenha ganhado o apoio da maioria da população à guerra, as manifestações antibélicas não deixaram de acontecer, provocando censura inclusive de músicas de John Lennon.

Em 1990, já bastante desgastada, Thatcher é limada do poder pelo Partido Conservador com medo de perder as eleições seguintes. A onda de mobilizações contra a imposição do “Poll Tax” derrubou a Dama de Ferro.

Outra lição que Thatcher nos deixa é que não basta ser mulher. Sua trajetória é a prova de que o mundo se divide em classes. Contra todas as teorias que dividem o mundo pelo gênero, a Dama de Ferro travou uma guerra social contra mulheres e homens trabalhadores. Um exemplo bonito desse entrave aconteceu na greve de mineiros de 1984. As mulheres dos trabalhadores aguardaram Thatcher na entrada de um evento do Partido Conservador e lhe tacaram ovos e tomates. Este foi um episódio que marcou a importância da união entre homens e mulheres trabalhadores para lutar contra a classe dominante.

A Dama de Ferro se foi. Curiosamente, seu funeral será estatal. Para a classe trabalhadora britânica e mundial, não há o que chorar. O papel que ela cumpriu na história deverá ser lembrado como uma das piores faces do capital contra a classe trabalhadora.


Retirado do Site do PSTU

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