Qual o significado da profunda crise em que se afundam o DEM e o PSDB?
A debandada de quadros históricos do DEM e do PSDB revela a profundidade da crise desatada nos dois principais partidos do que é reconhecido como “direita” no país.
Os tucanos acabaram de perder um de seus fundadores em seu bastião paulista, Walter Feldman, enquanto os demistas sofrem uma verdadeira transfusão de parlamentares para o recém-criado partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o PSD. Abandonam o barco nomes como o da latifundiária Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional de Agricultura.
Desmoralizadas, entregues a lutas fratricidas e já há oito anos alijadas do poder central, as duas siglas se encontram em adiantado processo de desagregação. E não é difícil entender a razão. Com o programa apropriado pelo PT e posto em prática com mais desenvoltura que eles próprios, os partidos de direita sofrem uma crise de identidade e, com aparato limitado para acomodar os interesses de todos os seus grupos internos, esfacelam-se em disputas fisiológicas.
O partido dos coroneis
Talvez não seja exagero dizer que o DEM, em situação mais delicada que o PSDB, caminha para a extinção. Isso não seria exatamente uma novidade considerando o histórico da sigla. Fundado em 2007 como uma tentativa fracassada de “modernizar” o PFL, o partido não conseguiu largar o ranço coronelista da antiga sigla. Ao fundar um partido para salvar sua carreira política, Kassab talvez inconscientemente refaça o percurso de seus antecessores há 25 anos.
Fundado em 1985 a partir de uma dissidência do PDS, o partido da ditadura e sucessor do Arena, o PFL se aglutinou em torno da candidatura de Tancredo Neves à eleição indireta para a presidência. Hoje, seus líderes tentam reescrever a história ao se colocarem como protagonistas da queda da ditadura. Sustentaram, porém, a ditadura militar até onde conseguiram. Ao perceberem o irreversível desgaste do regime militar, abandonaram o antigo partido, opuseram-se ao candidato do PDS, Paulo Maluf, e se empenharam numa transição segura com Tancredo.
Uma vez no governo, o PFL ganhou força se embrenhando e encastelando em feudos coronelistas, como o clã de Antônio Carlos Magalhães na Bahia, e o de Sarney no Maranhão. Após a era Sarney, tornou-se um satélite gravitando em torno do Governo Federal, sendo parceiros de primeira hora de Collor, Itamar, e, com FHC, selando uma estreita e duradoura aliança com os tucanos.
O partido do neoliberalismo
Já o PSDB surgiu em 1988 das entranhas do PMDB. Capitaneado por FHC, que até então cultivava uma certa de aura de esquerda, a promessa dos tucanos era de se converter no representante da social-democracia europeia no Brasil, apostando no desgaste dos velhos partidos. Mas, assim como a autodenominada Terceira Via de Blair na Inglaterra, uma vez no governo impôs um neoliberalismo selvagem que, aqui, significou uma abertura desenfreada, desregulamentação trabalhista e privatizações.
Colocando-se como fiel representante dos interesses do imperialismo em seu projeto de recolonização da América Latina, o governo FHC seguiu á risca a cartilha do FMI e do Banco Mundial. De um lado, juros estratosféricos ao capital internacional e arrocho fiscal para o pagamento da dívida pública e, de outro, uma política social “focalizada” (termo do próprio Banco Mundial) na forma de políticas compensatórias como o Bolsa Escola.
O continuísmo ‘lulopetista’
Na campanha eleitoral de 2002, a famigerada “Carta aos Brasileiros” já sinalizava ao mercado que o PT não alteraria a política econômica anterior. Mas ninguém poderia imaginar o empenho do governo Lula em impor, logo de cara, uma agenda neoliberal tão agressiva, como a reforma da Previdência no setor público em 2003.
No decorrer dos oito anos de governo Lula, os pilares da política econômica de FHC foram reforçados. Mecanismos como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o sistema de metas de inflação não só não eram mais criticados pelos petistas, mas agora reivindicados.
A conjuntura internacional de relativo crescimento econômico e a inserção do Brasil como grande exportador de produtos agrícolas e minérios garantiram uma situação fiscal confortável ao governo. Foram então incrementadas políticas sociais compensatórias, como o Bolsa Família. Por outro lado, a expansão do acesso ao crédito criou uma ilusão de ascensão social para parte significativa da população.
Se politicamente foi o mesmo, ao contrário de FHC, porém, Lula teve a façanha de terminar seu mandato com uma altíssima popularidade e aclamado pelo mercado financeiro e o Imperialismo. O “cara” para Obama. Claro que, para isso, se somou à conjuntura a figura carismática e o papel exercido por Lula como histórico dirigente operário, assim como a cooptação dos movimentos sociais ao governo.
A crise da direita
Sabemos que a burguesia não exerce diretamente o poder. Conta com um corpo burocrático especializado para isso: os políticos. Ao encabeçar um projeto neoliberal, garantindo ainda estabilidade social, o PT foi jogando os tradicionais representantes da burguesia, o PSDB e o DEM, para escanteio. Para que eu preciso de determinados funcionários, já queimados, se outros me entregam um resultado melhor?
A ausência de diferenciação de projetos políticos foi gritante nas últimas eleições. Ao não ter o que confrontar a então candidata Dilma Roussef, o PSDB se viu obrigado a partir para uma campanha obscurantista contra o aborto. Vale lembrar ainda que o PT arrecadou a maior parte do financiamento eleitoral de bancos e empreiteiras, fazendo com que os tucanos tivessem até dificuldades em pagar suas contas.
O aprofundamento da crise da direita hoje coincide com o governo Dilma aplicando o maior corte no Orçamento da história, de R$ 50 bilhões. O ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou à imprensa que o ajuste fiscal é a prioridade absoluta para o governo. Ou seja, sem qualquer possibilidade de diferenciação política, resta à direita a mera disputa pelo aparato que, sem o Governo Federal, torna-se limitado.
A direita morreu?
Com a concretização do “partido-ônibus” de Kassab, as siglas que se colocam como oposição de direita ao governo terão apenas 96 deputados na Câmara, o menor número em 16 anos. Proporcionalmente, será menor que a oposição venezuelana. Já se discute abertamente a incorporação do DEM ao PSDB como forma de salvar o combalido partido.
Cada tentativa de “refundação” ou modernização desses partidos é frustrada. O flagrante do senador Aécio Neves dirigindo embriagado pelas ruas do Rio torna-se, assim, um símbolo de uma oposição de direita perplexa e desnorteada. Seria, porém, no mínimo precipitado conferir o atestado de óbito a esses partidos.
É mais provável que, com um nome ou outro, esses setores permaneçam existindo em seu espaço, por hora reduzido. Para a burguesia, é uma importante carta na manga no caso de um desgaste que inviabilize a continuidade ou reedição de um governo de colaboração de classes.
Retirado do Site do PSTU
A debandada de quadros históricos do DEM e do PSDB revela a profundidade da crise desatada nos dois principais partidos do que é reconhecido como “direita” no país.
Os tucanos acabaram de perder um de seus fundadores em seu bastião paulista, Walter Feldman, enquanto os demistas sofrem uma verdadeira transfusão de parlamentares para o recém-criado partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o PSD. Abandonam o barco nomes como o da latifundiária Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional de Agricultura.
Desmoralizadas, entregues a lutas fratricidas e já há oito anos alijadas do poder central, as duas siglas se encontram em adiantado processo de desagregação. E não é difícil entender a razão. Com o programa apropriado pelo PT e posto em prática com mais desenvoltura que eles próprios, os partidos de direita sofrem uma crise de identidade e, com aparato limitado para acomodar os interesses de todos os seus grupos internos, esfacelam-se em disputas fisiológicas.
O partido dos coroneis
Talvez não seja exagero dizer que o DEM, em situação mais delicada que o PSDB, caminha para a extinção. Isso não seria exatamente uma novidade considerando o histórico da sigla. Fundado em 2007 como uma tentativa fracassada de “modernizar” o PFL, o partido não conseguiu largar o ranço coronelista da antiga sigla. Ao fundar um partido para salvar sua carreira política, Kassab talvez inconscientemente refaça o percurso de seus antecessores há 25 anos.
Fundado em 1985 a partir de uma dissidência do PDS, o partido da ditadura e sucessor do Arena, o PFL se aglutinou em torno da candidatura de Tancredo Neves à eleição indireta para a presidência. Hoje, seus líderes tentam reescrever a história ao se colocarem como protagonistas da queda da ditadura. Sustentaram, porém, a ditadura militar até onde conseguiram. Ao perceberem o irreversível desgaste do regime militar, abandonaram o antigo partido, opuseram-se ao candidato do PDS, Paulo Maluf, e se empenharam numa transição segura com Tancredo.
Uma vez no governo, o PFL ganhou força se embrenhando e encastelando em feudos coronelistas, como o clã de Antônio Carlos Magalhães na Bahia, e o de Sarney no Maranhão. Após a era Sarney, tornou-se um satélite gravitando em torno do Governo Federal, sendo parceiros de primeira hora de Collor, Itamar, e, com FHC, selando uma estreita e duradoura aliança com os tucanos.
O partido do neoliberalismo
Já o PSDB surgiu em 1988 das entranhas do PMDB. Capitaneado por FHC, que até então cultivava uma certa de aura de esquerda, a promessa dos tucanos era de se converter no representante da social-democracia europeia no Brasil, apostando no desgaste dos velhos partidos. Mas, assim como a autodenominada Terceira Via de Blair na Inglaterra, uma vez no governo impôs um neoliberalismo selvagem que, aqui, significou uma abertura desenfreada, desregulamentação trabalhista e privatizações.
Colocando-se como fiel representante dos interesses do imperialismo em seu projeto de recolonização da América Latina, o governo FHC seguiu á risca a cartilha do FMI e do Banco Mundial. De um lado, juros estratosféricos ao capital internacional e arrocho fiscal para o pagamento da dívida pública e, de outro, uma política social “focalizada” (termo do próprio Banco Mundial) na forma de políticas compensatórias como o Bolsa Escola.
O continuísmo ‘lulopetista’
Na campanha eleitoral de 2002, a famigerada “Carta aos Brasileiros” já sinalizava ao mercado que o PT não alteraria a política econômica anterior. Mas ninguém poderia imaginar o empenho do governo Lula em impor, logo de cara, uma agenda neoliberal tão agressiva, como a reforma da Previdência no setor público em 2003.
No decorrer dos oito anos de governo Lula, os pilares da política econômica de FHC foram reforçados. Mecanismos como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o sistema de metas de inflação não só não eram mais criticados pelos petistas, mas agora reivindicados.
A conjuntura internacional de relativo crescimento econômico e a inserção do Brasil como grande exportador de produtos agrícolas e minérios garantiram uma situação fiscal confortável ao governo. Foram então incrementadas políticas sociais compensatórias, como o Bolsa Família. Por outro lado, a expansão do acesso ao crédito criou uma ilusão de ascensão social para parte significativa da população.
Se politicamente foi o mesmo, ao contrário de FHC, porém, Lula teve a façanha de terminar seu mandato com uma altíssima popularidade e aclamado pelo mercado financeiro e o Imperialismo. O “cara” para Obama. Claro que, para isso, se somou à conjuntura a figura carismática e o papel exercido por Lula como histórico dirigente operário, assim como a cooptação dos movimentos sociais ao governo.
A crise da direita
Sabemos que a burguesia não exerce diretamente o poder. Conta com um corpo burocrático especializado para isso: os políticos. Ao encabeçar um projeto neoliberal, garantindo ainda estabilidade social, o PT foi jogando os tradicionais representantes da burguesia, o PSDB e o DEM, para escanteio. Para que eu preciso de determinados funcionários, já queimados, se outros me entregam um resultado melhor?
A ausência de diferenciação de projetos políticos foi gritante nas últimas eleições. Ao não ter o que confrontar a então candidata Dilma Roussef, o PSDB se viu obrigado a partir para uma campanha obscurantista contra o aborto. Vale lembrar ainda que o PT arrecadou a maior parte do financiamento eleitoral de bancos e empreiteiras, fazendo com que os tucanos tivessem até dificuldades em pagar suas contas.
O aprofundamento da crise da direita hoje coincide com o governo Dilma aplicando o maior corte no Orçamento da história, de R$ 50 bilhões. O ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou à imprensa que o ajuste fiscal é a prioridade absoluta para o governo. Ou seja, sem qualquer possibilidade de diferenciação política, resta à direita a mera disputa pelo aparato que, sem o Governo Federal, torna-se limitado.
A direita morreu?
Com a concretização do “partido-ônibus” de Kassab, as siglas que se colocam como oposição de direita ao governo terão apenas 96 deputados na Câmara, o menor número em 16 anos. Proporcionalmente, será menor que a oposição venezuelana. Já se discute abertamente a incorporação do DEM ao PSDB como forma de salvar o combalido partido.
Cada tentativa de “refundação” ou modernização desses partidos é frustrada. O flagrante do senador Aécio Neves dirigindo embriagado pelas ruas do Rio torna-se, assim, um símbolo de uma oposição de direita perplexa e desnorteada. Seria, porém, no mínimo precipitado conferir o atestado de óbito a esses partidos.
É mais provável que, com um nome ou outro, esses setores permaneçam existindo em seu espaço, por hora reduzido. Para a burguesia, é uma importante carta na manga no caso de um desgaste que inviabilize a continuidade ou reedição de um governo de colaboração de classes.
Retirado do Site do PSTU
Nenhum comentário:
Postar um comentário