Escândalo em Brasília já ultrapassa caso Demóstenes e seu mentor bicheiro, atingindo empreiteira do PAC e suas relações espúrias com políticos
Com 486 assinaturas, entre deputados e senadores, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi oficialmente instaurada nesse dia 19 de abril no Congresso. Os partidos estão agora indicando os nomes de seus representes à comissão.
Situação inédita, essa CPI nasce já com o apoio de quase 80% de todo o Congresso Nacional, geralmente tão avessa a qualquer tipo de investigação. O grosso da base aliada do governo e a oposição de direita, cada um com seus próprios propósitos, assinaram a criação da comissão.
Ao governo interessa jogar uma pá de cal no agonizante DEM, atingir o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), vingar-se de Cachoeira (responsável pela filmagem do pagamento de propina envolvendo Waldomiro Diniz pouco antes de se tornar assessor do ministro José Dirceu) e, sobretudo, tirar o foco do processo do ‘Mensalão’, a ponto de ser julgado no Supremo Tribunal Federal.
Ao restante da base do governo, restam as esperanças de que algum acidente de percurso na investigação seja justificativa para exigir do governo liberação de emendas parlamentares e cargos. Já para a balança da oposição de direita pesam a necessidade de resgatar parte da credibilidade perdida com Demóstenes, e a chance de atingir o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz (PT), as obras do PAC, além de outros políticos envolvidos com o bicheiro.
Nessa CPMI em que ‘todos investigam todos’, é improvável que alguém seja de fato investigado. A situação é tão esdrúxula que a comissão terá, entre seus membros, figuras do folclore da corrupção brasileira, como o senador Fernando Collor (PTB-AL). O governo, porém, a fim de se precaver da máxima que ‘todos sabem como começa uma CPI, mas ninguém sabe como termina’, já indicou que não abre mão da presidência e da relatoria da comissão.
Muito além de Demóstenes
O mais recente escândalo de corrupção que agita o Congresso teve início com a prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira em fevereiro, em meio à Operação Monte Carlo da Polícia Federal, e o vazamento de gravações telefônicas ligando o contraventor ao então senador do DEM Demóstenes Torres. O que no início indicava apenas estreitas relações de um parlamentar com um conhecido contraventor, logo se revelou um intrincado esquema de ‘toma-lá-dá’ de Cachoeira com inúmeros políticos da mais ampla gama partidária, tanto da oposição de direita quanto da base do governo.
Revelações posteriores incluíram no escândalo a empreiteira Delta Construções, envolvida em grande parte das obras do PAC, que teria seus negócios intermediados por Cachoeira e, em troca, ‘abastecia’ as empresas do bicheiro e as campanhas eleitorais dos políticos. Propinas e favorecimentos em licitações fariam parte do arsenal da quadrilha. Uma das escutas telefônicas do empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, mostra o empresário dizendo que 'se eu botar 30 milhões na mão de político, eu sou convidado pra coisa pra caralho'.
Um novo mensalão?
Apesar de a CPI estar sendo chamada de ‘CPI do Cachoeira’, os indícios dos escândalos vindos à tona nas últimas semanas mostram um caso bem mais grave que um senador comprado ou um bicheiro corruptor. O caso revela as relações espúrias entre as empresas privadas, o poder público e os políticos. Se há diferença com o mensalão no governo Lula, ela é de forma, não conteúdo. Ou de periodicidade nos pagamentos.
A construtora Delta, por exemplo, que vários parlamentares e o governo agem para que não conste nas investigações, se tornou uma potência na construção civil através de contratos com o Governo Federal. De acordo com levantamento da Folha de S. Paulo, entre 2003 e 2011, os recursos federais recebidos pela empresa cresceram mais de 2000%. Do Rio, a Delta irradiou-se para os 23 estados e o DF.
Suborno, fraudes em licitação, financiamento ilegal de campanhas. A lista de crimes a serem investigados é interminável. Na origem, a mesma história: uma empreiteira ou um bicheiro pagam a campanha nas eleições, e depois apresentam a fatura.
Tanto governo quanto a oposição de direita teriam muito a perder caso as investigações fossem até o fim. Por isso, cada um trabalha por seus objetivos específicos e todos pela impunidade. Mas imprevistos acontecem. Hoje, Cachoeira é um arquivo vivo. E essa CPI, o verdadeiro jogo de azar.
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Demóstenes Torres: a cara da democracia dos ricos - nota da Juventude do PSTU
Retirado do Site do PSTU
Ag Senado | ||
Senador Demóstenes Torres, ex-paladino da ética |
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Ao governo interessa jogar uma pá de cal no agonizante DEM, atingir o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), vingar-se de Cachoeira (responsável pela filmagem do pagamento de propina envolvendo Waldomiro Diniz pouco antes de se tornar assessor do ministro José Dirceu) e, sobretudo, tirar o foco do processo do ‘Mensalão’, a ponto de ser julgado no Supremo Tribunal Federal.
Ao restante da base do governo, restam as esperanças de que algum acidente de percurso na investigação seja justificativa para exigir do governo liberação de emendas parlamentares e cargos. Já para a balança da oposição de direita pesam a necessidade de resgatar parte da credibilidade perdida com Demóstenes, e a chance de atingir o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz (PT), as obras do PAC, além de outros políticos envolvidos com o bicheiro.
Nessa CPMI em que ‘todos investigam todos’, é improvável que alguém seja de fato investigado. A situação é tão esdrúxula que a comissão terá, entre seus membros, figuras do folclore da corrupção brasileira, como o senador Fernando Collor (PTB-AL). O governo, porém, a fim de se precaver da máxima que ‘todos sabem como começa uma CPI, mas ninguém sabe como termina’, já indicou que não abre mão da presidência e da relatoria da comissão.
Muito além de Demóstenes
O mais recente escândalo de corrupção que agita o Congresso teve início com a prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira em fevereiro, em meio à Operação Monte Carlo da Polícia Federal, e o vazamento de gravações telefônicas ligando o contraventor ao então senador do DEM Demóstenes Torres. O que no início indicava apenas estreitas relações de um parlamentar com um conhecido contraventor, logo se revelou um intrincado esquema de ‘toma-lá-dá’ de Cachoeira com inúmeros políticos da mais ampla gama partidária, tanto da oposição de direita quanto da base do governo.
Revelações posteriores incluíram no escândalo a empreiteira Delta Construções, envolvida em grande parte das obras do PAC, que teria seus negócios intermediados por Cachoeira e, em troca, ‘abastecia’ as empresas do bicheiro e as campanhas eleitorais dos políticos. Propinas e favorecimentos em licitações fariam parte do arsenal da quadrilha. Uma das escutas telefônicas do empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, mostra o empresário dizendo que 'se eu botar 30 milhões na mão de político, eu sou convidado pra coisa pra caralho'.
Um novo mensalão?
Apesar de a CPI estar sendo chamada de ‘CPI do Cachoeira’, os indícios dos escândalos vindos à tona nas últimas semanas mostram um caso bem mais grave que um senador comprado ou um bicheiro corruptor. O caso revela as relações espúrias entre as empresas privadas, o poder público e os políticos. Se há diferença com o mensalão no governo Lula, ela é de forma, não conteúdo. Ou de periodicidade nos pagamentos.
A construtora Delta, por exemplo, que vários parlamentares e o governo agem para que não conste nas investigações, se tornou uma potência na construção civil através de contratos com o Governo Federal. De acordo com levantamento da Folha de S. Paulo, entre 2003 e 2011, os recursos federais recebidos pela empresa cresceram mais de 2000%. Do Rio, a Delta irradiou-se para os 23 estados e o DF.
Suborno, fraudes em licitação, financiamento ilegal de campanhas. A lista de crimes a serem investigados é interminável. Na origem, a mesma história: uma empreiteira ou um bicheiro pagam a campanha nas eleições, e depois apresentam a fatura.
Tanto governo quanto a oposição de direita teriam muito a perder caso as investigações fossem até o fim. Por isso, cada um trabalha por seus objetivos específicos e todos pela impunidade. Mas imprevistos acontecem. Hoje, Cachoeira é um arquivo vivo. E essa CPI, o verdadeiro jogo de azar.
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