Acabou-se a Copa do Mundo. Pelo menos para os brasileiros e argentinos, após a derrota de ambas as seleções diante da Holanda e Alemanha, respectivamente. Minha primeira análise destas derrotas esportivas será, precisamente, “esportiva”. Ou mais exatamente “psicológico-esportiva”.
Ainda que entrem vários outros fatores, acho que em ambas as derrotas há a responsabilidade dos dois técnicos. Dunga e Maradona são dentro do campo de futebol (e seguem sendo) dois técnicos, duas personalidades opostas. Inclusive parecem ser opostos em suas opiniões sobre temas políticos. Neste último sentido, é muito provável que Maradona seja visto com muito mais simpatia pelos ativistas de esquerda.
No entanto, apesar das diferenças, ambos têm uma característica comum: os dois são soberbos e personalistas ao extremo. E essa característica foi impressa em suas equipes, apesar de que isso (como não podia ser de outra maneira) tenha se expressado em erros bem diferentes entre as duas equipes.
Dunga atou a seleção brasileira a uma confusa “táctica de jogo”, e assim matou a criatividade natural do jogador brasileiro. Em um jogo que o Brasil estava ganhando, com uma equipe jogando muito melhor do que a Holanda, ao invés de pedir a seleção brasileira para continuar atacando, Dunga mandou jogar atrás, de contra-ataque, e assim permitiu a reação da equipe holandesa. Esclarecemos que a Holanda de hoje não é a “laranja mecânica” dos anos 1970. Parece mais com um “limão mecânico”, por seu escasso vôo futebolístico individual. Mas teve força e vontade suficiente para virar a partida.
Maradona, por sua vez, igual aos tempos em que era jogador, apostou todas suas fichas na criatividade individual dos jogadores, sem nenhuma consideração pela táctica nem a adaptação necessária diante de diferentes rivais. Contra a Alemanha, pretendeu jogar da mesma forma quando enfrentou a Coréia do Sul. Manteve uma defesa frouxa e deixou Mascherano sozinho no meio para marcar todos os alemães que passavam por aí, na velocidade de um Porsche. Uma tarefa que nem Patoruzú (1) poderia cumprir.
Poderá se alegar a favor de Dunga que seu ciclo, considerado globalmente, foi muito exitoso. Mas isso não impediu que perdesse uma partida fundamental diante de um rival um pouco mais que medíocre. E, o mais importante, a seleção nunca jogou do jeito que os brasileiros gostariam de vê-la. Poderá se alegar a favor de Maradona que sua aposta foi a favor de um futebol vistoso. Mas isso não impediu que a equipe argentina diante da Alemanha se assemelhasse à cavalaria polonesa enfrentando aos tanques alemães na Segunda Guerra (2).
Países exportadores de matérias primas
Minha segunda análise vai ser político-econômica. Na atual estrutura de nações, Brasil e Argentina são países semi-coloniais, cujo papel essencial na divisão internacional de trabalho é ser provedores de matérias primas para os países imperialistas. Este papel repete-se neste “show business” que representa o futebol mundial.
Nas praias e morros do Brasil, nos pampas e “potreros” (3) da Argentina formam-se muitos dos jogadores que, depois, vão brilhar nos torneios do imperialismo futebolístico dominante; isto é, o europeu. Os contratos e salários do campeonato espanhol, italiano, inglês ou alemão são muito superiores aos que se pode pagar por estas terras. Assim o destino inevitável de todo bom jogador sul-americano é emigrar para a Europa. Desta forma, a estrutura do futebol repete o mesmo “saque de recursos naturais” que se produz em outros ramos da economia.
A ilusão da “igualdade”
Mas a cada quatro anos a Copa do Mundo produz uma ilusão. Os países europeus nos “emprestam” esses jogadores para armar nossas equipes de futebol “nacionais” com possibilidades de vencer as seleções europeias. Até hoje, pelo menos metade das Copas disputadas foram ganhas por seleções sul-americanas. Assim, se alimenta a ilusão de “recuperar”, pelo menos no terreno do futebol, parte do que o imperialismo nos rouba quotidianamente.
Mas os dois últimos mundiais parecem querer acabar inclusive com esta ilusão. Muito se falou (apressadamente) de que este era o “mundial sul-americano”. Mas, nos três confrontos com equipes européias, os sul-americanos foram eliminados. Como diz a formosa canção de Vinicius de Moraes, “Tristeza não tem fim”.
Claro que o Uruguai ainda segue defendendo a “honra sul-americana”, e suspeito que a “celeste” tenha hoje a maior torcida virtual do planeta: mais de 500 milhões de latino-americanos clamando pela “vingança” frente aos europeus.
NOTAS
(1)Patoruzú foi um famoso personagem dos quadrinhos argentinos que representava um índio tehuelche de excepcional velocidade e força.
(2)Em 1939, o exército alemão invadiu a Polônia, com as armas mais modernas da época, entre eles os tanques Panzer. O exército polonês resistiu com meios muitos mais obsoletos como sua força de cavalaria e foi derrotado.
(3) “Potrero” significa literalmente “lugar onde pastam e descansam os potros”. Por extensão, é o lugar onde se jogam partidas de futebol improvisadas, como as “peladas” no Brasil
Retirado do Site do PSTU
Ainda que entrem vários outros fatores, acho que em ambas as derrotas há a responsabilidade dos dois técnicos. Dunga e Maradona são dentro do campo de futebol (e seguem sendo) dois técnicos, duas personalidades opostas. Inclusive parecem ser opostos em suas opiniões sobre temas políticos. Neste último sentido, é muito provável que Maradona seja visto com muito mais simpatia pelos ativistas de esquerda.
No entanto, apesar das diferenças, ambos têm uma característica comum: os dois são soberbos e personalistas ao extremo. E essa característica foi impressa em suas equipes, apesar de que isso (como não podia ser de outra maneira) tenha se expressado em erros bem diferentes entre as duas equipes.
Dunga atou a seleção brasileira a uma confusa “táctica de jogo”, e assim matou a criatividade natural do jogador brasileiro. Em um jogo que o Brasil estava ganhando, com uma equipe jogando muito melhor do que a Holanda, ao invés de pedir a seleção brasileira para continuar atacando, Dunga mandou jogar atrás, de contra-ataque, e assim permitiu a reação da equipe holandesa. Esclarecemos que a Holanda de hoje não é a “laranja mecânica” dos anos 1970. Parece mais com um “limão mecânico”, por seu escasso vôo futebolístico individual. Mas teve força e vontade suficiente para virar a partida.
Maradona, por sua vez, igual aos tempos em que era jogador, apostou todas suas fichas na criatividade individual dos jogadores, sem nenhuma consideração pela táctica nem a adaptação necessária diante de diferentes rivais. Contra a Alemanha, pretendeu jogar da mesma forma quando enfrentou a Coréia do Sul. Manteve uma defesa frouxa e deixou Mascherano sozinho no meio para marcar todos os alemães que passavam por aí, na velocidade de um Porsche. Uma tarefa que nem Patoruzú (1) poderia cumprir.
Poderá se alegar a favor de Dunga que seu ciclo, considerado globalmente, foi muito exitoso. Mas isso não impediu que perdesse uma partida fundamental diante de um rival um pouco mais que medíocre. E, o mais importante, a seleção nunca jogou do jeito que os brasileiros gostariam de vê-la. Poderá se alegar a favor de Maradona que sua aposta foi a favor de um futebol vistoso. Mas isso não impediu que a equipe argentina diante da Alemanha se assemelhasse à cavalaria polonesa enfrentando aos tanques alemães na Segunda Guerra (2).
Países exportadores de matérias primas
Minha segunda análise vai ser político-econômica. Na atual estrutura de nações, Brasil e Argentina são países semi-coloniais, cujo papel essencial na divisão internacional de trabalho é ser provedores de matérias primas para os países imperialistas. Este papel repete-se neste “show business” que representa o futebol mundial.
Nas praias e morros do Brasil, nos pampas e “potreros” (3) da Argentina formam-se muitos dos jogadores que, depois, vão brilhar nos torneios do imperialismo futebolístico dominante; isto é, o europeu. Os contratos e salários do campeonato espanhol, italiano, inglês ou alemão são muito superiores aos que se pode pagar por estas terras. Assim o destino inevitável de todo bom jogador sul-americano é emigrar para a Europa. Desta forma, a estrutura do futebol repete o mesmo “saque de recursos naturais” que se produz em outros ramos da economia.
A ilusão da “igualdade”
Mas a cada quatro anos a Copa do Mundo produz uma ilusão. Os países europeus nos “emprestam” esses jogadores para armar nossas equipes de futebol “nacionais” com possibilidades de vencer as seleções europeias. Até hoje, pelo menos metade das Copas disputadas foram ganhas por seleções sul-americanas. Assim, se alimenta a ilusão de “recuperar”, pelo menos no terreno do futebol, parte do que o imperialismo nos rouba quotidianamente.
Mas os dois últimos mundiais parecem querer acabar inclusive com esta ilusão. Muito se falou (apressadamente) de que este era o “mundial sul-americano”. Mas, nos três confrontos com equipes européias, os sul-americanos foram eliminados. Como diz a formosa canção de Vinicius de Moraes, “Tristeza não tem fim”.
Claro que o Uruguai ainda segue defendendo a “honra sul-americana”, e suspeito que a “celeste” tenha hoje a maior torcida virtual do planeta: mais de 500 milhões de latino-americanos clamando pela “vingança” frente aos europeus.
NOTAS
(1)Patoruzú foi um famoso personagem dos quadrinhos argentinos que representava um índio tehuelche de excepcional velocidade e força.
(2)Em 1939, o exército alemão invadiu a Polônia, com as armas mais modernas da época, entre eles os tanques Panzer. O exército polonês resistiu com meios muitos mais obsoletos como sua força de cavalaria e foi derrotado.
(3) “Potrero” significa literalmente “lugar onde pastam e descansam os potros”. Por extensão, é o lugar onde se jogam partidas de futebol improvisadas, como as “peladas” no Brasil
Retirado do Site do PSTU
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