quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cai Palocci: primeira grande derrota do governo Dilma

Antônio Cruz/ABr
Ex-ministro não conseguiu explicar o inexplicável
A demissão de Palocci é uma expressão de uma mudança na conjuntura e a primeira grande derrota de Dilma. No início do ano havia uma combinação de alta popularidade, crescimento econômico e maioria absoluta no parlamento. O crescimento econômico segue existindo. Seguramente Dilma ainda tem popularidade elevada, mas a conjuntura mudou.

Por um lado, entre os trabalhadores, um mal estar vem crescendo. O crescimento econômico vem junto com a inflação e um ritmo infernal de trabalho nas empresas. A resultante é um surto de greves salariais no país. Não é um ascenso generalizado, mas envolve setores importantes dos trabalhadores. A mobilização dos bombeiros no Rio de Janeiro é uma de suas expressões mais radicalizadas.

Por outro lado, existe uma crise nas alturas, uma divisão interburguesa, que se manifestou na derrota do governo na votação do Código Florestal e na crise de Palocci. Foi essa combinação de lutas salariais e crises políticas que gerou uma nova conjuntura no país.


O “mistério” da multiplicação do dinheiro

Palocci ganhou R$ 20 milhões só em 2010. Muitas vezes uma cifra tão alta não pode ser dimensionada com clareza. Mas isso corresponde ao que um trabalhador que ganha salário mínimo levaria três mil anos para receber.

É evidente que a “empresa de consultoria” de Palocci é uma fachada para esconder o tráfico de influência para conseguir vantagens e informações privilegiadas para grandes empresas. Assim são obtidos empréstimos dos bancos estatais, vitórias em concorrências, favores fiscais, perdão nas dívidas, etc. Não é por acaso que Palocci multiplicou seu dinheiro quando foi um dos coordenadores da campanha presidencial de Dilma. Nem o governo, nem o PT, nem Palocci conseguem explicar a origem do dinheiro por um motivo simples. Essa é uma das formas mais descaradas de corrupção.

Palocci foi uma das figuras-chave do escândalo do mensalão. O governo Lula conseguiu abafá-lo, recompor sua popularidade e eleger Dilma. Mas isso não aconteceu com todos os envolvidos. José Dirceu, José Genoíno e Palocci, por exemplo, tiveram sua reputação manchada. Esses petistas, que poderiam ter sido candidatos à sucessão de Lula (bem antes de Dilma), terminaram queimados para concorrer a cargos majoritários. Palocci chegou a ser cogitado como candidato ao governo de São Paulo. Mas, depois de pesquisas, o próprio PT retirou seu nome.

Mas isso não impediu que mantivesse seu prestígio com Lula e quadros dirigentes do PT. Por isso, ele voltou como uma espécie de primeiro-ministro de Dilma, encarregado das relações com os partidos e da nomeação dos milhares de cargos no governo.

Nos primeiros meses, em que o governo surfava em condições quase ideais, Dilma simplesmente impunha suas posições por meio de Palocci. Isso ficou evidente na votação do salário mínimo, assim como na discussão sobre os cargos do governo. Essa prática gerou muita insatisfação nos partidos da própria base governista. Não é por acaso que Palocci, que atuava como um primeiro-ministro, virou o alvo da crise.


A oposição burguesa se “escandaliza”

O escândalo não é produto da corrupção. Esta é real e existe tanto com Palocci como no PMDB, PSDB, DEM e todos os outros partidos. O objetivo das denúncias é enfraquecer um pouco Dilma, para que governe como fazia Lula, em negociações diretas e explícitas de cargos e favores com os partidos.

A hipocrisia é parte da política burguesa. O DEM está atolado até hoje nos escândalos de corrupção do governo Arruda em Brasília. O PSDB está manchado não só pelas negociatas nas privatizações de FHC, mas pela atual corrupção em grande escala no Rodoanel de São Paulo. O PMDB do vice-presidente Temer é o partido de Sarney, Jader Barbalho e um longo etcétera. Todos estes partidos fazem exatamente o mesmo que Palocci. O que está acontecendo é só parte de uma disputa interburguesa, usando os meios de comunicação de massa e muita hipocrisia.

Essa crise nas alturas afeta Dilma, que não é como Lula. O ex-presidente tinha uma autoridade própria, que o livrava dos desgastes das crises políticas. Além disso, é um líder acostumado às negociações, terreno que não é o de Dilma. Lula teve de entrar em cena, costurando o acordo do recuo do governo em relação ao kit anti-homofobia, para evitar que a bancada evangélica convocasse Palocci para depor no Congresso. Agiu como ponto de apoio para Dilma, mas explicitou sua maior fragilidade.


Prisão e expropriação dos bens de Palocci e de todos os corruptos!

A demissão de Palocci deve terminar com essa crise política. Mas não vai acabar com o desgaste já existente. E muito menos com a desconfiança generalizada sobre a corrupção no governo. É preciso avançar com a prisão e a expropriação dos bens de Palocci e de todos os corruptos e corruptores.


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